quinta-feira, 14 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (238)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

238 - O Flagrante (1975), de Reginaldo Faria ***

Ainda que fizesse alguma coisa pontualmente na TV, Reginaldo Faria era essencialmente um homem de cinema - seja como ator ou como diretor. Até que foi escalado para o sucesso colossal Dancin´Days, de Gilberto Braga, em 1978, e a partir daí as novelas passaram a ter uma importância de divulgação popular crescente em sua carreira - e é com Gilberto Braga que vai emplacar mais dois grandes momentos, o Nelson Fragonard de Água Viva (1980) e o Marco Aurélio de Vale Tudo (1988), aquele mesmo que deu banana histórica para o Brasil no final da trama. Se como cineasta, ele dirigiu filmes divertidos como Os Machões (1972) e dramas duríssimos como Barra Pesada (1977), abriu leque também para focar a vida de jovens casais de classe média em Aguenta Coração (1983) - sua última realização até agora - e nesse O Flagrante. Como nos outros filmes, aqui ele também atua, dessa vez integrando uma turma de amigos formada ainda por Claudio Marzo, Carlos Eduardo Dolabella, Antonio Pedro e Flávio São Thiago. Foliões incansáveis, eles deixam as mulheres em casa para se esbaldarem no carnaval de rua e de salão, tomam todas, e bolinam e papam as que dão mole. Mas uma dúvida perturbadora se instala em Faria, quando ele encontra uma caixa de fósforo de motel na bolsa da esposa Maria Cláudia, e daí pede ajuda aos amigos para descobrir a verdade, se ela o trai ou não. Em sua biografia na Coleção Aplauso - O Solo de um Inquieto, de Wagner de Assis - Reginaldo Faria diz que O Flagrante foi seu maior fracasso e acusa o machismo da época, que recusou o tema do filme - como encarar a traição de uma mulher. Há mesmo no roteiro de Faria e de Ronaldo G. M. Ribeiro um tratamento diverso para o assunto, que poderia cair de forma rala em simplismos e arroubos vingativos e viris. E a principal diferença se dá sobretudo na construção dos personagens, que em princípio obedece a cartilha usual: eles irmanados na camaradagem cúmplice, elas em aparente cara de paisagem para os desvarios dos conjuges. So que quando se olha mais de perto para todos eles, vê-se que nada é tão retilíneo uniforme assim. E Maria Claúdia, a possível esposa adúltera, empresta para a personagem uma máscara tão interiorizada, que de cara já desconfiamos que naquele estado de coisas o buraco está mesmo mais embaixo. O elenco está bem, mas os destaques todos vão para Maria Cláudia e para Antonio Pedro, hilário em sua persona carioca habitual, mas aqui em roupa que lhe cabe totalmente e na qual nada de braçada - seu personagem cantarolando canções passionais como Vingança, de Lupicínio Rodrigues, é divertidíssimo. Inacreditavelmente, o nome de Antonio Pedro não consta no cartaz, ainda que sua figura sim e ele seja um dos grandes atrativos do filme. O Flagrante conta ainda com participações especiais de Grande Otelo, Rodolfo Arena e José Lewgoy - todos em pequenas, mas ótimas aparições.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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