sábado, 13 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (256)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

256 - A Mulher do Meu Amigo (2008), de Claudio Torres +

Quando a Conspiração Filmes surgiu na década de 1990, boa parte da crítica torceu o nariz para elementos da estética publicitária presente em seus filmes. Quase o mesmo que aconteceu com o surgimento da Globo Filmes, só que dessa vez com o abuso da estética televisiva nas suas grandes produções. A Mulher do Meu Amigo reúne as duas na mesma ficha técnica - não foi a primeira vez -, a primeira como produtora e a segunda no apoio promocional. O resultado? Certamente um dos piores filmes brasileiros da safra recente. Segunda incursão de Cláudio Torres na direção de longas - o primeiro foi Redentor (2004) e o terceiro A Mulher Invisível (2009) - A Mulher do Meu Amigo aposta na comédia, mas incorreu em pecado mortal: o elenco não é de comediantes. Claro que há atores que trafegam nas duas áreas, comédia e drama, mas esse não é o caso, definitivamente, de Marcos Palmeira, Maria Luisa Mendonça, Mariana Ximenes e Otávio Muller. Sim, porque graça no texto original deve até ter, pois é baseado em peça de Domingos Oliveira, Largando o Escritório. Mas se havia, tudo foi perdido no roteiro de Torres, e, mais ainda, na boca dos intérpretes. A Conspiração Filmes aposta, quase sempre, em elenco global, e aqui não foi diferente - nada contra isso também, mas escalação indevida pode matar uma produção. Na trama, o advogado Marcos Palmeira vai passar um final de semana em uma casa de campo com a esposa Mariana Ximenes e o casal de amigos Otávio Muller e Maria Luisa Mendonça. Em crise na vida e na profissão, resolve chutar o balde e não ir mais trabalhar. Sua atitude inesperada acaba afetando a vida de todos, inclusive resultando em um flerte seu com Mendonça. Claudio Torres disse que com esse A Mulher de Meu Amigo quis fazer, antes de tudo, um filme de entretenimento - já aí se desviando de um certo tom autoral em Redentor e talvez já se preparando para o grande sucesso do equivocado A Mulher Invisível. Só que o cineasta se esqueceu que entretenimento não precisa ser sinônimo de mau cinema. Bola foríssima.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (255)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

255 - A Suprema Felicidade (2010), de Arnaldo Jabor **

A Suprema Felicidade marca a volta do cineasta Arnaldo Jabor. Depois de realizar grandes retratos sobre a classe média, como Toda Nudez Será Castigada (1972) e Tudo Bem (1978), Jabor abandonou o cinema e retomou o jornalismo. Na imprensa é quase sempre amargo e apocaliptico, mas no filme o tom que imprime, ou pelo menos procura, é outro. O foco são as recordações de infância e juventude, ainda que não seja propriamente uma autobiografia. Na trama, uma família vive o cotidiano em uma Rio de Janeiro que não existe mais, já que no período retratado a cidade ainda era a capital do Brasil. Esse espírito de uma época é principalmente encarnado na figura de um avô, vivido por Marco Nanini, e sua relação com o neto Paulo , um jovem sensível marcado pela conturbada relação dos pais - Mariana Lima e Dan Stulbach - e a descoberta do amor e do sexo. Paulo é mostrado em três fases e interpretado por Caio Manhete - criança; Michel Joelsas - adolescente; Jayme Matarazzo - jovem. O roteiro de Jabor e de Amanda Rubinstein faz mosaico em que cabe vários personagens que passam pela vida do rapaz e pela tela, com certeza porque marcaram a vida dele, mas quase nunca marcam quem está do lado de cá. De todos eles, ficam na retina o tom doce de Emiliano Queiróz como o comprador de objetos usados, o padre gaiato de Ary Fontoura, e a prostituta navalhada de Majô de Castro. Mas tudo isso é muito pouco para um filme que ambiciona tanto, sobretudo na busca pela impressão de um tom de poesia que pouco funciona e que quase sempre nos expulsa daquele universo - a cena do carnaval na rua é constrangedora. Algo desandou nesse retorno de Jabor ao set de cinema. Os acontecimentos narrados não são especialmente sedutores e a direção não alcança grandes vôos. Muito se fala em um magistral Marco Nanini - o que ele realmente é -, mas aqui não é o caso, pois parece que ele saiu diretamente do set de Copacabana (2001), de Carla Camurati, para encarnar o avô idolatrado pelo neto. No elenco, os destaques vão mesmo é para Mariana Lima, atriz nem sempre festejada a não ser no meio teatral, mas que dá banho como a esposa esmagada pelo seu tempo; um surpreendente Jayme Matarazzo dando nuances para seu personagem; e Claudio Mendes como o amigo que descobre a homossexualidade. Arnaldo Jabor tem uma das filmografias mais interessantes do cinema brasileiro, mas A Suprema Felicidade é momento menor.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (156)


Lana Turner.





Nu!!!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (254)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

254 - O Forte (1973), de Olney São Paulo ***1/2

Além de alguns curtas, o cineasta baiano Olney São Paulo dirigiu apenas dois longas - O Grito da Terra (1964) e O Forte (1973). Esse último foi baseado no romance homônimo de Adonias Filho - escritor também baiano e como ele com fortes raízes da terra natal em sua obra. O filme coloca em cena personagens às voltas com o peso do passado, metaforicamente associado com o Forte de São Marcelo, em Salvador, de mais de 400 anos. Isso porque Adriano Lisboa retorna à cidade depois de muitos anos como engenheiro responsável pela implosão daquele que um dia protegeu a capital, mas que hoje é visto pelas autoridades e por parte da população como um trombolho que tem que desaparecer para dar lugar ao progresso - o governo quer fazer um aterro e construir um parque infantil em seu lugar. Na juventude, Lisboa foi apaixonado pela mulata Tibiti - vivida em três fases por Sandra Mara, adulta; Maridelma Teixeira, jovem; e Andréa Bulhões, criança - e agora de volta só pensa em reencontrá-la, ainda que seja casado com Susana Vieira, com quem tem uma filha. O Forte é um belo filme, injustamente pouco conhecido e reverenciado. Ainda que a trama apresente algumas deficiências, muitas cenas são absolutamente grandiosas como cinema, o que evidencia o talento do cineasta, que poderia ter filmado ainda muito mais se não tivesse morrido aos 41 anos de câncer. De cara já se gosta desde a abertura ao som de Its a long way, com Caetano Veloso, que também entoa pungente gravação de Mora na Filosofia, do genial Monsueto - em parceria com Arnaldo Passos. Monsueto atua no filme como o avô de Tibiti, que fica preso no forte depois de matar Paulo Villaça, o pai dela, um violinista francês - a mãe é a pianista Léa Garcia. O personagem dele, Olegário, tem grande importância no relato, pois representa a memória da construção edificada com o suor e o sangue de índios e negros, e que viu morrer muita gente em suas celas - o filme insere interessante sequência de "cinema-verdade" com enquete com o povo para saber quem é a favor ou contra a destruição do forte, e com isso fazendo radiografia da relação que os moradores têm com a preservação do patrimônio histórico. Para contar sua história - o roteiro é assinado por ele - Olney São Paulo teve fotografia inspirada de Julio Romiti e Marcos Bottino e bom elenco - entre as atrizes, uma belíssima Léa Garcia - que pouco depois viraria sensação nacional como a vilã Rosa na mítica novela Escrava Isaura (1976/77), de Gilberto Braga; Susana Vieira - aqui estreando no cinema, mas que focaria sua carreira especialmente na TV, portanto presença ocasional nas telas; e Sandra Mara e Maridelma Teixeira, que fariam poucos filmes depois. De quebra, ainda pode-se ver várias cenas em diversos pontos - como igrejas, Pelourinho, Elevador Lacerda, Baixa do Sapateiro - tudo sob a ótica de uma Salvador dos anos 70.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (253)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

