segunda-feira, 2 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (177)



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

177 - Jardim de Alah ((1989), de David Neves *

Com toda razão, o cineasta carioca David Neves é saudado como sensível cronista e criador de personagens pelos quais a gente se apaixona imediatamente. Daí que esse Jardim de Alah já causa estranhamento de cara, quando uma escultura corroída se toma de narradora - na voz de Cissa Guimarães - para apresentar a geografia em que se situa os personagens que iremos acompanhar nos próximos 86 minutos - uma extensão de praças que vai do Leblon à Lagoa Rodrigo de Freitas, construída em 1938 e cortada por um canal. Dilapidada pelo tempo e por arruaceiros, ela serve de metáfora para a fauna que circula pela trama, toda ela também em processo de decomposição moral e no fio da navalha da malandragem. E aí pode ser de qualquer estrato social, seja no pobre de marré-de-ci Paulão; no emergente traficante Joel Barcellos; na universitária de classe média Françoise Fourton; ou nos endinheirados Raul Cortez, Imara Reis e Carlos Kroeber. Todos eles querem se dar bem, mesmo que para isso seja necessário trair, matar, roubar e traficar. Os únicos que parecem ficar à margem de tudo isso é Grande Otelo, mas que parece mais um doidinho que guarda a memória do Jardim de Alah, e Isabela Garcia, a aspirante a estilista que cheira sal de fruta pensando ser cocaína. E é exatamente aí que está o inacreditável em se tratanto do cinema de David Neves: não há sequer um personagem interessante. E, para complicar ainda mais, nenhuma de suas micro-histórias também despertam o mínimo de interesse, e muitas delas beiram ao inverossímel, como a repentina relação/parceria amorosa/comercial entre Fourton e Barcellos. O péssimo roteiro de Onésio Paiva, a inexpressiva fotografia de Jaime Schwartz e a direção burocrática de Neves formam nocaute irreversível para trama que conta com bons atores, Imara, Raul, Paulão - o melhor, Joel, mas todos muitos decibéis abaixo de suas capacidades - ainda que Imara Reis tenha faturado os prêmios de Coadjuvante em Gramado e em Natal; e Paulão o de coadjuvante também em Natal. Uma boa surpresa é a presença no elenco de Alvamar Taddei, musa da Boca do Lixo, em seu último trabalho no cinema, e aqui atuando no cinema carioca - no Rio atuou ainda em As Sete Vampiras (1986), de Ivan Cardoso. Para quem, em filmografia de longas pequena e de apenas sete títulos, dirigiu filmes bacanérrimos como Memória de Helena (1969), e Lúcia McCartney, Uma Garota de Programa (1974), Jardim de Alah - que fecha trilogia sobre a zona sul carioca, Muito Prazer (1979) e Fulaninha (1986) - é despedida em tom baixo de um cineasta importante e que morreu cedo demais, aos 56 anos.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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