segunda-feira, 8 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (251)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

251 - Azyllo Muito Louco (1969), de Nelson Pereira dos Santos ****

Mais de uma vez, Leila Diniz falou do barato doido que foi malocar em Paraty com Nelson Pereira dos Santos e sua equipe para realizar os filmes do diretor no final dos anos 1960 e início dos 70. Técnicos e atores aprontavam todas na famosa cidade histórica e Leila saudava a convivência com amigos como Bigode - Luiz Carlos Lacerda, Isabel Ribeiro, Ana Maria Magalhães, Arduíno Colassanti e Irene Stefãnia. Como se sabe, essa fase do cineasta ficou conhecida como Ciclo Paraty - Fome de Amor (1968), Azyllo Muito Louco (1969), Como Era Gostoso o Meu Francês (1970) e Quem é Beta? (1972). Todos esses filmes retrataram metaforicamente ou em forma de alegoria os anos terríveis da ditadura militar da época - Leila atuou nos dois primeiros. Em Azyllo Muito Louco, Nelson Pereira dos Santos visita pela primeira vez a obra de Machado de Assis - em 1982 dirige o curta A Missa do Galo. O GRANDE encontro entre o cineasta e a literatura se deu mesmo com os filmes sobre Graciliano Ramos - Vidas Secas (1963) e Memórias do Cárcere (1983) - mas com Machado o diretor se saiu muito melhor do que com Jorge Amado e Guimarães Rosa. Azyllo Muito Louco é uma adaptação livre do conto O Alienista, e Nelson usou toda a ironia machadiana para falar dos acontecimentos históricos da época e, por meio da alegoria, denunciar e burlar a censura. Na trama, Nildo Parente é padre Simão, misto de pastor de alma e médico de gente, como é apresentado pelo anunciador da Vila Serafim. Ele vem substiuir o padre anterior que fugiu roubando os santos e é recebido pela benfeitora Isabel Ribeiro e toda a corte. Só que Simão vai ficar muito mais interessado no lado médico e instaura a Casa Verde para agregar os loucos locais. Porém, a cada dia o número de internos aumenta, quase toda a população da vila se torna hóspede e cobaia de experiências comportamentais, e a Casa Verde se torna palco para golpes e contra-golpes políticos/comerciais. O filme impressiona de cara pelo visual tropicalista de cores vivas e berrantes, em que a fotografia do mestre Dib Lutfi e a cenografia e os figurinos de Luiz Carlos Ripper fazem casamento perfeito - ambos foram premiados no Festival de Brasília. Outro grande destaque é o elenco, pois o cineasta reuniu quatro musas amadas do Cinema Novo - Isabel, Leila, Ana e Irene - mais seu ator-fetiche da época Arduíno Colassanti. Isso sem falar em Nildo Parente, absolutamente impecável como o protagonista Simão. Azyllo Muito Louco é prova inconteste de que uma adaptação literária não precisa ser subserviente à matriz, e ainda que as alegorias podem ter resultado herméticas na época, o filme sobrevive em interesse passados 40 anos de seu lançamento - destaque ainda para a música de Guilherme Guimarães Vaz em ambiência apropriadíssima e desconcertante.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

3 comentários:

  1. Pek,

    Sempre quis ver este filme, mas nunca consegui. Lendo seu post, fiquei mais curioso ainda.

    Bjs

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  2. Noel,
    Não é para todo tipo de platéia, pois é bem alegórico.
    Mas gosto muito.
    Bjs

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  3. Fiz uma correção no texto:

    ... mas com Machado o diretor se saiu muito melhor do que com Jorge Amado e Guimarães Rosa (aqui, estava escrito erroneamente Graciliano Ramos).

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