Direção: Fauzi Mansur
Fauzi Mansur é um cineasta subestimado do cinema brasileiro.
Sua culpa no cartório? Ser um dos cineastas da Boca do Lixo, que, ainda que
seja grande, foi por isso renegado por grande parte da crítica da época. Afinal
a Boca só fazia pornochanchada de quinta, né? Santa ignorância. Foi
principalmente com o advento da internet, sobretudo com sua popularização, que
toda uma constelação desse período fértil do cinema paulista veio à luz em sua
grandeza – além do público, né, que lotava os cinemas e não estava nem aí para
os caretas de plantão. E Fauzi é um deles. Mesmo que tivesse dirigido apenas A
noite do desejo (1973) - que foi premiado -, já teria seu nome assegurado no cinema brasileiro. Uma
das facetas interessantes da carreira do cineasta é formada pelos seus filmes
de horror. Belas e corrompidas (1976), que alia o terror à farsa, é um desses
exemplares.
Em Belas e corrompidas Maria Isabel de Lizandra é uma mulher
solteira e misteriosa que vive em seu casarão com a fiel governanta corcunda, Stella
Maia, e o irmão boêmio, Luigi Picchi. Socialmente, Isabel - mesmo nome da atriz - é a presidente pudica
e respeitosa de uma associação beneficente, mas o que as donas de casa carolas integrantes
do grupo nem imaginam é o que acontece dentro daquelas paredes do casarão, para
onde a benemérita atrai suas vítimas. E aí dá-lhe machadinhas, punhais, estiletes,
morcegos, escorpião, guilhotina, e, claro, sangue para todo lado. Alguns homens
circulam em torno daquela que os jornais apontam como a Mulher Fera: o policial
apaixonado por ela, Fernando Reski; o cego amante de Tula, a corcunda, doido para apalpar a patroa, Carlos
Reichenbach; o auxiliar de açougueiro que suspira de amor e tesão, Carlos
Bucka; e por fim o irmão farrista que quer por que quer vender o casarão, Luigi
Picchi. O filme tem roteiro do bamba Marcos Rey e de Mansur, que na direção
aposta em cenas noturnas, muita chuva, escuros e cores quentes para compor a
atmosfera de horror sexual. Maria Isabel de Lizandra e Stella Maia estão bem em
sua cumplicidade macabra, em elenco que segura a peteca. É claro que a polícia
tinha todas as evidências para descobrir desde o início quem é a tal Mulher
Fera por causa das inúmeras “coincidências” que ligam as vítimas ao casarão.
Mas quem disse que Belas e corrompidas está interessado nas evidências do entrecho
policial? O filme só cai quando abandona
o horror para apostar na farsa em sua conclusão no julgamento inverossímil até mesmo para a condução do mostrado até então. Ainda assim é filme que se assiste com
interesse, tanto pelo desenrolar da trama quanto pelo destino de seus
personagens.
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