terça-feira, 30 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (269)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

269 - O Cafetão (1982), de Francisco Cavalvanti ***

Conteúdo e embalagem. Foi no cinema popular brasileiro da década de 1970, que o marketing - artesanal - criou asas e produziu publicidade sem se preocupar minimamente com a realidade do projeto. E não eram mauricinhos saídos de faculdades que levaram o intento a prumo não, mas os próprios realizadores - produtores e cineastas, com mãozinha também dos exibidores. Daí, uma série de títulos de filmes que nada tinham a ver com suas tramas e cartazes idem. Esse O Cafetão é um primor, pois ainda que o nome tenha sua razão de ser, um dos bandidões praticam a velha profissão, a peça publicitária é o oposto. O cartaz mostra mulheres nuas e os dizeres "Elas pagavam alto para viver no mundo da prostituição". Daí, o que se supõe? Bom, no mínimo, que o filme abrirá espaço para elas, as putas, talvez em história em que são exploradas pelo marmanjo do título. Certo? Errado. Ainda que as moças tirem a roupa bastante e sejam mesmo exploradas como bucha para canhão, na trama elas têm espaço quase nenhum - a não ser, despir-se, claro. Isso porque, na verdade, a história foca mesmo é o confronto entre duas gangues rivais para ver quem domina a bandidagem do pedaço, tendo ao centro um inesperado engraxate, sua gostosa patroa, e uma mais inesperada ainda mala recheada de tutu. Mas essa propaganda enganosa é algum problema? Que nada, O Cafetão é mais um dos deliciosos filmes policiais realizados nas décadas de 70 e 80 - ok, filmes policias foram realizados também em outras épocas, mas é necessário dizer que não com a estética suja, algumas vezes mambembes e altamente sedutores e criativos como nesse período. Aqui, Francisco Cavalcanti - bam bam bam do gênero - outra vez dirigiu e protagonizou, e sua parceira habitual e cheia de talento Madalena Silva escreveu o roteiro. Ele é o tal engraxate, que depois de um tiroteio mortal entre as guangues, fica com mala de dinheiro por acaso - e sem saber o que há nela - enquanto todos a procuram e torturam suspeitos aos quatros cantos, e ele tenta vendê-la nos brechós da vida. Cavalcanti faz ótima dupla com Zilda Mayo - e seu corpoão esfuziante - com quem é casado e passa fome, já que são pobres de marré-de-ci. Em ótima e inacreditável sequência - ou daquelas que só o cinema popular da época sabia fazer - ele pergunta se tem comida em casa, ela diz que não, pois ele não trouxe dinheiro, ele reclama a barriga vazia, e ela tira a roupa, deita na cama, e diz: vem! Com a cara mais safada do mundo e esfregando a barriga, ele responde: não sei se consigo, estou muito fraco. Hilário! Zilda Mayo, uma das mais amadas deusas da Boca Lixo está linda, como sempre, e sensacional como a nova rica que não sabe assinar o nome no hotel de luxo - "ih, esqueci de trazer roupa de cama", ela diz preocupada - e que distribui bisnaga de pão e sacos de leite para os antigos vizinhos dos barracões de tábua. Há também, claro, muito tiroteiro a torto e a direito, com lugar especial para a vedete da época, a metralhadora, que desfila na mão de cada bandido. O Cafetão é mais um exemplar do notável cinema de Francisco Cavalcanti, que nos deu outras pérolas de ação como O Porão das Condenadas (1979), e Horas Fatais - Cabeças Cortadas (1986).

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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