Direção: John Doo
Berço por excelência do cinema popular, a Boca do Lixo
produziu muitos filmes de diferentes gêneros e subgêneros. Um deles foi as
famosas pornochanchadas. Só que pornochanchada é cinema popular, mas cinema popular
não é pornochanchada. É também - como se sabe pornochanchadas são aqueles
filmes em que tudo gira em torno de sexo gratuito sem acrescentar nada à
história, apenas pretexto para tirar a roupa das mulheres e mostrar peitinhos, coxas e bumbuns. Se a década de
1970 foi o período para a produção dessa enorme gama de filmes na Boca, quando entram
os anos 80 chegam os filmes pornôs. E aí, com o perdão do trocadilho infame, a
Boca cai de boca no filão, o que se torna um caminho sem volta. As musas em
quase sua totalidade abandonam o pedaço, e o mesmo vale para astros e alguns
cineastas. Outros diretores aderem ao novo estado de coisas assinando sob
pseudônimo ou não. O prazer do sexo (1982), de John Doo, se situa aí. Notável
diretor de filmes de horror, como o longa Ninfas diabólicas (1979), e o
episódio O gafanhoto (do longa Pornô, 1981), Doo também marcou presença como
ator em vários filmes – tem ótima atuação no clássico O pasteleiro (1981),
episódio dirigido por David Cardoso no longa Aqui, tarados!.
O prazer do sexo é mais uma parceria entre Ody Fraga e John
Doo, o primeiro no roteiro e o segundo na direção. Mas se a dobradinha
funcionou em outros momentos, aqui deu xabu, Mesmo porque o interesse maior dessa
vez é a junção da mais reles pornochanchada com os filmes de sexo explícito que
já batiam ponto na Boca. A estranha relação entre pai (Rubens Pignatari) e
filho (Carlos Milani), que só conseguem se divertir juntos em noites de sexo
com prostitutas, poderia até render caminho interessante vide a folha corrida
criativa da dobradinha Fraga/Doo se o modelo de produção fosse outro. E quando
na primeira cena ouvimos The winner takes it all do ABBA, e mais adiante One
day in your life com os Jackson 5, a gente até pensa que vem coisa boa. Mas não dessa vez, em que o fiapo de história –
os dois se apaixonam, o pai por Zaíra Bueno e o filho por Márcia Aoki, o que
desanda a velha parceria de farra – é recheado com cenas de sexo explícito que
nada tem a ver com a trama. Faz até pensar no famoso recurso de algumas produções
da Boca que enxertaram cenas explícitas em pornochanchadas depois de concluídas
no período para tentar faturar na bilheteria. Zaíra Bueno, sempre bela, assim
como em Coisas eróticas (1981) - o marco definidor do período pornô dirigido
por Raffaele Rossi - não participa das cenas explícitas. Sem saber para que
lado caminha, O prazer do sexo não vai para lugar nenhum, nem diverte como em
algumas pornochanchadas, nem excita. Ainda no elenco feminino, Ana Maria
Kreisler, como uma desinibida prostituta, e Áurea Campos como a governanta
Consuelo.
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