sábado, 3 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (75)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

075 - Coisa Mais Linda - História e Casos da Bossa Nova, de Paulo Thiago **

Paulo Thiago faz parte de uma lista de cineastas que muita gente adora odiar - Fábio Barreto e Daniel Filho são outros. E, geralmente, falta mesmo culhões em muitos de seus filmes, que quase sempre ficam no meio do caminho. Como esse Coisa Mais Linda, documentário sobre os 40 anos da Bossa Nova. Thiago escolheu Roberto Menescal e Carlos Lyra para serem os anfitriões da festa, e, para isso, criou um roteiro em que os dois contam essa história e esses casos como se estivessem conversando com o espectador. Ainda que os dois compositores, violonistas e cantores sejam autoridades no assunto, o expediente nem sempre funciona, sobretudo quando os dois estão juntos. Os diálogos ali soam um tanto forçados e a busca do coloquial revela-se artimanha manjada e que cansa quem está do lado de cá. Quando cada um vai para um canto, essa impressão incômoda se dissipa um pouco. A Bossa Nova, mais que qualquer outro momento musical do país, é tema batidíssimo - ainda que importantíssimo. Não se fala tanto em Era do Rádio, Jovem Guarda, Tropicalismo, BRock, e tantos outros momentos como ela. Ou melhor, não se fala dessas outras vertentes com tanto garbo como se fala de Bossa Nova. Ainda que ela abrigue gigantes como Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, e o próprio Lyra, ainda assim há um tom de reverência e endeusamento que compromete quase tudo que se fala sobre ela. Não o conteúdo, mas a forma como se fala do conteúdo. A forma como apresentam o objeto. E esse Coisa Mais Linda não foge disso. Daí acrescenta pouco, pois muitas das histórias que estão lá são de amplo conhecimento, a não ser uma informação ou outra. E o material de arquivo não é grande coisa e tampouco os números musicais - um aqui e outro acolá. Daí temos de novo Nelson Motta, Sérgio Cabral, Tárik de Souza e etc etc etc. A forma de falar seria mais interessante, mas aí seria esperar muito mesmo do cinema de Paulo Thiago, sempre com o pé mais fincado nas histórias do que em investimento em estética. Daí ficam de novo loas ao Barquinho e ao O Amor, o Sorriso e a Flor, que, cá para nós, são muitos mais bonitos na vitrola. É muita música para pouco cinema.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 2 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (74)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

074 - Borboletas e Devassas (2009), de Valter Noronha ***

Quando Boboletas e Devassas começa, a gente já vai logo ficando cismado, "mais um documentário calcado em depoimentos?". Mas a medida em que vamos ouvindo os testemunhos, compreendemos que é ao não se desviar das palavras e reflexões proferidos, a não ser por algumas inserções de cenas de filmes e que nem sempre são muito bem utilizadas, é que percebemos onde reside a força desse Borboletas e Devassas. E não são muito os que falam: os cineastas Carlos Reichenbach, Alfredo Sterheim e Virgilio Roveda; a atriz Débora Muniz; e os pesquisadores Andrea Ormond, Gio Mendes e Alberto Ismael. O filme é sobre a Boca do Lixo, momento único por suas peculiaridades de produção de cinema em solo paulista e que sacudiu o país. O documentário - grande mérito para essa produção independente dirigida por Valter Noronha - faz um mergulho abrangente, indo desde as primeiras produções, passando pela diversidade de gêneros, e com foco sobretudo nas pornochanchadas e no cinema pornô. Para quem acompanha os ditos de Carlão, Sternheim e Ormond sobre o tema pode perceber a coerência do olhar desses três personagens de ponta no universo do cinema popular - Carlão com seu discurso apaixonado, Alfredo com sua elegância habitual, e Andrea com a lucidez que rege seus escritos no indesviável blog Estranho Encontro. E tem também o tom de desabafo crítico de Roveda. Já Gio Mendes, do blog Mondo Cane, e Beto Ismael, do blog Pornochancheiro, fascinam pelo conhecimento orgânico - ainda que possamos não compartilhar de algumas reflexões, sobretudo de Ismael. Um fato importante é o destaque para a construção do pensamento cinematográfico na internet, não só pelos blogs citados, mas também os de agradecimento ao final, constatação clara de que que é aí onde o cinema popular vem sendo reavaliado como tem que ser. Agora se há um ponto que ilumina mais que tudo, ele está na presença altiva de Débora Muniz. Mulher essencialmente de cinema, com trajetória atrás e à frente das câmeras, Débora há muito é musa de quem conhece a produção Lado B da Boca, já que como atriz sua trajetória no período está mais associada à fase pornô. Ela sempre se destacou por uma entrega aos filmes, que ao assisti-los supunhamos, e que aqui deixa claro, ao fazer eco à distinção de Helena Ramos à Boca do Lixo como Boca dos Sonhos e seus significados afetivos. O testemunho de Débora Muniz quebra a espinha de qualquer julgamento apressado sobre o que se pode achar do que é uma atriz que tenha atuado no cinema pornô. É principalmente por seu depoimento que se amplia o que parece ser objetivo da produção e da direção: o de que a Boca é muito mais que um retrato na parede. E quando inrompem as impactantes e festivas cenas do documentário de Ozualdo Candeias com um verdadeiro quem é quem do pedaço, ao som de bela música Cidade das Noites com a cantora Anabela, a gente percebe o quanto amamos toda aquela gente e tudo o que fizeram pela identidade fílmica de um país. Com seus acertos, erros e imperfeições, a Boca do Lixo é um dos momentos mais fascinantes da história do cinema nacional. Fato que esse Borboletas e Devassas, também com seus acertos, erros e imperfeições, ajuda a desembaçar de névoa reducionista de décadas de preconceito e desinformação.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 1 de abril de 2010

tu é gay que eu sei


Afora as dores da adolescência, desde a fase adulta que aprendi que homossexualidade quer dizer apenas à definição de dicionário - atração por outro do mesmo sexo.

Daí que, desde então, jamais deixei me confundir e me confudirem com algo para além dessa compreensão.

Sei que existe toda uma cultura gay, e afinal somos mesmo quase só cultura, ainda que a natureza vez ou outra cobre seu preço - e estão aí Camile Paglia e os noticiários para não nos fazer esquecer.

E acho até divertido essa cultura gay, ainda que também veja mergulhos mais ou menos profundos nela pelos meus pares.

Reflito sobre isso porque só nessa semana tivemos quatro fatos consideráveis que envolvem a cultura gay.

O primeiro foi a vitória do Dourado no BBB. Mas como jamais vi um programa sequer, apenas um trecho - e fiquei espantado, sobretudo, com a canastrice de Pedro Bial, que todos colocam nas alturas - vou passar ao largo.

Falo de Dourado aqui é só por registro, já que ainda que não tenha a mínima paciência para o BBB, é impossível não saber sobre ele, vide a lavagem cerebral impetrada em cada canto em que nos locomovamos.

Pois o que me interessa mesmo são as afirmações de homossexualiade do cantor Rick Martin e de bissexualidade da atriz Anna Paquim, e a morte da chacrete Lucinha Apache, aos 59 anos.

Quanto a última, não só ela, mas todas as outras chacretes, o Chacrinha, seu jurado e seus calouros e artistas fizeram parte do imaginário de qualquer pessoa em formação na década de 1970.

E como as outras, Lucinha Apache é símbolo dessa divertida cultura gay.

Daí minha birra como as chacretes foram retratadas no documentário de Nelson Hoineff, para mim sem um pingo de olhar amoroso.

Mas, ainda bem, Hoineff resgatou essas mulheres-símbolos na bela série que está sendo exibida no Canal Brasil. E ali sim, elas têm o lugar que merecem.

Quanto a Martin e Paquim, acho bacana as afirmações públicas.

Ainda que não ache que os gays tenham que, necessariamente, tornarem públicas preferências, fico feliz quando assim o fazem, pois sempre acreditei em duas coisas:

1 - que está passando da hora das pessoas, gays e não gays, aprenderem que ser gay não modifica em nada uma pessoa. Não as tornam nem menos ou mais homem ou mulher - ainda que a cultura queira reforçar isso o tempo inteiro, como nas expressões "falou igual homem" - argh!

(vejo uma vantagem, que alguns acham exatamente a desvantagem, que é a do não risco de procriação em uma trepada gay, já que com os heteros, ainda que também haja todas as proteções. o risco sempre ocorre. Além de ser quase um dever esperado a procriação para homens e mulheres heteros)

2 - acredito piamente na ações afirmativas. E sei, sem modéstia, que sou referência positiva de homossexualidade para alguns tantos que cruzaram o meu caminho nesses 23 anos de prática sexual, seja nos diferentes trabalhos, escolas, transas, pegações, namoros, etc.

Ninguém precisa ser exemplo para ninguém.
Mas é bom haver referências.

Ainda mais nesses tempos atuais em que coletividade é quase objeto arqueológico.

longas brasileiros em 2010 (73)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

073 - A Penúltima Donzela (1969), de Fernando Amaral ****

Mais de uma vez o ator, cineasta e produtor Carlo Mossy homenageou Adriana Prieto como amiga-irmã e atriz ímpar. E ainda que ele tenha feito parcerias sensacionais como com Dilma Lóes em Essa Gostosa Brincandeira a Dois (1974) e com Alba Valéria em Giselle (1980), ambos de Victor di Mello, seus encontros na tela com Adriana tem química mesmo. Seja no antagonismo em Soninha Toda Pura (1971), de Aurélio Teixeira, ou como par romântico nesse bacanérrimo A Penúltima Donzela. Par romântico é força de expressão porque Adriana Prieto, essa deusa morta aos 25 anos em acidente de carro, virava de pé à cabeça o sentido primário de seus personagens, pois sempre injetou neles malícia, sarcasmo e sensualidade natural em medidas exatas. No filme, ela é uma garota virgem que encara os costumes de sua época com desdém e atrevimento na ponta da língua, sobretudo em diálogos deliciosos com o pai moralista e hipertenso Fregolente, que quer mandar tudo e todos para a Rússia. E se as garçonieres eram local proibido para moças de família, ela não só se oferece para conhecer a do namorado, como se adianta a ele no desfazer das roupas. E ultrajada em cena delicada em que vigia o namorado, a quem vira e mexe chama de machão e de alienado - como quando ele diz que detesta cinema nacional - ela logo troca o pão Mossy pelo charme maduro de Paulo Porto, confundido como seu pai pelos colegas de noitadas. E enquanto Adriana se deita ou chupa picolé com Porto ou Mossy, a família entra em pânico para resguardar a honra da donzela. Produzido por Paulo Porto e pela R. F. Farias, A Penúltima Donzela, como Os Paqueras (1969), de Reginaldo Faria, que é citado no filme, são títulos precursores das comédias e dramas eróticos que vão balançar o coreto do cinema nacional - e Adriana protagoniza duas pedras fundamentais do gênero, A Viúva Virgem (1972) e Ainda Agarro Esta Vizinha (1974), ambos de Pedro Carlos Róvai. O filme abusa um pouco no uso da trilha sonora de Egberto Gismonti em alguns momentos, mas tem trunfos irresistíveis como cena de rosto colado ao som de Insensatez. E tem também uma presença deliciosa de Djenane Machado, talvez a última donzela de um Rio de Janeiro ainda nostálgico de sonhos - e em despedida - já que os horrores da ditadura torturavam e matavam hordas em seus grotões. Delicioso filme do também ator Fernando Amaral, A Penúltima Donzela é filme solar em tempos sombrios.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes cineastas (32)


Walter Lima Jr.




Patrimônio nacional.

quarta-feira, 31 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (72)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

072 - Canta Maria (2006), de Francisco Ramalho Jr. +

Com muito esforço e possibilidades de acesso, é possível assistir um número expressivo de filmes brasileiros, mesmo porque nem foram tantos assim que sobreviveram - uns 5 mil?. Já quando o assunto é literatura aí o buraco em bem mais embaixo. Além da produção de livros ser na dimensão de coelhos, a literatura é uma das artes mais difíceis, pois demanda, antes de tudo, muito mais concentração e persistência. Daí que quando assistimos um filme baseado em livro que a gente leu, fazer comparação é injusto, mas é mesmo impossível não ficar lembrando da fonte. Agora quando não lemos o livro, só no resta especular o que há ali. Sim, porque nesse Canta Maria, se há boa história ela ficou, definitivamente, nas páginas de Os Desvalidos, do escritor Francisco J. C. Dantas. Pois nesse roteiro adaptado do livro, que também é assinado pelo produtor e diretor Francisco Ramalho Jr, é que não é. Vanessa Giácomo é Maria, orfã de família dizimada pela volante em ataque ao bando de Lampião e que vai parar na casa de Marco Ricca e de seu sobrinho Edward Boggiss, onde se casa com o primeiro e é desejada pelo segundo. Só que o ciúme de Ricca bota fogo em tudo e muda o destino dos três. Marco Ricca é um bom ator, mas aqui ele tenta encarnar um matuto ciumento que encobre sensibilidade com dureza. E capricha em sotaque que faz quem está do lado de cá ficar constrangido - sobretudo quando diz "Marí, Marí". Vanessa também não acerta o tom da moça do sertão com olhos para além dele, e o máximo que consegue insinuar esse estar a frente da cultura de seu povo é com uma risadinha chata e deslocada. Boggiss se sai melhor, ainda que não seja difícil se destacar em meio a tanto desajuste. Para completar, ainda tem José Wilker como Lampião fazendo aquela careta que parece não querer desgrudar de sua cara. A não ser, claro, quando ele quer mostrar do que é capaz, como no belo e trágico O Maior Amor do Mundo (2006), de Carlos Diegues - bom, mas isso já é outra história. Faltou dizer que tem música ruidosa e completamente deslocada, mas em tom condizente com a visão de videoclipe rasteiro do início do filme, em boca da boa Daniela Mercury. Inacreditável filme de um produtor e diretor experiente como Francisco Ramalho Jr.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 30 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (71)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

071 - Johnny Love (1987), de João Elias Jr. +

Na década de 1980, Mauricio Mattar surgiu em cena como um dos homens mais desejados do pedaço - não á toa conquistou o coração da paraíbana Elba Ramalho, e depois da paulista Angélica. E também por isso tem cena emblemática em O Cinema Falado (1986), dirigido por Caetano Veloso, quando a câmera passeia lentamente e em close por seu belo corpo em nu frontal dos pés à cabeça. Depois, rareou a carreira como ator, privilegiando a de cantor. Aqui nesse Johnny Love ele é o protagonista, mas já pelo cartaz, um mistura de John Travolta e Rambo, vemos a roubada que ele entrou. Isso porque ainda que estejamos nos anos 80, década de vários musicais no cinema brasileiro, nem todo mundo mesmo era um Lael Rodrigues ou o Antonio Calmon de Menino do Rio (1981). A trama é pífia, aliás como de praxe nesses filmes da época. Mattar é um fotógrafo siderado por Angela Figueiredo - sra. Titã Branco Mello - uma cantora de pop rock em crise com a dependência artística. Mattar a atropela e a leva para casa, fica sabendo de sua vontade de largar a gravadora, e com a ajuda do amigo Paulo Guarnieri, filho do mafioso Felipe Carone, protagoniza golpe para descolar a grana para bancar o show de libertação da moça. Com diálogos inacreditáveis - "vamos à praia amanhã?" - "será que vai fazer sol?" - "Se não fizer não tem problema, você ilumina por ele" - Johnny Love tem ainda a estética típica da época: muito neon, muita fumaça, muito filtro, luzes piscando, e meninos vestidos de camisão. Mas se esses símbolos datados costumam divertir, aqui nem isso faz, sobretudo pela músiquinha ordinária do Mutante Sérgio Dias. E daí a gente fica esperando até o final pelo menos a bela música homônima na voz da Virginia da banda Metrô, mas nem isso pinta por lá. Tem também o veterano Felipe Carone em citação canhestra do chefão de Marlon Brando, com direito a acordes italianos introdutórios a cada vez que aparece em cena. Ok, sabemos que tudo isso era para ser divertido, mas, infelizmente, tudo subiu no telhado.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 29 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (70)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

070 - Lance Maior (1968), de Sylvio Back ***1/2

É muito comum ouvirmos expressões como "elenco global" para falarem mal de algum filme e diminuir suas qualidades. Além de injusto, muita vezes é desconhecimento de causa, pois muitas vezes é na estética televisiva que está o calcanhar de aquiles, e não necessariamente sempre nesses atores. E se formos olhar a história do cinema brasileiro mais de perto, uma característica salta aos olhos: pelo menos no caso das atrizes, muitos medalhões desde a estréia da TV e que estão por aí até os dias de hoje estrelaram ou foram destaque em alguns dos nossos mais notáveis filmes, - alguns verdadeiras obras-primas - e dirigidas por GRANDES cineastas. Yoná Magalhães em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha; Glória Menezes em O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte; Eva Wilma em São Paulo S/A (1965), de Luiz Sérgio Person; Renata Sorrah em Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Julio Bressane; Dina Sfat em Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; Betty Faria em Bye Bye Brasil (1979), de Carlos Diegues. Ok, muitos podem dizer que é porque são ótimas atrizes - e são ótimas mesmo - mas ainda assim todas são identificadas no grande imaginário popular muito mais pela carreira em novelas, que no teatro e/ou no cinema - onde foram igualmente soberbas. Das 10 mais da TV, Regina Duarte não teve tanta sorte, não estrelou nenhuma obra-prima ou mesmo um grande filme. Mas fez bonito na estreia no cinema, pois foi também em estreia de um grande cineasta: Sylvio Back, em Lance Maior. Na época, Regina já era uma estrela da TV, pois já vinha de sucessos como A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro - não á toa, nos créditos do filme é apresentada como exclusiva da TV Excelsior. Só que ainda que mesmo na abertura há quase um clipe de vários momentos dela, que está loura como Cristina, basta que o filme comece e mostre a primeira cena de Irene Stefãnia sentada em um banco no parque para já sabermos quem a câmera ama de verdade, e quem também nos arrebatará. Na trama, Reginaldo Faria é um bancário dividido entre dois amores, a burguesa Regina Duarte e a comerciária Irene Stefânia. Enquanto tenta se casar com a primeira para ascender na vida e transar com a segunda por quem é fascinado, ele visita prostitututas ao mesmo tempo em que tenta curar uma DST. Lance Maior é um belo filme, sobretudo na fotografia do mestre Hélio Silva. Tem na produção o mago da Boca do Lixo Alfredo Palácios, além de futuras figuras notáveis como Sérgio Bianchi como assistente de direção. Com um quê da Nouvelle Vague de François Truffaut e do Godard dos primeiros tempos, Lance Maior tem recursos charmosos como legendas de fotonovela e diálogos pensados e ditos na mesma cena. O filme busca um retrato de uma geração e consegue fotografar esse estado principalmente pelo talento de seu elenco. Além do sempre ótimo Reginaldo Faria, tem em papel pequeno de coadjuvante, uma das atrizes mais saudosas do cinema brasileiro: a inesquecível Isabel Ribeiro. Uma curiosidade é Marília Pêra interpretando a canção-tema na abertura do filme.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (113)


Maruschka Detmers.




Nu!!!

domingo, 28 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (69)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

069 - Os Trombadinhas (1979), de Anselmo Duarte +

Quando o empresário Paulo Goulart e o juiz de menores Raul Cortez travam diálogo empolado sobre a situação dos meninos de rua em São Paulo a espinha gela, pois de cara vemos que sobram boas intenções e falta cinema. Impressão que, infelizmente, concretiza-se nas quase duas horas de filme. Nos anos 1970 e 80, ainda se chamava esse infratores juvenis de trombadinhas, mas com o encrudescimento da violência, passaram a ser denominados pivetes, ou mesmo pivetões. E aquelas tipicas trombadas em senhores e senhoras distraídos para, com o desequilíbrios desses, surrupiar-lhes bolsas e carteiras, hoje deu lugar à navalhas, cacos de vidros e outros materiais cortantes, quando não mesmo um três-oitão. O filme coloca em cena Pelé, Paulo Villaça e Paulo Goulart, os dois primeiros - preparador de futebol e policial - perseguindo trombadinhas pelas ruas e em busca dos mandões que os exploram; e o último como o empresário endinheirado que resolve ajudar na recuperação do menores. Idéia e história original de Pelé - que também assina e interpreta a canção-tema Moleque Danado - o filme tem colaboração de Carlos Heitor Cony no roteiro e nos diálogos. E é mesmo impressionante o tom péssimamente literário das falas dos personagens, que até para pedirem um copo d`água parecem estarem discrusando na cátedra. A idéia do filme é louvável, chamar atenção pelo cinema de um escândalo social que só fez piorar com o tempo e também alertar que uma possível solução não passa apenas por ações individuais. Só que como resultado cinematográfico é pífio, e nem de longe, esse que foi o último filme dirigido pelo GRANDE Anselmo Duarte, lembra momentos memoráveis do diretor como Absolutamente Certo (1957), O Pagador de Promessas (1962), Vereda da Salvação (1965), e O Descarte (1973). Esse Os Trombadinhas nos permite ver mais uma vez Edson Arantes do Nascimento fora do campo, já que praticou bastante a geografia do cinema. Mas se for por curiosidade ver o mestre fora de seu palco habitual, melhor por na vitrola o disquinho que ele gravou com a amiga Elis Regina, e ver dois mitos se divertindo com graça e auto-deboche. Já que aqui, nem a música, que também é dele, empolga.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo