sábado, 13 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (63)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

063 - Barravento (1961), de Glauber Rocha ****

Em 2008, a Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto fez história ao homenagear e promover o encontro entre duas familias que se cruzam, de dois gênios do cinema, respectivamente, Novo e Marginal: Glauber Rocha e Rogério Sganzerla. E na mesma edição ainda compareceram personagens circundantes e de real importância, como no caso do primeiro o cineasta Luiz Paulino dos Santos - que teve documentário sobre sua obra exibido, O Estafeta, de André Sampaio. A ligação de Luiz Paulino e Glauber em Barravento acabou em desavença mergulhada em névoa durante muito tempo. Como se sabe, Paulino é que ia dirigir o filme, mas acabou sendo substituído por Rocha - que fazia parte da equipe - com o aval do produtor Rex Schindler. Na Mostra, como também no fillme de Sampaio, Paulino comentou sobre o episódio, e parece que as arestas foram finalmente sanadas. Barravento faz parte do Ciclo Baiano de Cinema, momento importantíssimo da história do cinema brasileiro capitaneado por Roberto Pires. Na trama, Firmino - Antonio Pitanga ainda assinando Sampaio - retorna ao Xeréu onde nasceu, depois de viver um tempo na capital, cheio de idéias conscientizadoras e entra em choque com o apego ao misticismo do Mestre - Lídio Silva, e Aruã - Aldo Bueno, líderes da comunidade. Para Firmino, a aldeia de pescadores ainda vive submissa como os antepassados escravos viviam por estar subjugada pelo candomblé e por não se insurgir contra o patrão que a explora, dono da única rede de pesca do lugar. Para tentar mudar a situação, Firmino exige a ajuda da bela Cota - Luiza Maranhão, para destruir a reputação de Aruã, o escolhido de Iemanjá, e com isso despertar a conciência dos moradores. Quando já nas primeiras cenas do filme a gente vê aqueles pescadores puxando o arrastão cheio de peixes ao mesmo tempo que se movimentam em passo de dança ao som dos atabaques, a gente logo pensa, será que era assim mesmo? Mas essa impressão imediata parte para longe assim que a história anda. O filme acusa o candomblé como agente alienante, mas ao mesmo tempo promove cenas de rituais com rigor e beleza estética estonteantes, configurando um paradoxo curioso. A ficha técnica tem um verdadeiro quem é quem do cinema baiano - Rex Schilder, Braga Neto, Roberto Pires, Alvaro Guimarães, e, claro, Glauber e Luiz Paulino. E tem também os paulistas Nelson Pereira dos Santos na edição e Tony Rabatoni na fotografia impactante. Filmado em Buraquinho, Barravento é o primeiro longa de Glauber e ainda faz bonito nos dias de hoje. Destaque total para a beleza altiva de Luiza Maranhão, atriz baiana que A Grande Feira, de Roberto Pires, e esse Barravento alçaram à estatura de musa. A cena em que ela dança um samba de roda e a de quando desesperada corre pela praia entre os coqueiros são momentos de real beleza e encantamento em registro para sempre na retina.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. Meu caro Adilson: curto esse filme, acho uma bela estreia do Glauber. Destaco a presença da bela Luiza Maranhão, que merece uma entrevista para o excelente Mulheres do Cinema Brasileiro. Mas gosto também do Efeito Ilha.

    Matheus Trunk
    www.violaosardinhaepao.blogspot.com

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  2. Matheus,
    Barravento é mesmo uma belíssima estreia em longas. Já do Efeito Ilha não gosto mesmo não. Mas gosto do Tapete Veremelho, do Gal.
    Um abraço, meu amigo

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