terça-feira, 7 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (206)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

206 - Emanuelle Tropical (1977), de J. Marreco ****

Em 1974, o cineasta francês Just Jaeckin estreou com o sucesso de escândalo internacional, Emmanuelle - e depois continuou focando histórias provocativas, como Historia de O (1975) e O Amante de Lady Chaterley (1981). Já Emmanuelle, que fez da bela Sylvia Kristel estrela mundial, seguiu carreira e virou praticamente uma grife, com diretores diversos e ora com a atriz, ora com outras. O filme original foi proibido pela censura em vários países, e no Brasil não foi diferente. E como também em outros lugares do planeta, a personagem inspirou releituras as mais diversas. Por aqui, qual espaço geográfico seria o ideal para essa empreitada? Claro que foi a Boca do Lixo. E coube ao cineasta mineiro radicado em São Paulo J. Marreco - também chegado em histórias polêmicas, pois fez uma das versões do picante romance de Júlio Ribeiro, A Carne (1975) - a temerária tarefa. Só que o que parecia ser picaretagem acabou resultando em filme dos mais interessantes. Sim, pois ainda que o roteiro de Emanuelle Tropical - também de Marreco - vez ou outra nos brinda com diálogos e frases inacreditáveis, há em cada fotograma um encanto desconcertante que faz a gente cafifar com nossos botões "mas por que estou gostando tanto disso?". O filme tem vários pontos positivos, a começar pela protagonista Monique Lafond, que a cada produção da época se mostrava ainda mais bonita e sedutora - pena que foi dublada, já que seu timbre particularíssimo daria um charme todo especial à personagem. Em entrevista ao site Mulheres do Cinema Brasileiro, ao ser requerida para falar sobre o filme, Monique se saiu gaiata: "pra começo de conversa não me achava nada tropical", e ria solto. E não bastasse ela, Marreco ainda reuniu duas das musas mais amadas da Boca, Matilde Mastrangi e Selma Egrei, em casal lésbico - e ainda com direito à Tânia Alves no elenco. Selma Egrei, mais uma vez com sua beleza translúcida, dá dignidade ofendida na medida certa para sua Mary Clair, e faz composição de mestre para sua contida e triste personagem. Na trama, Emanuelle é modelo e atriz que vive casamento liberal com o marido. Os dois podem ter casos extra-conjugais, mas jamais podem se apaixonar e levar os amantes para a casa em que vivem. Ela se envolve com outros homens, mas procura sempre cumprir o trato; já ele cai de amores por outra e essa relação desestrutura o aparente equilíbrio do casal. Destaques ainda para a fotografia, também de Marreco - e as ambiências bregas, como vapor de sauna e luzes coloridas e brilhantes -, e para a bela e atmosférica trilha de Beto Strada - que marca com perfeição a abertura e o final do filme. Aliás, filme quando sabe acabar quase sempre eleva tudo o que foi visto antes às alturas, e aqui se tem um ótimo encerramento para o mostrado. O elenco masculino também dá conta do recado: Luiz Parreiras, Walter Prado, Marcos Wainberg, Sérgio de Oliveira, Benedito Corsi. Lá pelas tantas, em inesperada cena de metalinguagem, Wainberg diz para Lafond: "não dá para bancar o sueco dos trópicos"; "você é imitação de uma invenção européia"; delicioso!

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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