segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

cícero


Antes do jornalismo, me graduei também em Letras. E minha opção pelo curso se deu pelo tanto que gostava - e ainda gosto, mas faço menos que deveria - de ler romances.

E aí valia tudo. Meu gosto literário se fez por descoberta empírica. Visitava a biblioteca da escola do bairro e devorava um livro atrás do outro.

Teve uma época que fiquei desempregado e daí lia um livro inteiro por dia, começava de manhã e terminava à noite - e minha mãe dizia-me pra parar com aquilo, que ia ficar louco (será que minhas dores de cabeça constantes vêm daí?).

Adorava ler, de uma vezada só e na mesma bacia, Machado de Assis, Sidney Sheldon, Harold Robbins, José de Alencar, Herman Hesse, Orígenes Lessa, Graciliano Ramos e títulos como Amor nos Penhascos e daquelas séries que as pessoas já achavam vagabundas na época, como Sabrina, Julia e Bianca.

Mas se o amor pela literatura era forte, ficava à vontade com a prosa, mas com a poesia nem tanto. Amava Cecília Meirelles - que amo até hoje - mas não tinha tanto intimidade com Drummond e Pessoa, por exemplo - aliás, não tenho até hoje, ainda que os ache bárbaros.

Na poesia sempre me identificava com quem falava de coisas mais comezinhas, como Cecília e Manuel Bandeira - outra paixão.

Quase diariamente, em hora de almoço, passo na porta da Livraria Ouvidor, aqui em BH. Há algum tempo, eles colocam uma estante de livros em promoção na calçada. E foi lá que vi um livro de um poeta que me ilumina. Ele, curiosamente em oposição a minha preferência poética, está muito distante das coisas comezinhas, e é tido, além de poeta, como um intelectual de ponta.

Seu nome: Antonio Cícero.

Uma vez, fui a uma das edições do Projeto Sempre um Papo para ver o lançamento de um dos livros de Antonio Cicero. Fui, porque amava as letras de suas músicas para a irmã, desde a época em que se chamava só Marina, sem o Lima.

Como foi pouca gente, calhou de eu sentar à mesa com ele e mais outras pessoas, estava um amigo meu também, para tomarmos algumas taças de vinho - e não copo de vinho, como quer Danusa Leão.

E fiquei maravilhado com a gentileza e a doçura de Cícero.

Ao final, ele não só fez a dedicatória em meu exemplar, como escreveu seu contato diretamente nele. Está lá comigo, na minha estante.

Vez ou outra releio os poemas, como o belo Guardar, e a memória dessa noite luminosa volta em cheio.

Bela noite de ternura.

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