segunda-feira, 29 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (70)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

070 - Lance Maior (1968), de Sylvio Back ***1/2

É muito comum ouvirmos expressões como "elenco global" para falarem mal de algum filme e diminuir suas qualidades. Além de injusto, muita vezes é desconhecimento de causa, pois muitas vezes é na estética televisiva que está o calcanhar de aquiles, e não necessariamente sempre nesses atores. E se formos olhar a história do cinema brasileiro mais de perto, uma característica salta aos olhos: pelo menos no caso das atrizes, muitos medalhões desde a estréia da TV e que estão por aí até os dias de hoje estrelaram ou foram destaque em alguns dos nossos mais notáveis filmes, - alguns verdadeiras obras-primas - e dirigidas por GRANDES cineastas. Yoná Magalhães em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha; Glória Menezes em O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte; Eva Wilma em São Paulo S/A (1965), de Luiz Sérgio Person; Renata Sorrah em Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Julio Bressane; Dina Sfat em Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; Betty Faria em Bye Bye Brasil (1979), de Carlos Diegues. Ok, muitos podem dizer que é porque são ótimas atrizes - e são ótimas mesmo - mas ainda assim todas são identificadas no grande imaginário popular muito mais pela carreira em novelas, que no teatro e/ou no cinema - onde foram igualmente soberbas. Das 10 mais da TV, Regina Duarte não teve tanta sorte, não estrelou nenhuma obra-prima ou mesmo um grande filme. Mas fez bonito na estreia no cinema, pois foi também em estreia de um grande cineasta: Sylvio Back, em Lance Maior. Na época, Regina já era uma estrela da TV, pois já vinha de sucessos como A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro - não á toa, nos créditos do filme é apresentada como exclusiva da TV Excelsior. Só que ainda que mesmo na abertura há quase um clipe de vários momentos dela, que está loura como Cristina, basta que o filme comece e mostre a primeira cena de Irene Stefãnia sentada em um banco no parque para já sabermos quem a câmera ama de verdade, e quem também nos arrebatará. Na trama, Reginaldo Faria é um bancário dividido entre dois amores, a burguesa Regina Duarte e a comerciária Irene Stefânia. Enquanto tenta se casar com a primeira para ascender na vida e transar com a segunda por quem é fascinado, ele visita prostitututas ao mesmo tempo em que tenta curar uma DST. Lance Maior é um belo filme, sobretudo na fotografia do mestre Hélio Silva. Tem na produção o mago da Boca do Lixo Alfredo Palácios, além de futuras figuras notáveis como Sérgio Bianchi como assistente de direção. Com um quê da Nouvelle Vague de François Truffaut e do Godard dos primeiros tempos, Lance Maior tem recursos charmosos como legendas de fotonovela e diálogos pensados e ditos na mesma cena. O filme busca um retrato de uma geração e consegue fotografar esse estado principalmente pelo talento de seu elenco. Além do sempre ótimo Reginaldo Faria, tem em papel pequeno de coadjuvante, uma das atrizes mais saudosas do cinema brasileiro: a inesquecível Isabel Ribeiro. Uma curiosidade é Marília Pêra interpretando a canção-tema na abertura do filme.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário