domingo, 16 de janeiro de 2011

longas brasileiros em 2011 (09)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

009 - A Família do Barulho (1970), de Julio Bressane *****

Um dois filmes da lendária Belair - de Rogério Sganzerla e Julio Bressane -, que durante apenas quatro meses em 1970 realizou sete, A Família do Barulho é genial. Está lá, em cada fotograma, todo o imaginário do Cinema Marginal - muito deboche, escracho, inquietação e exasperação estética, política e existencial. De cara se vê Helena Ignez sentada de perna aberta em retrato vivo ao lado de Guará Rodrigues e Kleber Santos, numa espécie de visão atravessada e avacalhada da Dona Flor de Jorge Amado - o blockbuster de Bruno Barreto viriam anos depois. Daí, somos apresentados a uma família tradicional jogando cartas na sala, enquanto, ao som de folk "tira o leiiiite", na cozinha a empregada negra passa a roupa e um casal de meninos espivetados apronta todas: de serrote à mão, ela brinca, perversamente, de corta-lo ao meio; os dois fumam cigarros em tenríssima idade, e por aí vai - ou seja, muito antes da fase proibitiva do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas não é essa a família em foco, e sim a formada por Helena, Guará e Kleber. Enquanto ela roda a bolsinha e mantém a casa, eles ficam em casa bolando formas de manter a boa vida, pois como ela já disse, mais de uma vez, que como Presidente daquela pocilga tá cansada de financiar aquela moleza toda. É aí que Guará, que cafifando um plano com Santos, exalta a subida do petróleo e o aumento da bolsa no exterior, e proclama que a solução está mesmo é no oriente, portanto o melhor é contratarem uma odalisca. É a chave para a entrada de Maria Gladys, formando-se um quarteto da pesada - e é sempre fantástico ver juntas Ignez e Gladys, musas-maiores do movimento. A Família do Barulho é ponto altíssimo não só da Belair, como de todo o Cinema Marginal. Tem diálogos e tiradas engraçadíssimos - "essa é violenta", "você tá achando que sou fábrica de biscoito" -, e trilha sonora inspirada com direito à marchinha de Carmen Miranda, João Gilberto, e citações de clássicos como Mulher - de Custódio Mesquita e Sadi Cabral -, na voz irreverente de Helena, e nada mais nada menos de As Time Goes By, com Grande Otelo. Não bastasse tudo de ótimo em A Família do Barulho, tem ainda Grande Otelo hilário como a boneca Divina Dama. Transitando por todos os gêneros e ciclos do cinema brasileiro, Otelo sempre foi mesmo grande - e como em outras vezes, aqui ele arrasa, mesmo fazendo uma pequena, mas inesquecível, participação.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário