segunda-feira, 6 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (205)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

205 - Os Homens que Eu Tive (1973), de Tereza Trautman ***

Alguns filmes jamais podem deixar de serem conferidos sem perder de vista o contexto em que foram realizados. E aqui não vai nenhum demérito - como tolas discussões sobre obras datadas -muito pelo contrário, pois é ao fazer esse recorte histórico que se pode mirar melhor a importância deles. Como esse Os Homens que Eu Tive, que Tereza Trautman ousou realizar em época de ditadura brava, que não só decepava o conteúdo político ideológico contrário ao regime, como também o de costumes que desafiavam os canônes da tradição, família e propriedade. Pois o filme fala de uma mulher casada que troca de roupa, aliás, tira, para mudar de parceiros sexuais num piscar de olhos e ainda com o consentimento ou conhecimento do marido. Imagina! É claro que o filme foi censurado, pois quer prato mais petulante e indigesto? E a importância do filme não para por aí. O Cinema da Retomada tomou como símbolo Carla Camurati com seu Carlota Joaquina - Princesa do Brazil (1995), e a partir daí o número de mulheres cineastas só faz crescer, e não mais restritas aos curtas. Só que a realidade anterior era bem diversa, já que até a década de 1960, apenas seis mulheres dirigiram longas brasileiros - Cleo de Verberena, Carmen Santos, Gilda de Abreu, Carla Civeli, Maria Basaglia e Zélia Costa, mesmo assim Civelli e Basaglia sendo italianas radicadas no país. Só com as conquistas sociais, sexuais e o feminismo dos anos 60 e 70 é que o panorama possibilitou o surgimento de uma segunda fase de pioneiras - anos 70 e 80 -e da qual Tereza Trautman é uma das integrantes - Vanja Orico, Lenita Perroy, Ana Carolina, Tizuka Yamasaki, Suzana Amaral, Lúcia Murat, Tetê Moraes e Adélia Sampaio são algumas mulheres dessa fase pré-Retomada. Os Homens Que Eu Tive conta a história de Darlene Glória, uma mulher que tem um casamento liberal com Gracindo Junior - os dois têm relações extra-conjugais com consentimento mútuo. E é também em comum acordo que eles resolvem trazer para dentro de casa o amante dela, Gabriel Arcanjo, para dividirem o mesmo teto. Tudo segue normal, até Darlene se apaixonar por Arduíno Colasanti, amigo de seu marido, que não aceita o novo homem do pedaço. E além disso, ainda corre por fora mais um outro pretendente, o artista plástico Milton Moraes - como também o flerte lésbico com Ítala Nandi. O filme foi concebido para ser protagonizado por Leila Diniz, mas a atriz morreu tragicamente em acidente aéreo quando voltava da Austrália, onde foi divulgar Mãos Vazias (1971), de Luiz Carlos Lacerda. Daí Trautman fez acertos no roteiro - que ela também assinou, além do argumento, direção e montagem - e chamou Darlene Glória para o papel. Tanto Leila como Darlene foram sexy simbols incontestáveis da época, ainda que de temperamentos diferentes - Leila mais esfuziante, já Darlene mais dramática. Os Homens Que Eu Tive sustenta o interesse quase quatro décadas depois, ainda que há uma certa fragilidade na construção dos dramas da protagonista, e também nos personagens masculinos, todos eles sem muitos matizes. Destaque de ponta a ponta para a belíssima direção de fotografia de Alberto Salvá, também cineasta que sempre mirou sua lente para o universo feminino - sobretudo em Inquietações de Uma Mulher Casada (1978) - e que era casado com a diretora na época. Na trilha sonora, presença do conjunto O Bando, e de dois petardos da época do disco Transa, de Caetano Veloso - uma vinheta de Its a long way; e a pungente e particularíssima versão dele para Mora na Filosofia, clássico de Monsueto e Arnaldo Passos.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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