quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (277)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

277 - É Isso Aí, Bicho - Geração Bendita (1972), de Carlos Bini ***

Nos anos 1960 e 70, uma comunidade hippie fez história em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Isso pela novidade daquele modelo alternativo de vida e porque lá também estavam os músicos da banda Spectrum. Os rapazes lançaram em 1971 o LP Geração Bendita e participaram desse É Isso Aí, Bicho - Geração Bendita, considerado o primeiro filme hippie brasileiro, e que difundiu o modo de vida daquela comunidade, alojada no sítio Quiabos. O cineasta Carlos Bini, também de Nova Friburgo, roteirizou, dirigiu e protagonizou a história, em filme que foi proibido pela censura, mutilado, e que acabou sendo fracasso de bilheteria quando lançado. O mesmo aconteceu com o disco da banda, que não teve repercussão, e seria redescoberto só tempos depois na Europa, onde virou raridade e disputa entre colecionadores, e relançado trinta anos depois de sua feitura por um selo alemão, em 2001. Os alemães babaram com o rock psicodélico do Spectrum, e o disco foi alçado à condição de obra-prima. Já o filme, ficou ingualmente esquecido, até que, finalmente, veio à tona novamente - tanto na internet quanto no Canal Brasil. A trama, na verdade, é um fiapo. Advogado se cansa dos tribunais, fóruns e processos, joga tudo para o alto, e se integra à comunidade de hippies que vendem flores e artesanatos na cidade, sempre com o violão e outros instrumentos percussivos a tiracolo. Nessa transição, conhece uma garota de classe média, que enfastiada com a mãe controladora e o noivo que a convida ora para a missa ora para o cinema, flerta com aquele mundo dissonante de sua realidade e inicia romance escondido com ele. O que menos interessa ao filme é esse entrecho, já que o que está no centro da lente é o modo de vida daqueles cabeludos que amavam os Beatles e os Rolling Stones e professavam a filosofia de paz e amor. Daí, vê-se o dia-a-dia da moçada, com afazeres domésticos coletivos - como rachar lenha e preparar a salada ; amamentação para a cria que segue os passos alternativos dos pais; banhos de rio com todo mundo pelado; reuniões de mistismo oriental; e, claro, cigarrinhos de maconha passando de mão em mão - é ótima a cena do fornecedor que traz pacotão da erva enrolado em papel de pão e é recebido como rei por seus súditos. O romance entre os protagonistas, o próprio Carlos Bini e Rita de Cássia - que estreia como atriz e depois faz carreira tanto no cinema como na TV - é fraquinho, mas é recheio necessário para exibição nos cinemas. Não fosse isso, ficaria na esfera do documentário - que, aliás, parece ter sido a primeira opção. Uma sacada boa é a presença de um religioso que vive perseguindo a turma bicho-grilo com seus sermões bíblicos. A fotografia e a câmera de Fritz Meldy Lucien Mellinger - que também produziu e montou - é bacana, sendo que o grande destaque mesmo vai para a trilha inspirada e que permeia todo o filme. Carlos Bini e a Spectrum voltariam a se unir em O Guru das Sete Cidades (1972) - segundo e último filme do cineasta. É Isso Aí, Bicho - Geração Bendita é mesmo filme singularíssimo na história do cinema brasileiro - aliás, como é singularíssima também a década de 70 para a nossa cinematografia.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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