Direção: Geraldo Vietri
Importante teledramaturgo, Geraldo Vietri fez história na TV
brasileira. Afinal, qual outro autor que além de escrever novelas também as
dirigia e as editava? Essa façanha rendeu grandes sucessos na fase áurea da
Tupi, em obras como Antônio Maria (com Walter Negrão, 1968/69), Nino, o italianinho
(com Walter Negrão, 1969/70), A fábrica (1971/72) e Vitória Bonelli (1972/73).
Com o fechamento da Tupi, foi para a Globo em 1980, onde escreveu Olhai os
lírios do campo, adaptada do romance homônimo de Érico Veríssimo, mas como não conseguiu
o controle sobre a obra como tinha na antiga emissora, desentendeu-se com o
diretor Herval Rossano e acabou deixando a novela antes de seu final. Antes da
TV estreou no cinema, onde dirigiu 13 filmes, a maioria atualmente sem
possibilidades de acesso – seu primeiro filme é Custa pouco a felicidade (1952).
Sua carreira cinematográfica é pontuada por comédias (na primeira fase), filmes
de época (adaptações literárias e filme histórico, na segunda fase), e dramas
urbanos (terceira fase). As comédias continuam inalcançáveis, mas alguns filmes
das fases seguintes foram lançados em VHS e recuperados pela Cana Brasil. Os
dramas urbanos – Adultério por amor (1978), Os imorais (1979, o ponto alto da
carreira), e Sexo, sua única arma (1981) – formam o melhor do seu cinema.
Que estranha forma de amar (1977) é filme da segunda fase,
aqui uma adaptação de Iaiá Garcia, de Machado de Assis. Assim como em Senhora
(1976) e em Tiradentes, o mártir da Inconfidência (1976), há no filme uma
condução excessivamente conservadora, tanto no roteiro quanto na direção.
Vietri costumava trabalhar em seus filmes com seu elenco da Tupi, daí temos
nomes habituais do seu universo, como Paulo Figueiredo, Márcia Maria, Dina
Lisboa, Wilson Fragoso e Jonas Mello. E tem como protagonista Berta Zemmel, que
havia brilhado em Vitória Bonelli, uma de suas melhores novelas. Não li o livro
de Machado por isso não saberia dizer sobre o protagonismo na obra literária,
mas no filme todo o foco recai sobre a Estela de Berta Zemmel, uma mulher que
terá que abrir mão duas vezes de seu grande amor inconfesso, o jovem Jorge de
Paulo Figueiredo. Na primeira vez para a Guerra do Paraguai, por incentivo da mulher abastada
que a criou e mãe dele, Dina Lisboa - para afastar o filho de um inconveniente casamento fora da sua classe social; e na segunda para a enteada, a Iaiá,
Solange Theodoro (acima da idade da personagem e excessivamente infantilizada e
saltitante, com direito a laços enormes na juba), quando a percebe apaixonada
pelo rapaz. O elenco é experiente, mas a direção pede gestos dramáticos, muitas
vezes caros ao melodrama – há de se destacar Márcia Maria, que está belíssima e
compõe sua Eulália, apaixonada por Jorge e preterida por ele, com sutileza e
meios tons de melancolia e elegância. Ainda que o tom solene prejudique o
mostrado, a espinha dorsal do cinema de Vietri está lá – pelo menos o possível
de conhecer de sua obra: uma crítica à estrutura familiar, que para se manter apoia-se em
tradição, convenções, valores de autoproteção e hipocrisia. A Estela de Berta é uma mulher vítima dessa estrutura, que a faz "não existir" - se vê como uma criada pela família que a criou e quando se torna enteada de Iaiá escuta desta em momento chave - ainda que o amor seja correspondido entre as duas -, que ela não é sua mãe. Em Que estranha forma de amar
todos os personagens estão infelizes, mesmo aqueles que não "sabem" dessa
infelicidade, pois não a querem ver.
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