Direção: Penna Filho
O produtor, ator, roteirista e diretor paulista Ary
Fernandes parecia ter afeição pelo universo das forças armadas brasileiras, pelo menos por uma ideia de heroísmo que via em seus integrantes. Isso sem falar, claro, no apreço pela aventura, gênero importante habitado por heróis dos seriados da época que eram exibidos nas telas dos cinemas de rua. Na
década de 1960, criou o marco televisivo O vigilante rodoviário, série que fez
muito e merecido sucesso na época sobre a polícia rodoviária, revelou Carlos Miranda, o
Vigilante, e sobrevive até hoje em interesse fílmico. Depois, criou
ainda a série Águias de fogo, dessa vez sobre a força aérea. Por isso, nada
mais coerente do que produzir o longa Até o último mercenário em 1971, dirigido
por Penna Filho – com quem assina o roteiro – e protagonizado pelo mesmo Carlos
Miranda. Mas se em O vigilante rodoviário o interesse persiste até os dias
atuais é porque lá, além do pioneirismo histórico, havia um interesse em
desenvolver os personagens que cruzavam o caminho do herói em cada episódio, o que humanizava a narrativa. Já
aqui...
Em Até o último mercenário Carlos Miranda é o policial
destacado para descobrir, investigar e desbaratar uma quadrilha de
contrabandistas chefiada por Luciano Gregory e Marlene França – amada atriz e
musa que Ary descobriu ainda adolescente para o filme Rosa dos ventos (1957),
de Alex Viany, do qual era diretor de produção -, e mais alguns "habitués" do
gênero das produções da Boca do Lixo como Tony Cardi, Genésio de Carvalho e
Betinho. Há ainda a repórter que acompanha o caso enquanto suspira pelo
policial, estreia no cinema da bela Elaine Cristina; e seu irmão adolescente
aprendiz de detetive, Reginaldo Vieira, o Tuca da série televisiva. Mas não
pensem que o entrecho amoroso ou mesmo a prisão da quadrilha é que estão mais
valorizados na narrativa não - para se ter uma ideia, o policial segue os bandidos na espreita, mas de berrante camisa vermelha... O que a direção de Penna Filho estampa em holofotes garrafais é o
aparelhamento da polícia militar, com direito à cenas de treinamento/desfile de cães,
sala de instruções, exibição de maquinário e veículos de guerra, campanas, ataques
coreografados em grupos e etc. Isso tudo com direito a trilha sonora bélica, o
que, mais que constranger, deixa um gosto amargo já que aqueles – a época do
filme – eram os temidos anos de chumbo. Desconforto que aumenta ainda mais com
o texto de agradecimento final aos homens valorosos da polícia por manter a
Ordem e o Progresso do Brasil. Mesmo se dessemos desconto para isso tudo, ainda assim o filme realmente não decolaria, pois o gênero policial - bela página do cinema brasileiro - e mesmo a aventura estão aqui apresentados sem vigor e sem maiores elaborações. Ary Fernandes é um nome importante do cinema
popular, mas Até o último mercenário não é, nem de longe, um de seus melhores feitos.
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