sexta-feira, 15 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (239)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

239 - O Castelo das Taras (1982), de Julius Belvedere **1/2

Ah, a Boca, sempre ela. Foi lá, nesse celeiro efervescente de pouco dinheiro, mas muita criatividade e vontade de fazer cinema, que saiu esse que é o único filme dirigido por Julius Belvedere. Professor de literatura formado na USP - com mestrado e doutorado - Julius se apaixonou pelo cinema, fez alguns roteiros e realizou esse seu único filme. Produzido por Dourival Coutinho, que faz o protagonista ao lado de Esmeralda Barros, a trama gira em torno de três jovens que são levadas pela professora para pesquisas sobre parapsicologia em um misterioso castelo numa cidadezinha do interior. Só que com o andar da carruagem, veremos que a fixação da professora está toda no mítico Marquês de Sade e nas perversidades e libertinagens sexuais que sempre foram associadas a ele. Lá no castelo, elas vão encontrar um pastor protestante, que por sua vez terá sua vida e rotinas totalmente alteradas com a chegada das visitantes. O Castelo das Taras começa como um possível filme de suspense com muita mulher pelada - na verdade são apenas quatro, mas elas tiram a roupa o tempo inteiro, e no prazo de um dia e meio tomam três banhos, de rio, de cachoeira, de cascata. De cara se vê que aquilo tudo no início é só para fazer a festa dos marmanjos, mas ainda assim o interesse cinematográfico se mantém pela boa direção e a ambiência interessante - pontos também para a fotografia de Sergio Mastrocola e a montagem de Máximo Barro. Quando a professora começa os relatos dos prazeres de Sade, e eles são encenados, aí é que se tem certeza mesmo: tudo levará aos peitinhos e bundas de fora, como sempre. Isso até acontece, mas o filme se revelará mesmo é com uma história de terror, em que possessões, cabeças decepadas e ranger de dentes tomarão a cena. Daí, temos sexo associado ao terror, uma junção muito explorada pelo cinema mundial, mas que aqui particularmente aponta também, mesmo que involuntariamente, para outras subleituras, ao fazer de um evangélico o protagonista - e se no ínicio do filme ele purifica fiéis em batismo no rio lamacento, com os desdobramentos da trama fica impossível não desviar o pensamento do quão compuscardo ele pode estar mesmo fora do transe, daí hospedeiro ideal. Esmeralda Barros, musa que atuou em vários filmes de cineastas como Walter Hugo Khouri, Roberto Santos e José Miziara e com passagem pelo cinema italiano, é bela e forte presença - ainda no elenco feminino, Margareth Souto, Ely Silva e Silvana Alves como as alunas; e Hilda Ferracini, como a noiva do pastor. O Castelo das Taras é filme de gênero como só a Boca do Lixo sabia mesmo fazer, pois ainda que o orçamento exíguo seja perceptível, fica muito claro também como aquele pedaço foi geografia de sonho para muita gente, e quanto ela fez para a história do cinema brasileiro. E, como muitos outros rebentos daquela seara, também fez bonito na bilheteria.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários: