sábado, 4 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (203)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

203 - A Estrela Sobe (1974), de Bruno Barreto *****

Quando no início da década de 1990 Jane Fonda se casou com Ted Turner, ela tinha abandonado a carreira de atriz e vinha dos vídeos de grande sucesso sobre ginástica aeróbica e ele estava barbarizando com a fundação da CNN. Daí um jornalista escreveu que Ted Turner tinha um passado medíocre e um futuro brilhante, e que Jane Fonda tinha um passado brilhante e um futuro medíocre. Cortando 3/4 do veneno e relativizando as devidas proporções, é impossível não se lembrar do dito quando se põe na balança o Bruno Barreto do passado e o de hoje. É mesmo quase inacreditável que o diretor de filmes notáveis como Tati, a Garota (1973), A Estrela Sobe (1974), Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), Amor Bandido (1978), O Beijo no Asfalto (1980) e Romance da Empregada (1988) seja o mesmo de quase abacaxis como Bossa Nova (2000), O Casamento de Romeu e Julieta (2005), Caixa Dois (2007) e Última Parada: 174 (2008). Betty Faria já contou mais de uma vez, e inclusive para o site Mulheres do Cinema Brasileiro, que quando ficou desempregada com a proibição da peça Calabar, de Chico Buarque, pela censura, quem salvou a lavoura foi um quase menino que bateu à sua porta com uma pasta na mão e dizendo que a tinha visto nos ensaios e que só ela poderia fazer seu filme. Era ele, Bruno Barreto, e o filme esse A Estrela Sobe, adaptado do romance de Marques Rebelo. Se Bruno já tinha demonstrado sensibilidade na estreia com Tati, a Garota, que dirigiu com apenas 17 anos, nesse segundo trabalho, com 18, quase se pode ver um veterano com pleno domínio da cena. E nada bobo, o filho do clâ Barreto escolheu três deusas para protagonizarem seus primeiros rebentos: Dina Sfat em Tati, Betty Faria em A Estrela, e Sônia Braga em Dona Flor. A Estrela Sobe é construído como um longo flashback, em que a cantora de rádio Leniza Mayer vê como jurada de programa de auditório uma jovem caloura e daí relembra sua vida desde os primeiros passos para se tornar estrela. Já de cara vê-se que Betty Faria está ali para roubar a cena, pois convence tanto como a senhora cantora do júri quanto como a jovem caloura do palco - segundo registro no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antonio Leão, Betty não quis fazer a dublagem do filme depois de briga com o cineasta e foi dublada por Norma Blumm, que teria imitado a voz da atriz. Daí conhecemos sua história de moça ambiciosa do bairro Saúde onde vive com a mãe Vanda Lacerda em uma pensão mixa até o caminhar para o estrelato em que vai se utilizando de quem encontra pelo caminho e que possa ajudá-la a subir mais um degrau - para isso vale tanto trocar o namorado Paulo César Peréio e perder a virigindade com Carlos Eduardo Dolabella, o vendedor de aparelho de rádio; entabular amor lésbico com Odete Lara, em grande atuação como a veterana cantora Dulce Veiga; e ser amante de um dono de rede de sapataria. A Estrela Sobe tem ficha técnica preciosa, com roteiro de Carlos Diegues e Leopoldo Serran, fotografia de Murilo Salles, música de Francis Hime, e cenografia de Anísio Medeiros. Grande sucesso de público, o bom resultado na bilheteria foi apenas um afago diante do que viria a seguir com o sucesso faraônico de Dona Flor e Seus Dois Maridos, recorde de público de nossa cinematografia. Bons tempos esses de Bruno Barreto, que pelos filmes citados tem lugar de honra assegurado na história do cinema brasileiro, ainda que parte da crítica insista em não lhe dar o devido valor.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (202)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

202 - Fora das Grades (1971), de Astolfo Araújo *****

Ah, o cinema brasileiro dos anos 1970, sempre ele! Quanto a produção dessa década ainda tem para nos surpreender, heim? E se o gênero policial é capítulo honroso em nossa cinematografia, o que dizer de filmes absolutamente surpreendentes como esse Fora das Grades? Dirigido por Astolfo Araújo, cineasta nascido em Ribeirão Preto e com apenas seis filmes de ficção no curriculo, ele sempre andou em boa companhia - foi assistente de direção de A Hora e Vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos, fundou a Data Cinematográfica com Rubem Biáfora, roterizou Profissão: Mulher (1982), de Cláudio Cunha. Há, de ponta a ponta nesse filme, um tom trágico da condição humana também visto em outros títulos do cinema policial, como no ótimo Parceiros da Aventura (1980), de José Medeiros. E aqui, paira no ar muito do clima em que se vivia do lado de fora, não das grades, mas na vida real mesmo, onde a repressão rolava solta e sem freios. Ficamos ali acompanhando aqueles pobre-diabos - assaltantes, assassinos, cantoras decadentes - mas em momento algum os julgamos, tamanho o impacto que causa em nós. Não aquele tipo de impacto gradilonquente, mas subterrâneo, a correr por nossas veias. Na trama, Sérgio Hingst, o Profeta de um tipo de albergue para deliquentes, vê a cidade do alto e proclama para seus súditos que ela os vê como sombras, mas que é para jamais eles se esquecerem que são gente. Vez ou outra um daqueles marginais descem para o asfalto para pequenas trapaças ou mesmo assassinatos, mas acabam sempre voltando para aquele estranho lugar que, eles acreditam, os protege. Ainda que qualquer plano de governo anuncie que a passagem pela cadeia possa ser um processo de reintegração, poucos são os que ao sair cumprem o pífio discurso. Luigi Picchi cruza o portão depois de 10 anos trancafiado para descobrir que essa tal liberdade ansiada pode estar nos poucos metros quadrados do quarto barato de hotel em que dorme e come seu pão dormido, ou mesmo na promessa de amor com a cantora de inferninho chulapa Joana Fomm. Enquanto isso, faz um assalto aqui, tenta um roubo acolá, e ainda tenta fugir de um tipo policial que o quer como informante. Não há muita saída para o seu Tomás, e o porte viril de Picchi contrasta perfeitamente com esse estado frágil do seu personagem. Fora das Grades, que também tem argumento e roteiro de Araújo, tem vários momentos impactantes: Joana Fomm loira cantando na espelunca e sequestrando o olhar de Picchi; Liana Duval como outra cantora decadente dançando com Fomm e recebendo achaques de Roberto Maya; Francisco Cúrcio com sua dignidade ultrajada; o casal de amantes olhando pela janela em imagem que foi usada no cartaz. Joana Fomm, que era casada com o cinesta na época, está mais uma vez excepcional. Assim como Luigi Picchi, aqui em uma de suas maiores atuações no cinema. Fora das Grades recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de Atriz Coadjuvante para Liana Duval e de Argumento para Astolfo Araújo


Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (201)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