253 - Olhar de um Cineasta (2007), de César Cavalcanti **1/2

Nascido em Santa Catarina e radicado no Rio de Janeiro a partir da metade da década de 1950, o cineasta Marcos Farias é dos nomes menos celebrados do Cinema Novo. E isso ainda que tenha papel fundamental no início do movimento, seja no CPC da UNE, onde ele e seus pares realizaram o longa Cinco Vezes Favela (1961), seja a frente da Saga Filmes, dele, Eduardo Coutinho e Leon Hirszman, produtora de obras fundamentais como Todas as Mulheres do Mundo (1966), de Domingos Oliveira, e São Bernardo (1971), de Hirszman - ainda no CPC, participou da primeira fase em 1964 de Cabra Marcado Para Morrer, de Coutinho. Olhar de Um Cineasta, de César Cavalcanti, tenta reavivar a memória desse diretor que, segundo Cacá Diegues, era um dos integrantes com mais bagagem intelectual da trupe, sobretudo na formação cinematográfica. Amor ao cinema e preocupações políticas moveram o diretor, que também presidiu a Cooperativa Brasileira de Cinema e tentou criar pólo cinematográfico no seu estado natal. O documentário usa do batido, mas praticamente indesviável, formato de agregar depoimentos e imagens de arquivo. E faz isso sem praticamente nenhuma estética cinematográfica mais elaborada, com depoentes falando do retratado para uma câmera fixa e em cenários destituídos de qualquer interesse cenográfico. São exibidas cenas de todos os longas do cineasta, A Vingança dos Doze (1969/70), A Cartomante (1974), Fogo Morto (1976) e Bububu no Bobobó (1978) - mais do episódio O Favelado, de Cinco Vezes Favela, e do curta Cruz e Souza Evocação. Cineastas como Coutinho, Diegues e Nelson Pereira dos Santos, mais atores de seus filmes como Flávio Migliaccio - Um Favelado; Angela Leal - Fogo Morto e Bububú no Bobobó; e Othon Bastos - Fogo Morto, dão depoimentos. Mas nessa seleção um dos bons momentos é ver e ouvir o injustamente subestimado Alberto Salvá - diretor dos belos Um Homem Sem Importância (1971) e Inquietações de Uma Mulher Casada (1978) - que lamenta a falta do amigo e diz que sente saudades dele permanentemente. Outros destaques do filme são aparição de Leon Hirszman ao lado de Farias e a leitura de carta de Glauber Rocha, que critica seus pares e salva a pele apenas de Leon. Fica muito claro que a intenção de César Cavalcanti foi mesmo lançar luzes sobre Marcos Farias e sua trajetória, argumento mais que válido. Mas seria melhor ainda se além disso viesse junto um pouco mais de ambição cinematográfica na feitura do importante documentário.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (87)


Vic Militello.




Salve Salve!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (252)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

252 - A Moreninha (1970), de Glauco Mirko Laurelli **1/2

Romance de estreia de Joaquim Manuel de Macedo, A Moreninha foi lançado em 1844 e alcançou, de cara, sucesso absoluto de público. E público parece ser mesmo um elemento fiel para essa obra-marco do Romantismo brasileiro, pois além do êxito de suas reedições ao longo de décadas, foi consagrada também nos palcos, na TV e no cinema. Marília Pêra e Perry Salles no teatro, Nívea Maria e Mário Cardoso na novela, e Sonia Braga e David Cardoso nas telas foram o casal de pombinhos que descobre o amor na infância em Paquetá e depois se reencontram, já adultos, sem saber suas identidades de origem. Dirigido pelo veterano Glauco Mirko Laurelli, talentoso parceiro de Mazzaropi, A Moreninha é um musical que tem também o roteiro e a montagem assinados por ele. Com exceção das produções da Cinédia e da Atlântida, os musicais não prosseguiram a tradição em nossas telas, algo absolutamente incompreensível pelo tamanho e o poder que a música tem na nossa cultura. Órfão dos lançamentos contínuos dos musicais e das chanchadas da década de 1930 a 60, o público correu em peso para conferir A Moreninha, fazendo dele um grande sucesso na nascente década de 70. Na trama, os amigos David Cardoso, Nilson Condé, Roberto Orosco e Carlos Alberto Ricelli fazem aposta, segundo a qual o primeiro, eterno conquistador, não conseguiria ficar quinze dias sem se apaixonar por uma das beldades de Paquetá, onde iriam para a Festa de Santana - "Paquetá, Paquetá..." saúda a ilha a inesquecível musiquinha-tema. E é lá que todos eles vão cair de amores, inclusive o garanhão David que fica seduzido pela voluntariosa Sonia Braga, a Moreninha do título. O romance de Joquim Manuel de Macedo fez muito sucesso, pois o autor sabia retratar em prosa simples os costumes da época. O filme acentua em ligeireza e aposta em igenuidade que não sobrevive impunemente aos dias de hoje - mesmo levando em conta o olhar romântico original para trama que se desenrola em 1840. Os escravos quase roubam a cena - Carlos Alberto, Gésio Amadeu e Vera Manhães, belíssima atriz e mãe de Camila Pitanga. Há sobre eles o mesmo tom pueril, principalmente sobre suas condições, ainda que uma boa dose de malandragem os salvem de tolo reducionismo cor-de-rosa. Sonia Braga, sucesso na época com peça Hair, em direção histórica de Ademar Guerra, tem aqui sua primeira protagonista aos 20 anos; já David Cardoso sedimenta sua aura de galã. No elenco coadjuvante quem brilha de ponta a ponta, e quase ofusca todo o elenco, é Lúcia Mello, impagável como a fogosa viúva Violante.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (251)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

251 - Azyllo Muito Louco (1969), de Nelson Pereira dos Santos ****

Mais de uma vez, Leila Diniz falou do barato doido que foi malocar em Paraty com Nelson Pereira dos Santos e sua equipe para realizar os filmes do diretor no final dos anos 1960 e início dos 70. Técnicos e atores aprontavam todas na famosa cidade histórica e Leila saudava a convivência com amigos como Bigode - Luiz Carlos Lacerda, Isabel Ribeiro, Ana Maria Magalhães, Arduíno Colassanti e Irene Stefãnia. Como se sabe, essa fase do cineasta ficou conhecida como Ciclo Paraty - Fome de Amor (1968), Azyllo Muito Louco (1969), Como Era Gostoso o Meu Francês (1970) e Quem é Beta? (1972). Todos esses filmes retrataram metaforicamente ou em forma de alegoria os anos terríveis da ditadura militar da época - Leila atuou nos dois primeiros. Em Azyllo Muito Louco, Nelson Pereira dos Santos visita pela primeira vez a obra de Machado de Assis - em 1982 dirige o curta A Missa do Galo. O GRANDE encontro entre o cineasta e a literatura se deu mesmo com os filmes sobre Graciliano Ramos - Vidas Secas (1963) e Memórias do Cárcere (1983) - mas com Machado o diretor se saiu muito melhor do que com Jorge Amado e Guimarães Rosa. Azyllo Muito Louco é uma adaptação livre do conto O Alienista, e Nelson usou toda a ironia machadiana para falar dos acontecimentos históricos da época e, por meio da alegoria, denunciar e burlar a censura. Na trama, Nildo Parente é padre Simão, misto de pastor de alma e médico de gente, como é apresentado pelo anunciador da Vila Serafim. Ele vem substiuir o padre anterior que fugiu roubando os santos e é recebido pela benfeitora Isabel Ribeiro e toda a corte. Só que Simão vai ficar muito mais interessado no lado médico e instaura a Casa Verde para agregar os loucos locais. Porém, a cada dia o número de internos aumenta, quase toda a população da vila se torna hóspede e cobaia de experiências comportamentais, e a Casa Verde se torna palco para golpes e contra-golpes políticos/comerciais. O filme impressiona de cara pelo visual tropicalista de cores vivas e berrantes, em que a fotografia do mestre Dib Lutfi e a cenografia e os figurinos de Luiz Carlos Ripper fazem casamento perfeito - ambos foram premiados no Festival de Brasília. Outro grande destaque é o elenco, pois o cineasta reuniu quatro musas amadas do Cinema Novo - Isabel, Leila, Ana e Irene - mais seu ator-fetiche da época Arduíno Colassanti. Isso sem falar em Nildo Parente, absolutamente impecável como o protagonista Simão. Azyllo Muito Louco é prova inconteste de que uma adaptação literária não precisa ser subserviente à matriz, e ainda que as alegorias podem ter resultado herméticas na época, o filme sobrevive em interesse passados 40 anos de seu lançamento - destaque ainda para a música de Guilherme Guimarães Vaz em ambiência apropriadíssima e desconcertante.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

domingo, 7 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (250)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

250 - A Gata Devassa (1974), de Raffaele Rossi *

Em Coisas Eróticas (1981), o italiano radicado no Brasil Raffaele Rossi ofereceu muito mais do que prometia no título. E como se sabe os cinemas brasileiros lotaram, os marmanjos disputaram cadeiras vagas e todos assistiram ao primeiro pornô brasileiro quase que de pernas e braços coladinhos - para felicidade geral da nação macha e da fauna gay também, claro! Como tantas produções da Boca do Lixo, as de Rossi - muitas vezes com o importante produtor Cassiano Esteves por trás - também apelaram para os títulos sugestivos e que, quase invarialvemente, nada tinham a ver com suas tramas. Quando se depara com um como A Gata Devassa o que se pensa logo de cara é que, no mínimo, muitas cenas de camas viriam com a protagonista de olhos esfuziantes Suely Fernandes aprontando todas, certo? Errado. A Gata Devassa é, na verdade, filme policial com muito tiro trocado entre polícia e bandido - aliás, como se só aí estivesse o cerne do gênero. De erotismo mesmo quase nada, apenas uma cena de cama enviesada ali, outras de pegação mais pudica que de quaquer minissérie da TV aqui, entremeadas de moças de calcinhas coloridas e coxas grossas e beijinhos no pescoço e que tais. Na trama, Perry Salles é um ladrão italiano de alta periculosidade e procurado em todos os continentes, que chega ao Brasil para integrar quadrilha internacional chefiada por Silvana Lopes. Ele escolhe Genésio Carvalho e Kusuaki Hemmi como parceiros e é acompanhado de perto pela perigosa beldade Suely Fernandes. É claro que Salles vai cair nos braços da chefe e da subordinada, mas esse entrecho amoroso e rival só vai ter espaço na sinopse enganosa do filme, já que em cena mesmo esse imbróglio encontrará espaço diminuto. Com fotografia de Pio Zamuner - que tem brincadeira particular no roteiro, que reserva um dos nomes ficcticios de personagem com o mesmo do fotógrafo - A Gata Devassa tem argumento e roteiro também assinados por Rossi. E é no roteiro que está o calcanhar gigante de Aquiles, já que para o roteirista-diretor filme policial pode ser sinônimo apenas de mala cobiçada passando de mão em mão, perseguições chinfrins nas estradas e muito muito muito tiro trocado. Como não há exploração do lado psicológico dos personagens, o máximo disso fica com os risinhos irônicos de Perry Salles, que aparece pela primeira vez em cena com terno de camisa cor-de-rosa, calça ligeiramente pega-frago e vasta cabeleira desgrenhada, vestimenta mais que duvidosa para quem está fugindo da polícia e que faz a gente pensar de cara: mas que sujeito é esse? E o que sobra de ação faz parecer um Antonioni, sem a psicologia do tédio e desencanto, pilotando o gênero. Mulheres belas há, como a exótica Suely Fernandes, a classuda Silvana Lopes, e as também bandidas Sonia Elisabeth e Adélia Coelho. Mas nem isso é suficiente para salvar a lavoura.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo