sábado, 19 de junho de 2010

Começou a 5a Cineop








Rádio Cineop


Um estúdio de rádio foi montado no belo Cine Vila Rica para saudar a abertura oficial da 5a Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto.

O resultado? uma das mais belas e divertidas aberturas de todas as edições das mostras realizadas pela Universo Produção - Mostra de Tiradentes, Cineop, CineBH.

O locutor Almeida Neto - foto Netun Lima -comandou, do estúdio, todo o cerimonial, que cumpriu as funções de praxe - discurso de abertura pela Universo, apresentação de patrocinadores, parceiros e homenageados, e chamadas para os vídeos na tela.

E para isso contou com as presenças luxuosas e sapecas das cantoras Marina Machado e Celinha - foto de Netun Lima -, que entoaram Cantores do Rádio, o clássico de Lamartine Babo, e alegraram a platéia cantando/interpretando jingles que estão na memória de muito marmanjo, como o da Auris Sedina - "se a criança acordou, dorme dorme menina..."

Ao final de cada jingle, a platéia aplaudia com gosto e, provavelmente, fazia viagens de memória afetiva - eu embraquei.

Como todo programa de rádio, teve entrevistas na hora da homenagem para o Canal 100 - o mantenedor do canal, Alexandre Niemeyer; o ex-jogador do Atlético, Reinaldo; e o representante do ex-jogador do cruzeiro, Wilson Piazza. Esse último fez referência de que a platéia era formada de 80% de cruzeirenses, o que, lógico, desagradou os atleticanos e americanos presentes, que fizeram silêncio quase sepulcral.

A outra homenageada da noite, Alice Gonzaga pelos 80 anos da Cinédia, agradeceu a homenagem e disse que espera que sua filha dê continuidade aos trabalhos de restauração do acervo desse que foi o primeiro grande estudio de cinema brasileiro.

Por fim, o programa de rádio também recebeu uma cantora, Marina Bueno, que fez homenagem à Carmen Miranda - a apoteose final com chuva de papel prateado resultou em belo efeito.

Todas as palmas para essa abertura, que teve direção de Alexandre Pires Cavalcanti - o Xande.


Bonequinha de Seda


O filme de abertura, como não poderia deixar de ser, foi uma produção da Cinédia, em cópia restaurada.

Não sei dos outros, mas foi a primeira vez que assisti a esse filme dirigido por Oduvaldo Vianna e protagonizado pela atriz e cantora lírica - e depois cineasta - Gilda de Abreu.

Ainda que se alongue mais que o necessário, Bonequinha de Seda(1936) é bem bacana, em trama irônica e divertida sobre o jogo amoroso entre uma mulher pobre que se faz de rica e seduz um ricaço metido à besta.

O filme tem ainda a atriz-fetiche Déa Selva e a veterana Conchita de Moraes - em breve farei comentários sobre o filme.

Bonequinha de Seda abriu em grande estilo a série de clássicos em cópias restauradas da Cinédia.

Ainda serão exibidos Mulher (1931), de Octávio Gabus Mendes, Alô Alô, Carnaval (1936), de Adhemar Gonzaga, Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro, e Lábios Sem Beijos (1930), de Mauro.

Ou seja, oportunidade rara de assistir todos esses filmes em tela grande e paraíso para qualquer pesquisador e cinéfilo.


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A 5a Cineop só começou.
A programação é extensa, gratuita e vai até o dia 22 de junho.
Veja site da Cineop

sexta-feira, 18 de junho de 2010

80 anos da Cinédia na 5a Cineop


Alô Alô Carnaval! (1936), de Ademar Gonzaga.

Esse é um dos clássicos que terei/teremos a oportunidade de assistir em tela grande a partir de hoje, todos em cópias restauradas.

É que estarei em Ouro Preto mais uma vez para cobrir a 5a Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto, da Universo Produção, que começou seu clico de oficinas ontem mas que tem abertura oficial hoje à noite com a exibição de Bonequinha de Seda (1936), de Oduvaldo Viana.

Todos esses clásssicos - tem também Lábios Sem Beijos (1930), de Humberto Mauro, Mulher (1931), de Octávio Gabus Mendes, e Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro - serão exibidos no belo Cine Vila Rica e integram a homenagem que a Cineop vai fazer aos 80 anos da Cinédia.

A grande Alice Gonzaga, que está à frente da Cinédia e é filha de Adhemar Gonzaga, jornalista, produtor, cineasta e fundador do estúdio, estará presente para receber a homenagem.

(em 2008 fiz entrevista com Alice Gonzaga para o meu site Mulheres do Cinema Brasileiro - aqui)

A Cineop, que tem como foco a preservação e a memória do cinema brasileiro, entra também no clima de Copa do Mundo e homenageia o Cana 100, com exibições e atrações sobre futebol.

Até o dia 22 de junho, a 5a Cineop vai exibir 65 filmes - 15 longas, 7 médias e 43 curtas, além de promover mesas-redondas, debates, oficinas, shows, cortejo e também exposição, com toda a programação gratuita.

Tem também filmes inéditos no circuito comercial, como Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra, As Cartas Psicografadas de Chico Xavier, de Christiana Grumbach.

Fiz matéria no site Mulheres do Cinema Brasileiro registrando a quinta edição da Cineop e também a presença das mulheres na mostra.

Darei notícias por aqui no Insensatez e depois publicarei entrevistas no Mulheres do Cinema Brasileiro.

longas brasileiros em 2010 (142)


Longas brasileiros assistido ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

142 - O Bom Marido (1978), de Antonio Calmon ****

Antonio Calmon é mais um talento inexplicavelmente longe das telas. Diretor de filmes impactantes como Paranóia (1976) e Eu Matei Lúcio Flávio (1979), na década de 1980 ele arrebentou a boca do balão nas bilheterias com o juvenil e bacana Menino do Rio (1981), e se despediu das telas com a fraca continuação do sucesso anterior, o equivocado Garota Dourada (1983). Daí, depois de assinar alguns roteiros para outros cineastas - como Dedé Mamata (1987), de Rodolfo Brandão e voltar uma única vez ao cinema na adaptação de O Quatrilho (1995), de Fábio Barreto - foi definitivamente para a TV, onde atua como novelista e cujo maior sucesso até agora foi a divertida Vamp (1991/92). O cinema de Calmon faz muita falta, com sua câmera ousada, indecente e singularíssima, e personagens de carne, osso e suor. Como nesse divertido O Bom Marido, que os apressados lhe tascam o rótulo de pornochanchada e deixam por isso mesmo, como fizeram com os ótimos filmes do talentoso Pedro Carlos Rovai - A Viúva Virgem (1972), Ainda Agarro Essa Vizinha (1974) - que é o produtor e tem participação no roteiro desse filme de Calmon. Em O Bom Marido, Paulo César Peréio é um empresário que sempre está mal das pernas. Daí, para fechar seus negócios, que pode ser tanto a produção de penicos como vibradores, coloca a mulher Maria Lúcia Dahl à disposição de seus possíveis sócios. O primeiro candidato é um empresário alemão que vai participar de um banzé em sua casa de praia. Já o segundo, um japonês, terá a atenção disputada por outro casal que está de olho na butique do endinheirado, Nuno Leal Maia e Sandra Pêra. O Bom Marido poderia ser apenas mais uma comédia erotica divertida ou mesmo daquelas pornochanchadas apelativas se não fosse o talento arrebatador de Antonio Calmon. Senão, o que dizer de cenas perturbadoras como Maria Lucia Dahl em frente ao espelho sendo maquiada pelo filho ou ela e Peréio transando chafurdados na lama? E o uso magistral da trilha sonora, que já nos pega de imediato com a abertura ao som de Grace Jones em La vi em Rose, e mais Sidney Magal e outros? O Bom Marido é sinônimo ainda de elenco escolhido com total acerto - Peréio, Maria Lúcia, Nuno, Renato Coutinho, Helber Rangel, Flávio São Thiago, mais atuações geniais de Misaki Tanaka e Sandra Pêra. Aliás, Sandra Pêra e Maria Lucia Dahl dão show de química perfeita em cenas abusadas e engraçadíssimas. O Bom Marido é ótima diversão inteligente de um cineasta cuja filmografia muitas vezes vale mais que inúmeros estudos sociológicos.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 17 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (141)


Longas brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

141 - Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera (1966), de Roberto Farias ****

É realmente lamentável que um talento como Roberto Farias tenha abandonado o cinema, em trajetória notável que vai da década de 1950 a 80. E talento que ele demonstrou desde o tempo das chanchadas até filmes como Assalto ao Trem Pagador (1962), Selva Trágica (1964), a trilogia de Roberto Carlos (1968/70/71), e Pra Frente Brasil (1982). É da década de 60 esse delicioso Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera, que foi baseado em peça de sucesso de Glaucio Gil e com roteiro do próprio cineasta. No filme, John Herbert e Reginaldo Faria são dois fanfarrões típicos das praias cariocas a fim de papar todas. Isso aparentemente, pois Reginaldo tem pinta de conquistador mas não consegue avançar o sinal com as moças, já que sua criação o ensinou a respeitar donzelas. Já John é conhecido como libertino, tem muito orgulho disso, e arrepia só em ouvir a palavra casamento. Quanto Walter Forster invade o prédio dos moços para cobrar a honra da filha Vera Vianna, começa uma série de mal entendidos, situação que se complicará ainda mais com a aparição da vizinha atrapalhada Rosana Tapajós. Toda Donzela tem um frescor que jamais envelhece e desperta na gente de cara uma simpatia por aqueles personagens como se fossem velhos conhecidos de um tempo que não volta mais. Não o tempo da ditadura, pois essa se foi e, espera-se, para nunca mais voltar. Mas o tempo das revoluções comportamentais da década de 60, de uma ânsia misturada a uma certa ingenuidade de que afinal o mundo cabia na palma da mão e estava ali para ser descoberto. Daí nada melhor do que ser jovem para abraçar isso tudo, sem saber que dali a pouco o Brasil, que desde 64 já tinha descarrilado, viraria um inferno dois anos depois. E mais, que as conquistas sexuais enfrentariam apenas uma década e meia depois o furacão da AIDS, e daí não só Brasil mas o mundo jamais seria o mesmo. Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera está localizado em um momento de certo respiro entre tudo isso. E passado quase meio século de sua realização ainda pulsa com graça e encanto. Como esquecer Vera Vianna e a juventude petulante de sua Daisy? A bela Rosana Tapajós e sua engraçada e lesada Loló? Walter Forster e sua fleuma de pai inquisor de fachada? E os adoráveis Porfírio de John Herbert e Joãozinho de Reginal Faria? Considerado precursor das comédias eróticas ao lado de outros filmes deliciosos como Os Paqueras (1969), de Reginal Faria, Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera é momento luminoso nas comédias da década de 60 e na história do cinema popular brasileiro.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (62)


Maria Isabel de Lizandra.





Salve Salve!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (140)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

140 - Maré - Nossa História de Amor (2007), de Lucia Murat *1/2

Importante cineasta brasileira, Lucia Murat foi presa - por mais de três anos - e torturada durante a ditadura militar. Em seu melhor filme até hoje, Que Bom Te Ver Viva (1989), trouxe à tona a dor de mulheres que como ela sofreram tortura no mesmo período, em filme que mistura ficção e documentário. De lá para cá vem fazendo filmes sérios e sempre com forte carga política - Doces Poderes (1996), Brava Gente Brasileira (2000), Quase Dois Irmãos (2004). Em Maré - Nossa História de Amor ela trouxe a história central de Romeu e Julieta, de Shakespeare, para a favela carioca. Aqui, Vinicius D´Black é Jonathan/Romeu, e Cristina Lago é Analídia/Julieta, moradores da Maré e pertencentes de facções inimigas, já que o pai da moça comanda o tráfego de uma parte da favela da cadeia, e o irmão do moço comanda o tráfico in loco da outra parte. O único lugar em que os namorados encontram certa paz é na academia de dança contemporânea que fica no meio das duas forças e é comandada por Marisa Orth, a professora do asfalto que sobe o morro para tocar esse projeto social. Só que impedidos de viver o amor, eles farão de tudo, e com a ajuda da professora, para ficarem juntos. A forma como Lucia Murat, com roteiro dela e de Paulo Lins, encontrou para contar essa história foi realizando um musical como tantos outros, em que os personagens fazem piruetas pelas ruas e mandam mensagens pelas letras das músicas que cantam, mas com uma diferença crucial: toda a estética vem do morro em que vivem. Daí, há muito espaço para funk, rap, e noitadas em que sacolejam cachorras e marmanjos em meio a bandidos empunhando metralhadoras e fuzis. A trama, inclusive, é toda marcada por três cantores de rap que comentam os desdobramentos da história. O problema da dança contemporânea é que, quase sempre, ela fica velha rapidinho, daí muitas coreografias apresentadas vão perdendo força a cada revisão, ao contrário dos números de funk que continuam pulsantes. Os atores jovens do elenco seguram as pontas, mas quem quase rouba a cena é Anjo Lopes, como Anjo, um dos soldados do tráfego. Maré - Nossa História de Amor se assemelha a Antonia (2006), de Tata Amaral, pois ambos oferecem uma outra visão das favelas, principalmente ressaltando a riqueza musical dessa geografia conturbada e alvo de tantos preconceitos. Mas ainda assim, Lucia Murat não foi muito feliz nesse filme, que cai demais em revisão. Exibido em vários festivais mundo a fora, como Berlim, Cannes, Guadalajara, Toulouse, Shangai, Los Angeles e Oslo - Prêmio Especial do Júri de Melhor Ator no Festival do Rio 2007 para Babu Santana como o chefe do tráfico Dudu, Melhor Música no Festival de Havana, e Prêmio Especial do Júri na Bélgica.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes comediantes (30)


Wilza Carla.




Deuses do riso.

terça-feira, 15 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (139)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

139 - Modelo 19 - O Amanhã Será Melhor (1952), de Armando Couto ***

Todas as noites a novela das nove da Globo Passione mostra personagens que vivem na Itália e, sabe-se lá porque, comunicam-se numa língua que mistura italiano e português. Morassem na Mooca, em São Paulo, poderia fazer sentido. Mas lá... Melhor fez Armando Couto há muitas décadas com esse Modelo 19 em que um grupo de imigrantes europeus chega ao Brasil fugindo da Segunda Grande Guerra, com todos os integrantes, absolutamente todos, falando o português como se aqui tivessem nascido e sem sotaque algum - e olha que o grupo é formado por italiano, austríaco, francesa e polonês. Esse detalhe gera graça, pois os imigrantes se conheceram no navio e tornaram-se amigos inseparáveis no Brasil, onde moram juntos, procuram trabalho juntos e se divertem juntos. O que a gente fica pensando cá com nossos botões é como nasceu essa amizade se cada um fala uma língua? Licença poética, com certeza, e muito mais funcional para contar a história do que os contorcionismos linguísticos que os tais personagens da novela cometem todo dia. Primeira produção de Mário Civelli encampada pela Multifilmes, produtora paulista formada em 1952 e que seguia o rastro da Vera Cruz e da Maristela, mas com direção bem diversa: produzir filmes de baixo orçamento. Ainda que Civelli, que vinha da Maristela e era o produtor geral, nem sempre conseguiu cumprir à risca o tratado. O título Modelo 19 refere-se a como era conhecido o Registro Nacional de Estrangeiros, documento de identidade para imigrantes com residência temporária ou fixa no país. Foi o primeiro título do filme, porque depois foi relançado como O Amanhã Será Melhor e com o subtítulo de A Ponte da Esperança. Na trama, o italiano Luigi Picchi, o polonês Miro Cerni, o austríaco Jaime Barcellos, a francesa Ilka Soares - mais José Mauro de Vasconcelos, o marido pilantra - desembarcam no Brasil em busca de dias melhores. Aqui, encontram o típico brasileiro dos jeitinhos Waldemar Seyssel - (o Arrelia) - que vai, de certa forma, adotá-los. O que parecia ser em principio a terra prometida de oportunidades vai se revelando aos poucos como pátria-mãe difícil de ser conquistada e vai cobrar de cada um deles o seu quinhão de sacrifício. Com um pé no melodrama, Modelo 19 tem roteiro do GRANDE Millôr Fernandes, que assina com o curioso pseudônimo de Vão Gogo, cujo argumento foi baseado na novela Oggi Il Cielo é Azurro, de Ugo Chiarelli. Belamente fotografado por Jacques Deheinzelin, o filme poderia ser tranquilamente uma produção da Vera Cruz, pois tem apuro técnico e estética clássica como os daquele estúdio, além da história ser a cara da ficha técnica européia de imigrantes do mais importante estudio paulista da época. Detentor de prêmios importantes, como o Saci de Melhor Ator Secundário para José Mauro de Vasconcelos, e o Governador do Estado de São Paulo de Melhor Ator para Luigi Picchi, Modelo 19 fracassou nas bilheterias. Um dos destaques é Ilka Soares, ótima atriz e mais linda do que nunca como a francesa Helen por quem o italiano Giovani de Luigi Picchi cai de amores., e nós da platéia também.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (129)


Susan Sarandon.





Nu!!!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (138)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

138 - Cazuza - O Tempo Não Pára (2004), de Sandra Werneck e Walter Carvalho ***1/2

Biografias, ainda que seja auto ou cine, nunca querem dizer verdade absoluta, pois narração de fatos não radiografam substancialmente o personagem focado. E está aí a cinebiografia de Lula, Lula, O Filho do Brasil (2009 - Fábio Barreto), que ainda que seja rica em recriação de acontecimentos não nos deixa esquecer disso, pois mais nos distancia que aproxima da compreensão do líder político - mesmo sem levar em conta o mérito ou demérito do filme. Com esse Cazuza - O Tempo não Pára, ainda que em registro completamente diferente e com muito mais talento dos diretores Sandra Werneck e Walter Cavalho, é um pouco disso que acontece. Saímos do filme conhecendo um pouco mais sobre Cazuza? Talvez não, ainda que os realizadores sempre disseram que o objetivo maior do filme era apresentar a história do poeta do rock para as novas gerações. Bem produzido por dois bambas da área, Daniel Filho e Flávio Tambellini e com roteiro de Fernando Bonassi e Victor Navas, o filme tem argumento baseado em livro de Lucinha Araújo, mãe do roqueiro. Cazuza - O Tempo Não Pára conta a história do cantor e compositor desde a fase pré-Barão Vermelho, quando não sabia ainda muito bem o que fazer da vida, até a entrada na banda, mais o trabalho na Som Livre, dirigida pelo pai, João Araújo, e a convivência com Ezequiel Neves, o primeiro a detectar o talento da molecada e que viria a ser produtor dos shows do Barão e da carreira solo de Cazuza. Fala também da convivência com amigos como Bebel Gilberto em noites regadas a sexo, drogas e rock 'n' roll, e da relação com os pais, sobretudo da possessiva relação com Lucinha - em cena emblemática e reveladora um taxista tenta acalmá-la depois de mais uma aprontação de Cazuza dizendo que filhos são assim mesmo, que seus filhos somem mas depois aparecem, no que ela diz taxativa: mas eu sou só tenho ele. E por fim fala da descoberta da AIDS e da difícil convivência com o mal que lhe tiraria de cena em 1990 aos 32 anos e já consagrado como um dos maiores talentos de sua geração. Há lacunas incompreensíveis, como a ausência de alusão a Ney Matogrosso, um dos amantes amados de Cazuza, que ainda que tenha sido seu namorado durante pouco tempo, esteve presente na sua vida profissional desde o primeiro momento até o final - sua gravação de Pro Dia Nascer Feliz divulgou o Barão inicial para o Brasil inteiro, e foi o diretor do último show de Cazuza. E ainda que tenha cenas calientes de Cazuza com meninas e meninos, parece estar anos-luz da realidade - João Araújo chegou a dizer que nessa questão o Cazuza do filme parecia um santo em relação ao seu filho. Um dos destaques maiores é a interpretação de entrega absoluta de Daniel de Oliveira - curiosamente, o ator se especializaria em recriar no cinema pessoas reais, como o Stuart Angel, em Zuzu Angel (2006 - Sérgio Rezende), Santos Dumont no curta 14 Bis (2006 - André Ristum), Frei Beto em Batismo de Sangue (2006 - Helvécio Ratton). Cazuza - O Tempo Não Pára é filme que se assiste com prazer, e ainda que conte com bom elenco - Marieta Severo, Reginaldo Faria, Andréa Beltrão, Emilio de Melo, Leandra Leal - é na interpretação apaixonada de Daniel de Oliveira que se eleva.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (61)


Theresa Amayo.






Salve Salve!

domingo, 13 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (137)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

137 - Atabaque Nzinga (2006), de Octávio Bezerra ***1/2

É só na batida dos tambores que Taís Araújo - Ana encontra paz. Eu não sei quem eu sou nem quem serei, mas serei - diz repetidamente em frente ao espelho. E é na busca de sua identidade, que Taís vai ser guiada pela GRANDE Lea Garcia - Mãe de Santo e reencontrar a história de todo um povo. Enquanto ajuda Taís a assumir a importância de sua raça, Leá conta para a ela a história de Nzinga, Rainha e guerreira na Angola do Século 17. Essa trajetória vai ser pontuada por belas imagens do povo de Angola, grandes nomes da cultura afro-brasileira e orquestrada pelos sons em transe do mago Naná Vasconcelos. Atabaque Nzinga alia ficção e realidade com Taís Araújo vivendo uma jovem em crise de identidade que, guiada pelos búzios da mãe de santo, percorre as ruas da Bahia e do Rio de Janeiro - onde será acompanhada do GRANDE Paulão - convivendo com pessoas reais e encontrando músicos, grupos de dança e cantores, que vão da Velha Guarda a sambistas, blocos afros, grupos de dança folclórica, percussionistas e irmandades religiosas. Tais Araújo tem uma certa fragilidade natural que cai bem em sua personagem, ainda que nem sempre consegue passar uma entrega de verdade totalmente convicente, como no seu encontro com a GRANDE Carmen Costa. Aliás, a participação de Carmen Costa, grande dama da Era do Rádio, do samba, das marchinhas de carnaval e da canção, é um dos pontos altos do filme. Presente em algumas chanchadas, como Depois eu Conto (1956), de José Carlos Burle e Vou Te Contá (1958), de Alfredo Palácios, aqui é filmada em seu esplendor elegante aos 85/86 anos, interpretando dois de seus maiores sucessos, Quase, de Mirabeau e Jorge Gonçalves, e Obsessão, de Mirabeu e Milton de Oliveira - Carmen Costa morreria pouco tempo depois, aos 87 anos. Outra grande aparição é a de Lia de Itamaracá. E são muitos talentos da cultura afro-brasileira que Taís encontra nos quase 90 minutos de filme entre o Rio e a Bahia, como Paulo Moura, Nestor Capoeira, Mestre Leopoldina, Bloco Ilê Ayê, Banda Didá, Balé da Cultura Negra do Recife, Nelson Sargento. Atabaque Nzinga, que tem roteiro e co-produção da atriz e cineasta Rose Lacreta, música de Naná Vasconcelos - que está em cena - e bela fotografia de Hélio Silva e Guerrinha, é filme importante, pois faz retrato da cultura negra em sua ponte Brasil-África de forma singular e orgânica em seu formato ficcção/documentário. Bastante diferente dos filmes brasileiros realizados nesses anos 2000, Atabaque Nzinga merece ser mais conhecido.


Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes comediantes (29)



Orlando Drummond.




Deuses do riso.