Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
289 - Corpo em Delito (1989), de Nuno César Abreu **
Os anos de chumbo da ditadura militar são o cenário desse Corpo em Delito, filme de estreia do paulista Nuno César Abreu em longa-metragem. Mas é bom dizer que o cenário aqui não é apenas como pano de fundo, mas como o próprio objeto da trama. Isso a partir da história de Lima Duarte, um médico legista a serviço do estado opressor. A função de Lima é fazer a autópsia em cadáveres de presos políticos barbaramente torturados e depois forjar laudos de morte natural ou por qualquer doença. Vez ou outra , inclusive, aplica injeção durante os intervalos de sessão de tortura para que a vítima não morra antes de abrir o bico. Em conversas com o militar manda-chuva da bárbarie Fernando Amaral ele até faz discurso contra a violência, mas cumpre seu dever sem pestanejar. Quando se aposenta, resolve cuidar das memórias do pai, um militar recém falecido, e, ao mesmo tempo, relaciona-se de forma diversa com três mulheres: a filha Dedina Bernadelli, militante política de quem se mantinha afastado; a namorada Regina Dourado, fogosa artista de boate; e Dira Paes, a misteriosa e solar vizinha de sua casa de praia. Corpo em Delito fala de um momento histórico terrível do Brasil de uma forma original ao fazer de um personagem que cumpre seu dever de forma criminosa, mas sem embates morais, o protagonista da cena. Mas ainda que o argumento seja bom - de Sérgio Villela, que assina o roteiro junto com Nuno - o filme resulta um tanto atravancado. Há, como em muitas produções sobre o período, uma certa deficiência nos diálogos, que em alguns momentos soam como discurso e tiram a naturalidade do dito - aqui, mais notadamente no personagem do militar. O caso entre Lima e Regina, a amante extrovertida e mística - chega a procurar candomblé para dar jeito na relação - também não funciona muito organicamente; em entrevista ao site Mulheres do Cinema Brasileiro, Regina disse que esse foi um filme difícil de fazer, pois teve que se expor muito. Os momentos com a filha são frágeis dramaturgicamente, já nas sequências em que ele observa o jovem casal de vizinhos, sobretudo Dira Paes - aqui em um de seus primeiros filmes e já arrebatando o olhar da câmera -, a ambiência se instala com mais naturalidade e seduz quem está do lado de cá. Só que isso é muito pouco para o fôlego pretendido da história, ainda que o Festival de Natal não tenha achado assim e contemplado Corpo em Delito com seis prêmios - Melhor Diretor pelo Júri da Crítica; Melhor Filme; Melhor Ator para Lima Duarte; Melhor Roteiro para Sergio Villela e Nuno César Abreu; e Revelação para Dedina Bernardelli.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
289 - Corpo em Delito (1989), de Nuno César Abreu **
Os anos de chumbo da ditadura militar são o cenário desse Corpo em Delito, filme de estreia do paulista Nuno César Abreu em longa-metragem. Mas é bom dizer que o cenário aqui não é apenas como pano de fundo, mas como o próprio objeto da trama. Isso a partir da história de Lima Duarte, um médico legista a serviço do estado opressor. A função de Lima é fazer a autópsia em cadáveres de presos políticos barbaramente torturados e depois forjar laudos de morte natural ou por qualquer doença. Vez ou outra , inclusive, aplica injeção durante os intervalos de sessão de tortura para que a vítima não morra antes de abrir o bico. Em conversas com o militar manda-chuva da bárbarie Fernando Amaral ele até faz discurso contra a violência, mas cumpre seu dever sem pestanejar. Quando se aposenta, resolve cuidar das memórias do pai, um militar recém falecido, e, ao mesmo tempo, relaciona-se de forma diversa com três mulheres: a filha Dedina Bernadelli, militante política de quem se mantinha afastado; a namorada Regina Dourado, fogosa artista de boate; e Dira Paes, a misteriosa e solar vizinha de sua casa de praia. Corpo em Delito fala de um momento histórico terrível do Brasil de uma forma original ao fazer de um personagem que cumpre seu dever de forma criminosa, mas sem embates morais, o protagonista da cena. Mas ainda que o argumento seja bom - de Sérgio Villela, que assina o roteiro junto com Nuno - o filme resulta um tanto atravancado. Há, como em muitas produções sobre o período, uma certa deficiência nos diálogos, que em alguns momentos soam como discurso e tiram a naturalidade do dito - aqui, mais notadamente no personagem do militar. O caso entre Lima e Regina, a amante extrovertida e mística - chega a procurar candomblé para dar jeito na relação - também não funciona muito organicamente; em entrevista ao site Mulheres do Cinema Brasileiro, Regina disse que esse foi um filme difícil de fazer, pois teve que se expor muito. Os momentos com a filha são frágeis dramaturgicamente, já nas sequências em que ele observa o jovem casal de vizinhos, sobretudo Dira Paes - aqui em um de seus primeiros filmes e já arrebatando o olhar da câmera -, a ambiência se instala com mais naturalidade e seduz quem está do lado de cá. Só que isso é muito pouco para o fôlego pretendido da história, ainda que o Festival de Natal não tenha achado assim e contemplado Corpo em Delito com seis prêmios - Melhor Diretor pelo Júri da Crítica; Melhor Filme; Melhor Ator para Lima Duarte; Melhor Roteiro para Sergio Villela e Nuno César Abreu; e Revelação para Dedina Bernardelli.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo