sexta-feira, 1 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (229)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

229 - Selva Trágica (1964), de Roberto Farias *****

Como articulista político, Arnaldo Jabor é catastrófico - no pior sentido da palavra e no sentido literal da palavra. Ao contrário, como cineasta é dos melhores, com petardos e clássicos modernos como Toda Nudez Será Castigada (1972). Daí que sua volta ao set de cinema com A Suprema Felicidade (2010) foi e está sendo notícia do Oiapoque ao Chuí - e quem sabe não fica no cinema de vez e nos poupe de suas análises apocalipticas de araque... Não dá mesmo para acreditar porque cineastas talentosos abandonam o ofício, e quando se pensa nisso um nome vem imediatamente à tona: Roberto Farias. Diretor de filmes como Assalto ao Trem Pagador (1962) e Pra Frente Brasil (1982), Farias abandonou o cinema na década de 1980 e bandeou para a televisão - pelo menos o set, já que milita em outras áreas, como no Canal Brasil como um dos donos e também na presidência da Academia Brasileira de Cinema. E foi nos anos 60 que dirigiu esse imponente e cruel Selva Trágica. A trama se passa em fazenda de plantação de mate na fronteira com o Paraguai, onde os trabalhadores são tratados como escravos. Daí ou se submetem aos desmandos da companhia que explora a região ou se viram trabalhando clandestinamente naquelas terras. E é nessa condição de clandestinos que Reginaldo Faria, sua companheira Rejane Medeiros e seu amigo Joffre Soares são capturados pelo capataz Maurício do Valle e levados para a companhia, onde terão que pagar suas dívidas com muito trabalho e humilhação. Lá encontrarão ainda Aurélio Teixeira, que ficará obcecado por Rejane. Na história do cinema brasileiro são muito os filmes notáveis, e uma parte deles alçada à condição de obras-primas. Mas não é sempre que, além do filme, ficamos reféns de seus personagens, como é o caso dos que circulam nessa Selva Trágica. Como esquecer de Joffre Soares, quando corre em disparada e a gente corre junto como se assim pudéssemos ajudá-lo? Como esquecer de Maurício do Valle, um tipo de capitão do mato que em meio à bárbarie esquadrinha seus sentimentos como um personagem shakespereano? Como esquecer Aurélio Teixeira em sua dignidade ultrajada com a não consumação de seu desejo? E, sobretudo, como esquecer do Pablito de Reginaldo Faria e da Flora de Rejane Medeiros? Ele curtido e cortado no couro pela vida dura no mato, mas com o coração transbordando de amor; e ela se degladiando para fugir ao destino de gado anunciado para o abate. Pois todos eles se fazem carnes e visceras a nossa frente, obrigam-nos a não desviar os olhos de suas vidas miseráveis, e fazem morada para sempre na nossa alma, mesmo com o apagar das luzes. É filme para nos lembrar continuamente que existiram e ainda existem outros Brasis além do de nosso quintal e muito mais cruéis do que o alcance da nossa vâ filosofia. Baseado no romance homônimo de Hernani Donato e com roteiro também assinado por Roberto Farias, Selva Trágica tem fotografia gigante de José Rosa e trilha sonora de Luiz Bonfá. Prêmio Governador do Estado de São Paulo de Melhor Ator para Reginaldo Faria.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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