domingo, 1 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (176)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

176 - Vozes do Medo (1970),
de Roberto Santos, Maurice Capovilla, Adilson Bonini, Aloysio Raulino, Augusto Correa, Cyro Del Nero, Mamoru Miyao, Plácido Campos Jr, Roman Stulback, Hélio Leite de Barros, Ruy Perotti Barbosa, Gianfrancesco Guarnieri. ***

Com coordenação geral de Roberto Santos, idealizador e um dos produtores, Vozes do Medo é um filme que reúne diretores de diferentes linhagens - cinema - Roberto Santos, Maurice Capovilla, Aloysio Raulino; teatro - Gianfrancesco Guarnieri; cenografia - Cyro Del Nero (que morreu nessa semana); animação - Ruy Perotti; filosofia - Hélio Leite de Barros; publicidade - Adilson Bonini e Mamoru Myao; e participação de alunos da ECA-USP - Roman Stulback. Estruturado como se fosse uma revista, o filme se vale dessa diversidade e mescla em sua linguagem recursos de cor e p&b, fotonovela, desenho animado, moda e etc. O prológo anuncia, via versos de Carlos Drummond de Andrade, que a hora vai ser de cantar o medo, e não o amor ou o ódio, e é assim que os episódios serão apresentados. No elenco, um ou outro ator conhecido, como Serafim Gonzales, Cláudio Mamberti e Antonio Pintanga, e muitos desconhecidos. Vozes do Medo é proposta ambiciosa de retrato de uma geração recem-saída das conquistas sexuais e revolução de costumes dos anos 1960 e aniquilada pelo rompante ditatorial e com passaporte direto para os anos de chumbo dos 70. Justamente dois dos episódios mais interessantes - Piá não Sofre? Sofre, de Santos, e A Santa Ceia, de Raulino - foram censurados na época; o primeiro retalhado e o segundo extirpado. Piá Não Sofre? Sofre focaliza a fome, em que toda uma família tem que dormir para esquecer do estômago que reclama. Já A Santa Ceia bota um peru no centro da mesa, onde um família se degladia verbalmente e no grito quase em contraposição ao sangue derramado no contemporâneo Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), do Cinema Marginal de Julio Bressane, e em chave precursora de Festa de Família (1998), do Dogma de Thomas Vinterberg. Outros ótimos segmentos são Aborto, de Myao, em que um playboy atropela um homem e depois, sem saber o que fazer com o corpo, leva-o para cima e para baixo em suas andanças; e Aquele Dia 10, de Guarnieri - em sua única direção no cinema - em que operários zanzam pela cidade em dia de pagamento. Há uma certa esquizofrenia nesse Vozes do Medo, mas a estética explorada é, muitas vezes, admirável e com alta carga de experimentalismo. Há, claro, alguns senões, como o chatíssimo episódio O Jogo de Ludo, de Bonini, que entedia e emperra um tanto essa experimentação. A trilha sonora também é sugestiva, com nomes como Sérgio Ricardo, Tom Zé, Mutantes, Rogério Duprat, Julio Medaglia e Toquinho. Sem dúvida, um filme diferente e um tanto estranho em sua concepção, e, sobretudo, em seu resultado, e que ficou anos nas prateleiras da censura - só foi liberado para exibição em 1974, mesmo assim sem os dois episódios mencionados.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

3 comentários:

  1. Fiquei curioso pra ver esse por causa da mistura de realizadores de mídias diferentes.

    Cultura na veia:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  2. Pseudo,
    Vozes do Medo é um filme estranho, mas curioso.
    Abs

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  3. Filme brilhante! Você sabe onde posso fazer o download do mesmo?
    Abraço!

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