quinta-feira, 9 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (208)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

208 - Terror e Êxtase (1980), de Antonio Calmon *****

Bom, enaltecer o cinema de culhões de Antonio Calmon já virou arroz de festa aqui no Insensatez. E mais uma vez o caso se repete com esse Terror e Êxtase, que de cara tem um dos prólogos mais sensacionais: Gracinda Freire na praia divagando sobre a vida e seu estado de pós-noite de bebedeira de vodka, minutos antes de encontrar seu destino pelas mãos do anjo do inferno Roberto Bonfim. É acachapante, e isso é só mesmo um aperitivo para o que virá a seguir, quando morro e asfalto se esbarram, mas não nessa cartilha de consciência culpada como se vê em muitos filmes de hoje que promovem esse encontro. Denise Dumont, a cocotinha que faz discurso de ode à marginália e que quer que a burguesia seja morta e enterrada, é bom signo para se enteder esse cinema de ontem e de hoje, pois ela verá na pele o discurso infiltrar em porrada na epiderme, ao contrário de muitos cineastas que miram sua lente para o vespeiro, mas se resguardam dos pés à cabeça em seus casulos financiados e em ar-refrigerado. Na trama, Roberto Bonfim vive de assaltos e mortes até que conhece Denise, apaixona-se por ela e resolve dar um tempo da marginália. Daí, junta-se à gangue, faz assalto a banco e depois planeja o grande golpe final para encher o bolso de tutu: sequestrar André di Biase, drogadito amigo da nova paixão e filho do pai milionário José Lewgoy. Em meio a isso tudo, conhecemos personagens completamente "Calmonianos", nessa adaptação do livro homônimo de José Carlos Oliveira: Maria Lucia Dahl, a mãe dondoca que transa com michê fixo nas barbas do marido Nildo Parente; Anselmo Vasconcelos, o alucinado e violentíssimo bandido Minhoquinha; André di Biase, o filhinho de papai que delira em poesia e vômito com agulha fincada na veia. O filme tem sequências absolutamente geniais e desconcertantes, como só Calmon parece saber fazer: o comercial particular de ostras de Maria Lucia Dahl; o acerto de contas entre Bonfim e o crente de praça central que sacou a bíblia na hora de agonia de sua mulher Maria D´Alves; o estupro desvairado promovido por Anselmo Vasconcelos; a dança de Anselmo pós noite de terror e sevicia. Como sempre, o cineasta escalou elenco de seus sonhos e para total deleite nosso: Denise - Prêmio APCA de Melhor Atriz - está perfeita, e linda, como a menina que cruzou a fronteira via alucinação das drogas e que agora bota o pé do outro lado de fato; Maria Lucia mais uma vez como a atriz síntese do diretor, e como em Gente Fina É Outra Coisa (1977) e O Bom Marido (1978), embute sua persoangem de cinismo e deboche em filigramas; Roberto como Milium, o bandidão com dois dentes de ouro, muita violência na cachola e nos músculos e sempre com um lugar especial para a amada da vez; Anselmo Vasconcelos, que faz de seu Minhoquinha o pesadelo em carne viva e indesviável para quem tem o azar de cruzar seu caminho. Ainda a destacar, a fotografia de Edgar Moura e a trilha de Remo Usai. Ao falar desse Terror e Êxtase é preciso voltar à máxima que também já quase virou clichê aqui no Insensatez: como faz falta o cinema desconcertante, obsceno, indecente e fundamental de Antonio Calmon.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

7 comentários:

  1. Pek,

    Este é um filme que sempre ouvi falarem bem, mas que ainda não consegui ver. Que bom poder ler seu blog de novo...

    Bjs.

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  2. Meu amigo, o cinema "mau comportado" do Calmon faz muita falta hoje em dia mesmo.

    Um abraço

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  3. Noel,
    Vale realmente a pena conhecer esse filme, mais um na ótima filmografia do Calmon.
    Bom tê-lo de volta.
    Bjs

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  4. Caro Sérgio,
    Sou completamente fã do cinema do Calmon, e quanto mais revejo seus filmes mais minha admiração cresce.
    Acho um cineasta injustiçado pela crítica.
    Aliás, como é também Khouri - hoje um pouco menos injustiçado -, Garret, Cunha, Christensen, Salvá, Neves, Marinho Barbosa, e tantos outros.
    Um abraço meu amigo

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  5. Puxa, deu tanta saudade desse filme e da Denise Dumont, que bateu um aperto no peito.

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  6. Ailton,
    A Denise vem aí na série As Cariocas, do Daniel Filho.
    Sempre adorei o trabalho dela e esse filme é mesmo uma beleza.
    Abs

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  7. Ah, que bom que a Denise está voltando. Se bem que a gente gostava mais dela era quando era mais jovem... Ah, a juventude.. Só se sabe o seu valor quando ela passsa. heheh. Mas estarei de olho no trabalho do Daniel Filho, com certeza.

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