Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
284 - Tudo Bem (1978), de Arnaldo Jabor *****
Cotação cinco estrelas é muito pouco para esse magistral filme de Arnaldo Jabor. Depois de Toda Nudez Será Castigada (1972), em que parecia que o cineasta chegara ao seu máximo, ele realiza alguns anos depois esse desconcertante Tudo Bem - com O Casamento (1975) entre eles. Aqui, ele promove um encontro de classes em um apartamento em Copacabana e faz uma radiografia do Brasil. Paulo Gracindo convive dia-a-dia com os fantasmas de seus amigos enquanto a esposa Fernanda Montenegro se morde de ciúmes de uma hipotética amante do marido - a tal Waldete. Ainda vivem no ap o casal de filhos Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães - em época de Asdrúbal Trouxe o Trombone - mais as empregadas Maria Sílvia e Zezé Motta. Fernanda sonha há 26 anos com a reforma da casa e, finalmente, vê a empreitada se instalar na sala da casa, com uma turma de operários - Stênio Garcia, Anselmo Vasconcelos e José Dumont são alguns deles. Dumont, inclusive, leva sua família despejada, que faz acampamento com direito a fogãozinho de tijolo e tudo. Tudo Bem parece mais uma ópera, em que os personagens vão em tom crescente, seja no quarto, na sala ou na cozinha. Nessa última, dois modelos encarnados por Maria Silvia e Zezé Motta - a primeira uma religiosa reprimida e a segunda uma prostituta no turno da noite - se atraem em combustão deflagadora de destinos. No quarto, Fernanda e Gracindo circulam em embates mediados por alusões a remédios e piscininhas de motel, ao mesmo tempo em que toda uma vida de casados pode ser expiada pelo ralo. E na sala, os operários amarram a cara com a batata que cai no chão da marmita e fazem piadinhas autofágicas de suas misérias - "vida de pobre é boa", Fernanda saúda mais de uma vez para todos eles. E há ainda os fantasmas Luis Linhares, Fernando Torres e Jorge Loredo, que evocam Castro Alves, política, massas de macarrão e algumas tantas obscenidades. Com roteiro de Jabor e de Leopoldo Serran - mais a fotografia de Dib Lutfi - Tudo Bem é momento alto na história do cinema brasileiro, em que estão todos os desvarios de seu momento histórico - ditadura militar, fervor religioso, cinismo da classe média e cheiro de batata frita e sardinha. Prêmios de Melhor Ator Coadjuvante para Paulo César Peréio - que orquestra o coro Tudo Bem, enquanto Maria Silva entoa ladainha mortuária - e Melhor Fotografia para Dib Lufti no Festival de Brasília.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
284 - Tudo Bem (1978), de Arnaldo Jabor *****
Cotação cinco estrelas é muito pouco para esse magistral filme de Arnaldo Jabor. Depois de Toda Nudez Será Castigada (1972), em que parecia que o cineasta chegara ao seu máximo, ele realiza alguns anos depois esse desconcertante Tudo Bem - com O Casamento (1975) entre eles. Aqui, ele promove um encontro de classes em um apartamento em Copacabana e faz uma radiografia do Brasil. Paulo Gracindo convive dia-a-dia com os fantasmas de seus amigos enquanto a esposa Fernanda Montenegro se morde de ciúmes de uma hipotética amante do marido - a tal Waldete. Ainda vivem no ap o casal de filhos Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães - em época de Asdrúbal Trouxe o Trombone - mais as empregadas Maria Sílvia e Zezé Motta. Fernanda sonha há 26 anos com a reforma da casa e, finalmente, vê a empreitada se instalar na sala da casa, com uma turma de operários - Stênio Garcia, Anselmo Vasconcelos e José Dumont são alguns deles. Dumont, inclusive, leva sua família despejada, que faz acampamento com direito a fogãozinho de tijolo e tudo. Tudo Bem parece mais uma ópera, em que os personagens vão em tom crescente, seja no quarto, na sala ou na cozinha. Nessa última, dois modelos encarnados por Maria Silvia e Zezé Motta - a primeira uma religiosa reprimida e a segunda uma prostituta no turno da noite - se atraem em combustão deflagadora de destinos. No quarto, Fernanda e Gracindo circulam em embates mediados por alusões a remédios e piscininhas de motel, ao mesmo tempo em que toda uma vida de casados pode ser expiada pelo ralo. E na sala, os operários amarram a cara com a batata que cai no chão da marmita e fazem piadinhas autofágicas de suas misérias - "vida de pobre é boa", Fernanda saúda mais de uma vez para todos eles. E há ainda os fantasmas Luis Linhares, Fernando Torres e Jorge Loredo, que evocam Castro Alves, política, massas de macarrão e algumas tantas obscenidades. Com roteiro de Jabor e de Leopoldo Serran - mais a fotografia de Dib Lutfi - Tudo Bem é momento alto na história do cinema brasileiro, em que estão todos os desvarios de seu momento histórico - ditadura militar, fervor religioso, cinismo da classe média e cheiro de batata frita e sardinha. Prêmios de Melhor Ator Coadjuvante para Paulo César Peréio - que orquestra o coro Tudo Bem, enquanto Maria Silva entoa ladainha mortuária - e Melhor Fotografia para Dib Lufti no Festival de Brasília.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Pek,
ResponderExcluirJá vi este filme várias vezes e não me canso de gostar. Realmente é o Brasil em um apartamento. Magnífico e o elenco está todo muito bem.
Bjs.
Noel,
ResponderExcluirEsse filme é inacreditável de ótimo!
Bjs