Direção: Manuel Peluffo
Assim como aconteceu no Rio de Janeiro com a Cinédia e a Atlântida,
São Paulo também investiu em estúdios de cinema na primeira década do século
passado. A ambição dos paulistas era grande, nada menos que a industrialização
do cinema brasileiro. O mais bem-sucedido foi a Vera Cruz, mas podemos citar
também a Maristela e a Multifilmes. Nas décadas
de 1950 e 60, a Maristela produziu cerca de uma dezena e meia de longas, e Meu
destino é pecar (1952) é um de seus títulos. Primeira adaptação cinematográfica
de Nelson Rodrigues, aqui sob o pseudônimo de Suzana Flag, o filme é dirigido
pelo uruguaio Manuel Peluffo. E se os outros estúdios tiveram suas musas, como Carmen
Miranda e Gilda de Abreu na Cinédia; Eliana Macedo e Adelaide Chiozzo na
Atlântida; e Eliane Lage e Tônia Carrero na Vera Cruz; a Maristela também teve
as suas, como Vera Nunes e Antonieta Morineau.
Em Meu destino é pecar, Antonieta Morineau é Leninha, bela
jovem obrigada pela madrasta a se casar com um homem que não ama, Paulo (Rubens
Queiróz), devido aos problemas financeiros de sua família – inclusive para
comprar uma perna mecânica para a irmã mais nova, Netinha (Nair Pimentel). Daí
vai para ele com sua fazenda, onde tem que enfrentar a memória
fantasmagórica de Guida, a primeira esposa, presença onipresente e sufocante na
casa e na família composta, dentre outros, pela obsessiva prima do marido Lídia
(Zilah Maria) e pelo irmão cafajeste e sedutor dele Maurício (Alexandre Carlos).
Depois desse Meu destino é pecar várias obras de Nelson Rodrigues chegaram ao
cinema, e pode-se, inclusive, notar nelas uma certa identidade estética na
forma de filmá-las e no estilo de interpretação de seus personagens. Aqui, a
condução é pesada, com certo ranço teatral, ainda que não descarte belos planos,
como a visita de Leninha ao mausoléu da família do marido debaixo de chuva
torrencial. Mas no geral Manuel Peluffo não consegue imprimir nem os elementos
de horror que impregnam a narrativa, e nem faz uma eficaz direção de atores. O
exemplo maior está na personagem Lídia, a mais fascinante da história, prima de
Paulo obcecada pelo fantasma de Guida, que tem na interpretação de Zilah Maria
um registro sem nuances – Esther Góes nadaria de braçada em interpretação
maravilhosa na minissérie homônima realizada pela Globo em 1984. Já Antonieta
Morineau está bem, e linda - pena que atuou só em mais um filme, o anterior Presença
de Anita (1951), de Ruggero Jacobbi, abandonando o cinema depois.
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