quarta-feira, 8 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (207)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

207 - Um Anjo Mau (1972), de Roberto Santos ****

Quando são citados os grandes filmes do cinema brasileiro, dificilmente não se fala em Vidas Secas (1963), em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), em São Paulo S/A (1965), em Terra em Transe (1967), em O Bandido da Luz Vermelha (1968), em Macunaína (1969), e em alguns outros. E também dificilmente não se fala em A Hora e Vez de Augusto Matraga. Só que, paradoxalmente, se os cineastas Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Luis Sérgio Person, Rogério Sganzerla e Joaquim Pedro de Andrade são tão incensados quanto seus filmes, o mesmo não se dá com Roberto Santos. Puro reducionismo dos babacas de plantão, pois esse paulista sempre foi tão grande quanto todos os outros. E se não foi respeitado no final, quando morreu de infarto no aeroporto quando vinha do Festival de Gramado em 1987, onde seu Quincas Borba foi achincalhado pela crítica, ainda hoje boa parte dessa mesma crítica continua criminosamente silenciosa diante de sua importância para a história do cinema nacional. Com nítidas preocupações sociais e políticas em seu sentido amplo, o cinema de Roberto Santos é marcado por personagens castigados pela vida e órfãos de uma terra ou de um asfalto inóspitos, e que, de uma forma ou de outra, buscam seu lugar no mundo, ainda que sabedouros de que mesmo com muita luta esse lugar ao sol pode jamais chegar. Esse Um Anjo Mau não é obra-prima como Matraga, mas de novo é rural, de novo é adaptação literária - dessa vez de romance homônimo de Adonias Filho - e de novo toda a elegância sem firulas da direção está lá. A trama conta a história de Açucena, quase uma versão rural para a Terezinha das quadrinhas, já que ela também terá a vida marcada por três homens, mesmo que não haja lugar em seu caminho para pai, irmão ou mesmo príncipe encantado - ainda que o personagem de Di Franco até que se assemelha ao último da ciranda. Vendida na adolescência pela mãe para um vendedor de secos e molhados quando estava mais interessada no circo que divertia os meninos do vilarejo e sem saber que seu destino já estava selado, ela começa aí a iniciação de couro curtido em que se transformará, a fim de encontrar pelo menos um meio de sobreviver. E ainda assim descobrirá que a própria sobrevivência estará por um fio quando assiste a tragédia que assola sua vida e vê o surdo desejo de vingança instalado. Adriana Prieto - deusa que nos deixou cedo demais aos 25 anos em acidente de carro poucos anos depois, em 1975 - dá vida à protagonista como se fosse o papel da sua vida. Por vezes é injustamente acusada de super-representação, quando o que se vê é a atriz se limpando de toda a areia de Ipanema para se encardir do chão bruto do sertão - o Festival de Brasília reconheceu isso e lhe deu o Prêmio de Melhor Atriz. No elenco, estão ótimos também os três homens de sua vida: o comerciante Jonas Melo, o jagunço Francisco di Franco e o lutador de rua Flávio Portho. Barbara Fázio, com seu porte imponente, rancoroso e trágico, é também destaque nesse filme produzido por Walter Hugo Khouri e William Khouri na época em que assumiram a Vera Cruz. Já na fotografia esplendorosa, a genialidade de Hélio Silva.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

Um comentário:

  1. adilson, vi esse filme pela 1ª vez em vhs, quando pesquisava a filmografia de adriana prieto, depois revi na cinemateca, e concordo com tudo o que você escreveu, "um anjo mau" realmente tem valor especial. até me deu saudade e vou conferi-lo novamente. abraço.

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