201 - A Serpente (1992), de Alberto Magno +

Billy Davis, Nelson Pereira dos Santos, J. B. Tanko, Flávio Tambellini, Leon Hirszman, Arnaldo Jabor, Neville D´Almeida, Braz Chediak, Bruno Barreto, Haroldo Marinho Barbosa. Esses foram alguns dos cineastas que adaptaram Nelson Rodrigues, com melhor ou menor brilho. Mas ainda que se possa encontrar um deslize aqui e acolá nos filmes desses moços, nada se compara a esse A Serpente, que Alberto Magno dirigiu e a Magnus Filmes de Jece Valadão produziu em 1992 . Segundo registro no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antonio Leão, o filme jamais foi lançado comercialmente nos cinemas, ainda que tenha competido no Festival de Brasília daquele ano. Na trama, Monique Lafond e Cristina Bério são as irmãs Lígia e Guida, que vivem no mesmo apartamento com seus maridos Marco Nanini e Jece Valadão, por exigência do presente do pai delas, Ary Fontoura. As duas irmãs têm sentimentos de amor, desejo e repulsa, e quando Monique conta para Cristina que seu casamento não foi consumado e que se devirginou com um lápis, a segunda oferece seu marido, Jece, para que a primeira possa descobrir o prazer com um homem em uma noite de sexo. A partir daí, nada será como antes na vida dos dois casais. O problema entre o balé clássico e o moderno, é que se o primeiro passa incólume pelo tempo, o segundo fica velho quase que imediatamente. Ainda que aqui temos a presença do genial Klauss Vianna na ficha técnica, a abertura dos bailarinos na mata densa que vai parir a serpente Zezé Motta já causa certo desconforto - mesmo que Motta esteja interessante na personificação com os contorcionismos sedutores. Mas o que complica de cara mesmo é a cenografia kitsh de Alberto Cruz, que coloca o signo da serpente de forma onipresente - os personagens estão emaranhados por eles, que viram casa, cama, luminárias e o cambau a quatro - e ainda com direito a uma inacreditável réplica do Cristo Redentor, onde Nanini e Motta se roçam e ele mija sacudindo o pinto. Nessa parte técnica o que salta aos olhos são os belos figurinos de Carlos Prieto, e, sobretudo, a maquiagem que dá um tom hiperrealista no que é mostrado. A estética adotada pelo filme não deixa espaço para o elenco, que também pena na mão da direção. Jece, Monique e Nanini, atores experientes - o primeiro, inclusive, no universo rodrigueano - têm algumas de suas piores atuações: Monique está linda mais inconvincente; Nanini com máscara andrógina só tem praticamente uma cena de destaque quando mostra o pau; e Jece faz cara de quem não está acreditando em nada daquilo e com aparente desconforto do tipo "o que estou fazendo aqui", ainda que a produção seja sua. Mas é Cristina Bério que se sai pior na pele da interessante personagem da irmã que morde e assopra. A Serpente só tem apenas uma hora e vinte de projeção, mas ao final se há algo que não conseguimos ver de jeito nenhum é um lastro sequer do universo sempre impactante de Nelson Rodrigues.

Foto: reprodução retirada do blog O Discreto Charme das Capas

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (144)


Janet Leigh.






Nu!!!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (200)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

200 - João - A Faca e o Rio (1972), de George Sluizer *****

Que nada! Esqueçam Zalman King, que veio rodar Orquídea Selvagem (1990) no Brasil e colocou os personagens passeando de táxi da Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, até o Pelourinho, na Bahia. Esqueçam também Fábio Barreto, que trouxe Natasha Henstridge para acariciar o peito enquanto um constrangido Eduardo Moscovis canta Villa-Lobos para a lua. Se é para ficarmos com olhar estrangeiro, seja de fora ou mesmo de dentro do Brasil, fiquemos com esse acachapante João - A Faca e o Rio, do cineasta francês radicado na Holanda George Sluizer - que depois filmaria O Silêncio do Lago (1993) nos EUA. Co-produção Brasil/Holanda, o filme é uma adaptação da novela do escritor e jornalista Odylo Costa Filho, que também assina o roteiro com Sluizer. Poucas vezes se viu um gringo filmar no Brasil, e contando uma história brasileira, com tanto domínio da cultura local. Ok, poderão dizer alguns que está tudo lá na novela e que além do mais o próprio Costa Filho marca presença no roteiro. Mas não se pode esquecer que cinema não é literatura, e que quando não reza a cartilha do varejão comercial, com certeza o olhar do autor fica imprimido. E como esse João está no último caso, é impressionante a atmosfera captada em cada fotograma do muito que somos e da cultura dos vaqueiros que vemos de ponta a ponta nesse magnífico filme. Na trama, Joffre Soares é o vaqueiro João, um homem que é capaz de salvar um garoto e adotá-lo e fazer e empinar pipa com o filho do patrão, mas também de matar à faca 53 onças. Na cultura local do grotão no Maranhão em que vive, o divertimento é pegar boi pelo rabo, dar pinote nele e morder seu rabo. E é numa dessas festas que Joffre bota olhos certeiros em Ana Maria Miranda e resolve se casar, ainda que ela tenha 20 anos e ele já passe dos 60. Mas como depois das bodas não consegue consumar o sexo com a moça, e ciumento até a medula, resolve ir para o Amazonas para enricar a fim de compensar a bela com ouro. Pensa em ficar por lá menos de um ano, mas fica quatro, e quando chega não gosta do que encontra. Basicamente centrado em Joffre e em Ana, o filme agrega no elenco desde poucos atores experientes, como Áurea Campos, até muitos anônimos com os quais o personagem vai encontrando pelo caminho, já que a as locações foram feitas no Maranhão, no Piauí, no Pará e no Amazonas. Tudo isso dá uma cor de verdade tão legítima, que vez ou outra chega-se a pensar se não é o Cinema Novo subindo o nordeste para arribar no norte. Como em Chuvas de Verão (1977), de Carlos Diegues, Joffre Soares tem aqui uma de suas mais impressionantes interpretações. Se no primeiro exala doçura angustiada, aqui encarna a face dura com a garganta esmagada pela flecha preta do ciúme - dentre tantas cenas impressionantes, a que chora em aboio em plena mata amazônica é sinônimo de muitos prêmios. Não à toa, ele foi Coruja de Ouro de Melhor Ator e foi premiado na mesma categoria no Festival de Cinema de Santos - o filme foi também Melhor Roteiro em Santos, e Menção Honrosa pela Academia Cinematográfica de Hollywood em 1973. Como contraponto, tem Ana Maria Miranda linda em seus 20 anos e perfeita como Maria - Miranda foi atriz atuante na década de 1970, mas abandonou a carreira e depois se tornou escritora consagrada. Os dois atores sequestram nosso olhar o tempo todo, e de determinado momento para frente uma revolta surda se instala e nos faz cúmplices de mãos atadas para o universo que se descortina à nossa frente. Trilha sonora de Villa-Lobos. Inesquecível!

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (75)


Sônia Braga.





Salve Salve!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (199)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

199 - Horas Fatais - Cabeças Trocadas (1986), de Francisco Cavalcanti **1/2

Quem botar olhos desavisados nesse Horas Fatais - Cabeças Trocadas, de Francisco Cavalcanti, pode achá-lo um tanto tosco: as locações são naturais e quilômetros de distância de qualquer cartão postal; fora José Mojica Marins não há nenhum ator conhecido do grande público; e as mulheres não são nenhuma Brastemp - Lilian Gonçalves é a única que pode ser reconhecida. Mas basta olhar um pouco mais para ver que há muito mais verdade nesse filme policial que em tantos outros realizado hoje com suas ruas azuladas e estética picotada em clip. De meados dos anos 1970 até a metade dos anos 1990, Charles Bronson barbarizou com sua franquia Desejo de Matar, em que a justiça era feita com as próprias mãos depois que sua mulher e filha eram violentadas por bandidos. Não era argumento original, já que desde o Velho Testamento que o brado "olho por olho dente por dente" já reinava, mas sagrou-se, definitivamente, ovo de colombo de sucesso mundial. Esse Horas Fatais - Cabeças Cortadas parte do mesmo princípio, só que sai o astro Bronson e entra o próprio Francisco Cavalcanti, ator, diretor, roteirista e produtor atuante da Boca do Lixo. Na trama, ele abandona o balcão do bar da praia - do qual era o dono, mas a polícia planta cocaína no local, o tortura barbaramente e ele tem que vender o ponto - depois que a mulher e a cunhada são violentadas e mortas. Os assassinos? Dois playboys da cidade, um deles filho de juiz e acobertado pelo violento e corrupto delegado José Mojica Marins. Como seu filho, ainda criança, viu os assassinos e passa a correr risco, com a ajuda de Turíbio Ruiz, policial aposentado que esconde o menino e ensina Cavalcanti o manejo de armas, ele parte em busca de vingança. No meio disso tudo há ainda um pistoleiro em seu encalço e Clery Cunha - co-diretor do filme - como apresentador de programa justiceiro sensacionalista nos moldes dos Ratinhos, Leões e Datenas da vida. Já na cena inicial, quando vemos aquelas mulheres sem beleza estética sendo estupradas e oferecendo aí o mote para a trama, já se percebe que estamos mesmo é na Boca do Lixo, onde, muitas vezes, a vontade e a capacidade de fazer cinema era muito maior e mais urgente que qualquer preocupação com perfumaria. As atrizes são mulheres como essas tantas que vemos em qualquer centrão de capital, beira de rodoviária ou mesmo nas periferias. E outras soluções encontradas durante o visto também reforça esse viés quase artesanal, mas como indústria pulsante como raras vezes o cinema brasileiro conseguiu ser - a arma lançadora de míssil e principal ferramenta do matador é outro elemento quase inacreditável. Horas Fatais - Cabeças Trocadas pode até ficar no rame-rame dos filmes justiceiros, mas é exemplo inequívoco de que houve um tempo em que o cinema popular o era de fato, sem que para isso se travestisse de prolongamento da estética de novelas consumida no dia-a-dia, atualmente não só na telinha, mas também frequentemente no escurinho do cinema.


Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (198)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

198 - Loucuras... (1979), de Carlos Imperial +

obs.: não consegui imagem do filme

A abertura já avisa que esse Loucuras... se trata de mais uma porralouquice de Carlos Imperial. E a graça que tenta fazer desde os créditos deve ter ficado em algum lugar desse roteiro que ele mesmo assinou, mas que em quase momento algum dá as caras no que se vê na tela. Aliás, o diretor gasta quase dez minutos apresentando os personagens do filme no início e agradecendo aos atores no final, e quando essa longa apresentação desfila pela tela já se instala incômodo sorrateiro e a gente cafifa cá com nossos botões: com tanta perda de tempo será que esse filme tem algo a dizer? Loucuras... poderia até ser formado por dois episódios separados, ainda que a espinha dorsal esteja lá, a funerária Kung Fu, onde os funcionários, na primeira parte, aprontam todas em uma noite depois que o expediente se encerra, e, na segunda, como empresa contratada para um funeral em que no velório aparece as mais estranhas figuras - Fernado Reski, com o mantra "eu não sou gay, eu não sou gay" está nos dois momentos. A primeira parte é dura de aguentar, ainda que esteja, de ponta a ponta e fazendo milagre e caras e bocas com o que tem, o talento de Hugo Bidet - para o qual o filme é dedicado postumamente por ser seu último trabalho no cinema. E tem duas deusas no elenco, Marta Moyano e Tânia Alves. A segunda metade tem um lastrozinho de interesse, pois o argumento é bom - também assinado por Imperial, além do roteiro - em que Wilza Carla é a viúva que assiste o velório do marido ser visitado por uma fauna estranhíssima, e que, de momento em momento, vai conferir com Colé quanto está a partida entre Flamengo e Botafogo. A cerimônia é em um clube, daí os personagens passam primeiro pela piscina cheia de banhistas anônimos antes de descerem escadaria quase de teatro de revista para chegar ao caixão. E aí desfilam desde vamps como Lady Francisco e uma Marivalda estonteante em plumas verdes, até comediantes como Tutuca e Ary Leite. Tem também aparição de Jô Soares como chefão mafioso chorando para morto errado, Clóvis Bornay vestido como se chegara direto de concurso de fantasia de escola de samba, e o próprio Imperial encarnando mais uma vez seu personagem Dr. Ferrão. O melhor fica com Sandra de Castro, a cunhada do morto que recebe a todos sempre às gargalhadas. Ainda assim, não dá para salvar a lavoura. Loucuras... é mais um filme que comprova que o talento que Imperial demonstrou na música, como ator - tem charme em cena - e como showman, ficou perdido quando se meteu a cineasta.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo