sábado, 10 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (157)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

157 - Gal - Do Tropicalismo aos Dias de Hoje (2007), de Carlos Ebert e Marcelo Bartz ***

Dividido em duas partes, o documentário Gal - do Tropicalismo aos dias de hoje faz um olhar sobre Gal Costa, a musa do movimento musical. Na verdade, o filme fala muito mais do tropicalismo em si do que da própria cantora, ainda que os caminhos de ambos sejam indesviáveis. A primeira parte trai um pouco o título pois vai até lá atrás com história de que a mãe de Gal colocava música para ouvir, não só para ela ela como também para a futura cantora ainda na sua barriga. Fala rapidamente da primeira infância, do encontro com os outros baianos no show Nós, Por Exemplo, encenado na Bahia, do encantamento pela Bossa Nova e, sobretudo, por João Gilberto, e depois desaguando no Tropicalismo, sua eclosão e seu significado para a música brasileira. A segunda parte está focada também no movimento, mas abre espaço para os chamados herdeiros - tem hora que parece que todo mundo é herdeiro, na visão de alguns depoentes - como Chico Sciense e Nação Zumbi, Arnaldo Antunes e Chico César. Todo o filme é calcado em depoimentos e os diretores demonstram fôlego ouvindo todos os integrantes da tropicália: Caetano, Gil, os Mutantes Rita Lee e Sérgio Dias, Tom Zé, Capinan, Rogério Duarte, Guilherme Araújo, Julio Medaglia, Lenny Gordon e o midas da gravadora Philips, André Midani - Jards Macalé declara que não é tropicalista, e pede para os cineastas manterem seu desabafo no filme, mas não se recusa a falar bastante; já Tom Zé rouba a cena com suas falas sempre espirituosas e inteligentes. E escuta também personagens da época como Maria Bethânia, Roberto Menescal, Chico Buarque, Toquinho, Tárik de Souza, Scarlet Moon, Marisa Alvarez de Lima e Washington Olivetto - confesso que não entendi muito a presença desse último, mas pelo menos não teve Nelson Motta, cadeira cativa em tudo enquanto é documentário sobre música. Todos eles dão sua visão sobre o Tropicalismo, o que é interessante mas, é forçoso dizer, cansa um pouco lá pelas tantas. Há, durante todo o documentário, números musicais do show Hoje com Gal se apresentando no Barbican, em Londres, que fez monumental exposição/instalação e também shows sobre o Tropicalismo. Há ainda imagens de arquivo, o que nos faz imediatamente comparar a Gal de antes e a de agora, em que a gente pouco reconhece o furacão que ela foi um dia. Não só pela juventude, pois o tempo chega mesmo para todo mundo, mas principalmente pela atitude. Há muito que Gal Costa escolheu ser uma cantora de concerto, pois já disse, mais de uma vez, que o que lhe interessa hoje é estar focada somente no ato de cantar. O filme retrata bem isso ao nos possibilitar vê-la nesses momentos distintos. E é exatamente quando o foco vai para esse segundo momento, o atual, que o interesse diminui tanto pelo filme como por essa que é uma das nossas mais importantes cantoras.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (156)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

156 - Exorcismo Negro (1974), de José Mojica Marins ****

Em Exorcismo Negro já somos capturados para a atmosfera do filme desde os créditos iniciais com José Mojica Marins deslizando de barco por um rio cercado por vegetação asfixiante e envolto em brumas. É a perfeita junção entre a persona singularissíma do ator e diretor e a fotografia exuberante do mestre Antonio Meliande. Interessante encontro entre criador e criatura, no filme Mojica é ele mesmo, um cineasta cansado de dividir os méritos com sua criatura e por isso brada em alto e bom som em uma coletiva que Zé do Caixão não existe, é uma invenção sua. A queima de um fusível, seguido pela observação de um repórter dizendo que a declaração desagradou ao personagem, é apenas o início de uma série de acontecimentos estranhos e que chegarão ao auge quando Mojica se refugia na casa de campo de uma família de amigos. Sua estadia é para descansar e preparar o novo trabalho, mas seu espírito não encontrará a quietude prometida pelo lugar. Lá ocorrerá uma série de possíveis possessões e que estão fundamentadas em um segredo familiar terrível selado em magia negra. Exorcismo Negro se constrói inicialmente em clima de pesadelo muito mais sugerido que explicitado. E ainda que não cause medo de imediato, apresenta algumas cenas inquietantes como o ataque de Alcione Mazzeo à irmã Ariane Arantes, e a visita de Geórgia Gomide à casa da feiticeira Wanda Kosmo, encravada no meio de mato ameçador. Mas é quando Mojica e Zé do Caixão se encontram em ritual macabro, que o vermelho-sangue mostrado em cenas durante a trama invade a tela e uma missa negra vira palco de torturas, mutilamentos, canibalismo e ranger de dentes. Mojica assiste atônito seu personagem, Zé do Caixão, barbarizando em maldade e sadismo, e essa sequência nos faz relembrar que o mal independe de nós como agentes, que ele sempre esteve em nosso meio e habitando seara própria, bastando apenas o virar de uma chave para que nossos piores pesadelos se tranformem na mais crível realidade. O filme conta no elenco com duas atrizes que parecem ter nascido para os filmes de Mojica com suas personas trágicas e impactantes: as veteranas Geórgia Gomide e Wanda Kosmos. Conta também com ótima atuação mirim da garota Marisol Marins presente em muitas cenas fortes, e a gente fica do lado de cá pensando se aquilo tudo não agitou seus sonhos de criança. Tem ainda o GRANDE Adriano Stuart, que escreveu o roteiro e os diálogos com Mojica, foi assistente de direção, e atua como o noivo prometido. Ariane Arantes, Walter Stuart, Joffre Soares e Marcelo Picchi completam o ótimo elenco.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (132)


Eva Marie Saint.





Nu!!!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (155)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

155 - Fruto do Amor (1981), de Milton Alencar Jr ***

"Nossa, graças a Deus passou no carnaval e ninguém viu! Ai que horror que era! Que bom que desapareceu!!! Não gosto nem de lembrar! Próximo!". Assim se pronunciou Ruth de Souza na coleção Aplauso - Estrela Negra, de Maria Angela de Jesus - sobre esse Fruto do Amor, de Milton Alencar Jr.. Com todo respeito à nossa Grande Dama: é uma injustiça! Uma entre tantas parcerias de Alencar e José Louzeiro - Escalada Para a Violência (1982), Um Sedutor Fora de Série (1983), Estranhas Relações (1983), O Desejo da Mulher Amada (1985) - dono do argumento e também do roteiro junto com o cineasta, o filme foi produzido por Jece Valadão - para quem os dois escreveram o bacanérrimo Os Amores da Pantera (1977). É no mínimo curioso quando o cinema brasileiro envereda por filmes com um pé na ficção científica, seara nem sempre visitada por nossa cinematografia. E aqui, ainda que tenha alguns momentos um tanto emperrados, como a palestra dos cientistas para seus pares, paira um clima de interesse durante toda a trama. Aliás, o elenco reúne como protagonistas dois atores até então improváveis, Paulo César Peréio e Ruth de Souza, mas que têm ótima química como os cientistas que realizam experiências com cobais humanas em uma ilha. Depois de longos trabalhos com duas centenas de cobaias, eles focam suas pesquisas em três pacientes, dois ex-marginais e uma jovem prostituta. Essas experiências assassinas são plenamente assistidas pela comunidade cientítica e pelo Estado, que visa se utilizar dos resultados em conteção da violência e no controle da natalidade. Peréio empresta seu ar empestiado de canalhice e suor para seu Dr. Blum na medida certa - na primeira cena, já aparece ao telefone esparramado na cadeira e com os pés descalços e sujos em cima da mesa. E encontra na altivez e em secreto gozo interior de Ruth de Souza como Dra Elza a partner perfeita. Claudionei Penedo, Valentim Anderson e Marilisse Navarro estão muito bem como as criaturas que, vez ou outra, se voltam em lampejos contras os criadores. Ainda no elenco, participações especiais de Maria Lucia Dahl, Wilson Grey, Otávio Augusto, Nildo Parente e Otávio Augusto. É impressionante que o mesmo Milton Alencar faria duas décadas depois o mal-ajambrado Garrincha, Estrela Solitária (2003) - sinal de que a ausência de José Louzeiro lhe fez muitíssimo mal. Fruto do Amor é mais um filme do baú do cinema brasileiro, daqueles um tanto esquisitos mas interessantes, e que, enfim, graças ao Canal Brasil - quase sempre ele - liberta-se de injusta invisibilidade.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (63)


Liza Vieira.





Salve Salve!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (154)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

154 - Tenda dos Milagres (1977), de Nelson Pereira dos Santos **1/2

O cinema de Nelson Pereira dos Santos está intimamente ligado à alta literatura brasileira - Graciliano Ramos, Machado de Assis, Jorge Amado, João Guimarães Rosa. Mas se com Graciliano atinge a genialidade - Vidas Secas (1963), e Memórias do Cárcere (1984), com os demais alcança resultados grandes ou pequenos, mas nunca no patamar de suas adaptações do escritor alagoano. Como nesse Tenda dos Milagres, adaptado de romance homônimo de Jorge Amado, o autor mais presente no imaginário popular brasileiro. Tenda dos Milagres é um filme desconcertante, tem alma de negritude, que exala em cada fotograma - fotografia do GRANDE Hélio Silva - mas é um tanto atravancado em sua narrativa. Paradoxalmente, isso dá até um certo charme involuntário ao filme, mas ainda assim não deixa de causar estranhamento, já que Jorge Amado é o mestre da narrativa - e aqui ainda participa da produção na adaptação e nos diálogos ao lado de Santos. As duas ações presentes na narrativa não funcionam muito bem na tela, principalmente com o decorrer da história. De um lado temos Pedro Archanjo - Jards Macalé na juventude e Juarez Paraíso na maturidade, bedel de uma faculdade de medicina que horroriza a comunidade acadêmica no início do século XX com sua defesa da mestiçagem como caminho inexorável do Brasil. De outro temos, em tempo atual, a chegada de um antropólogo americano e prêmio Nobel á Bahia, esnobando os intelectuais e proclamando que quer, antes de tudo, conhecer a terra de Pedro Archanjo, trocando os salões pelos terreiros de candomblé. Essa atitude faz estremecer a corte e a imprensa, que correm contra o tempo para procurar saber quem foi Archanjo. Entre eles, um poeta - Hugo Carvana, que está fazendo um filme sobre o ilustre personagem, uma socióloga - Anecy Rocha, e uma aspirante à atriz - Sônia Dias; é curioso e inesperado o cartaz de Amadas e Violentadas (1976), o belo filme de Jean Garret com David Cardoso, exposto na parede da casa onde Carvana está montando seu filme. O universo do candomblé, da capoeira, do samba de roda, e outros elementos da cultura negra são trazidos à boca de cena por Nelson Pereira dos Santos, nesse filme que inaugura uma fase de cinema popular em sua trajetória - O Amuleto de Ogum (1974), Estrada da Vida (1979/81), depois da fase experimental e de Paraty - Fome de Amor (1968), Azyllo Muito Louco (1969/71), Quem É Beta? (1972/73). Nelson focaliza esse universo da cultura negra com respeito, apreço e afeto, de uma forma nem sempre muito vista em outros filmes que abordam o tema e que, muitas vezes, adotam uma estética exótica e estrangeira demais. Mas nessa fase de Nelson, os melhores resultados estão, sobretudo, em O Amuleto de Ogum. Tenda dos Milagres recebeu vários prêmios - Air France de Melhor Filme; Melhor Filme, Diretor, Atriz Coadjuvante (Sônia Dias), e Melhor Trilha Sonora (Jards Macalé e Gilberto Gil) no X Festival de Brasília. Destaque para a abertura ao som da belíssima, contagiante e apropriadíssima canção de Gilberto Gil, Babá Alapalá.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 6 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (153)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

153 - Como Nos Livrar do Saco (1973) , de César Ladeira +

Como já foi dito aqui mais de uma vez, o cinema brasileiro da década de 1970 é mesmo surpreendente. Tanto pela diversidade de produções - nada a ver com o, muitas vezes, anódino Cinema da Retomada travestido de diversidade - como também por filmes que ficaram invisíveis e estão aí para serem redescobertos. Agora, é fato também que nesse baú as surpresas podem ser ótimas como também verdadeiros abacaxis, como essa comédia de entrecho policial Como Nos Livrar do Saco. Com argumento de César Ladeira e Marcos Farias, e roteiro de Ladeira, não se entende muito o que se queria com esse filme, pois divertir é, definitivamente, algo que ele não consegue - algo semelhante com o lado pior de Mozael Silveira, que quando afunda o pé, valha-nos Deus. O filme tem um bom elenco - Claudio Cavalcanti, Sandra Barsotti, Mara Rúbia e Cecil Thiré, usa o histrionismo de Amândio Silva Filho, e a pinta de galã meio canastra de Olandivo. Mas nada dá muito certo nessa empreitada, que gasta boa parte do filme para enaltecer as forças armadas do Piauí, onde foi rodado, com direito a personagens na trama e parada militar nos créditos finais. Quem faz essa ponte com a polícia militar local é o personagem trapalhão de Amândio, o soldado Heronides, que terá papel fundamental na solução da trama. Trama? Bom, a trama, como o nome indica, envolve as correrias de Cavalcanti e Olandivo para se livrar do cadáver de Barsotti, que os dois escondem em um saco, sem entender direito como ela bateu as botas. Isso depois dela ter sido, aparentemente, envenenada - fato que eles desconhecem - por duas hóspedes que a gente não sabe quem são, em um hotel onde ela se hospedou com o amante Cavalcanti depois que Thiré, o marido, viajou a negócios. Olandivo, um professor aloprado de filosofia, vem ajudar o amigo, e começam aí as confusões, que envolve ainda Mara Rúbia, a camareira-chefe do hotel. Para completar, tem ainda um outro corpo zanzando para complicar ainda mais a situação. Nesse rocambole, a única salvação da lavoura acaba sendo a boa, e rara, presença da cantora Maria Aparecida defendendo a música Boa Noite em uma feira. A fotografia do filme é de Jorge Monclair, primeiro marido da musa Sandra Barsotti, que ela conheceu nessas filmagens - conforme conta para Andre Ormond em entrevista ao essencial blog Estranho Encontro.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 5 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (152)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

152 - A Mulher Invisível (2009), de Cláudio Torres *

Ok, nenhum tema deve ser mesmo proibido para o cinema. E mais, ele, o tema, pode vir tanto em roupagem como drama, comédia, sátira, farsa etc., mesmo sendo dos mais cabeludos até os mais complexos. Como a esquizofrenia, que foi focada em sua totalidade no drama americano Uma Mente Brilhante (2001), de Ron Howard, e está também nessa comédia brasileira A Mulher Invisível, de Cláudio Torres. Afora as diferenças de propostas e resultados, o que distingue um de outro é que no primeiro a psicose é assumida e no segundo não. Já que a psicose de Selton Mello encarnada por Luana Piovani é apresentada muito mais como um delírio para provocar graça - daí não se discute tanto a psicose no sujeito e mais as consequências engraçadas provocadas por essa psicose - o que não deixa de ser uma licença para lá de poética. Mas também ok, o cinema não tem que estar subordinado ao politicamente correto, ainda que na vida real, em alguns casos, por mais que alguns esconjurem, seja necessário - pois uma criança, por exemplo, jamais se prostitui, daí a indecência de se falar em prostituição infantil e não em exploração infantil. Em A Mulher Invisível Selton Mello é um controlador de trânsito que entra em depressão depois que Maria Luisa Mendonça, a esposa, o abandona por outro. Tudo muda no dia em que Luana Piovani bate à sua porta pedindo uma xícara de açúcar e a paixão recíproca se instala avassaladoramente. Selton sai debaixo das cobertas e desfila com a beldade por lugares públicos e em momento algum percebe o espanto de todos, como do amigo Vladimir Brichta, e nem os suspiros da vizinha Maria Manuella. É chover no molhado falar do talento de Selton, que pode ir longe tanto no drama - Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho- como na comédia - O Auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes. Mas especificamente na comédia é quando ele quer se tornar engraçado que as coisas desandam. Sua verve é genuína e ele não precisaria fazer força nunca para isso - a ótima série de TV, Os Aspones, é exemplo disso. Mas ainda assim algumas vezes ele cai nessa cilada, como nesse Mulher Invisível quando abusa dos carões e, sobretudo, quando eleva a voz em alguns diálogos. Algumas cenas são engraçadas? São, sim senhor, como a da discoteca, a do cinema, e, mais que todas, a da visita de Lucio Mauro, o governador, na firma em que trabalha. Mas ainda assim é muito pouco pelo que se busca - ainda, claro, que grande parte do público que lotou os cinemas não ache isso. Luana Piovani tem cara de cinema, e se já se mostrara deslumbrante em O Homem que Copiava (2003), de Jorge Furtado, aqui está ainda mais linda do que nunca e completamente adequada à sua personagem. Outro grande destaque é Maria Manuella, atriz em ascensão nas telas e que precisa ser mais comentada. E por fim tem Fernanda Torres, que é sempre ótima, mesmo quando faz o mais do mesmo.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

domingo, 4 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (151)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

151 - Mangue Negro (2008), de Rodrigo Aragão *****

Fazer do mangue e da rudimentar caça aos caranguejos - que depois serão martelados e sugados por turistas bronzeados nas praias brasileiras - geografia para o terror é, já para início de conversa, um grande achado. Pois ver homens e mulheres enlameados até o pescoço e enfiando o braço inteiro na lama para catar os cujos já é por si só imagem desconcertante e cheia de possibilidades. Daí, quando esse artesanal meio de vida vira o mais terrível pesadelo, a gente busca na memória esse desconforto primeiro e pronto, a cama já está feita para nos assustarmos e acompanharmos com os sentidos atentos o talento de cabo a rabo desse surpreendente Mangue negro, de Rodrigo Aragão. A cinefilia do terror ampliou com as possibilidades do vídeo, depois o DVD e, sobretudo, pelos filmes compartilhados na net e mostras específicas. Porque no cinema mesmo, durante um bom tempo para o grande público, ainda que aparecessem sempre ofertas interessantes ou não, vigorou um terror mais industrial e de longo alcance - isso falando da década de 1980 para cá. E para essa geração 80, o modelo máximo de terror nas telas foi os bacanas A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13 - precedidos por Halloween, do final dos anos 70. O contraponto vinha com outros filmes inventivos e ótimos como A Volta dos Mortos Vivos e A Morte do Demônio. Para quem acompanhou os filmes de Freddy Krueger e Jason, a gente já sabia de antemão que todos aqueles jovens que estavam ali eram para servir de alvo de machadadas, garras e outros materiais afiados. Daí, o susto suspenso era aguardar o momento fatal. Com Mangue Negro, que se diferencia completamente desses dois exemplos - e eles estão aqui só para contrapor um modelo com outro - dá-se o inverso. A gente acredita piamente naqueles personagens, torce por eles, jamais os vemos simplesmente como bucha de canhão. E paira, acima de tudo, que aqueles zumbis canibais são o horror que eles terão que enfrentar, sucumbindo ou não, e que são tão reais quanto eles. Mangue Negro assusta, e assusta muito, exatamente porque torcemos por aqueles personagens. E também porque vemos naqueles zumbis não apenas cadáveres se locomovendo em busca de carne, mas pessoas que um dia também estiveram do outro lado - e as tranformações imediatas de personagens em zumbis, como a do pescador reforça isso ainda mais. Só que isso tudo poderia ficar apenas na esfera do interessante se não fosse o domínio de cena de Rodrigo Aragão - entendimento de espaço, planos inventivos, cortes asfixiantes, elipses inteligentes. Mangue Negro conta a história de uma aldeia de pescadores em que seus poucos moradores vivem, sobretudo, da coleta de carangueijos no manguezal para revenda. Mas se outrora o local era rico em oferta, agora se transformou em lamaçal fétido, estéril e amaldiçoado. E para aqueles que ainda insistem em tirar dali seu sustento, o mangue os aguarda com ameaças fatais. Em meio a tudo isso, acompanhamos a possibilidade de uma relação amorosa entre Walderrama do Santos e Kika de Oliveira em meio ao caos e a luta pela sobrevivência. Mangue Negro é um filmaço em seu gênero, assusta, caçoa - homens interpretando mulheres, André Lobo como a ótima preta velha e Maurício Ribeiro como a mãe cega - e diverte. Uma produção independente do Espírito Santo feita com a cara e a coragem e a dar lições em muitos que estão por aí fazendo pouco cinema e torrando muito dinheiro alheio.

ADENDO
Pesquisando agora sobre Rodrigo Aragão, descobri que já trabalhei em um projeto dele, Mausoléu, quando esteve em BH e eu trabalhava em uma empresa de assessoria de imprensa, CL. Como meus contatos eram com as produtoras, não me lembrava dele de jeito nenhum.


Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (131)



Bibi Andersson.





Nu!!!