Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
237 - Vida de Artista (1972), de Haroldo Marinho Barbosa ***
obs.: não consegui imagem do filme
Com exceção de Julio Bressane com seu cinema anti-narrativo, são muito poucas as gentes do cinema atual que apostam nessa arriscada estética com propriedade. Daí que quando surge um Adágio Sostenuto (2008), de Pompeu Aguiar, ainda que o resultado não seja uma brastemp, a ousadia é mais que bem-vinda. Tudo muito diferente do múltiplo cinema dos anos 1970, em que além do libertário Cinema Marginal, cineastas de linhagens diversas também quebravam estruturas formais rígidas e realizavam filmes desconcertantes. Como esse Vida de Artista, que marcou a estreia em longas de ficção do carioca Haroldo Marinho Barbosa (foto), um dos cineastas mais subestimados desse país. Ainda que o tema seja espinhoso - os descompassos existenciais e a falta de rumo de uma juventude em um país mergulhado na ditadura militar - o que se vê é um filme-poema - como diria Jairo Ferreira "filme rimbaudiano/godardiano, com belos travellings nos túneis cariocas". Já no início, Pedro Bira escuta passivo o amigo discorrer sobre os caminhos da ciência versus metafísica. Daí, larga tudo, tenta mudar de vida e vai para o campo, onde encontra Tetê Medina, a Miguelona - atriz personalíssima e com timbre precioso e inconfundível, Tetê já conquista na primeira imagem com a cabeleira desgrenhada. Com ela caminha pelo mato, fala em poesia e filosofia, pensa ter encontrado o repouso do guerreiro, mas acaba voltando para o asfalto. Para a cidade do Parque Lage, do suicida anunciado Tite de Lemos em trajetória urbana existencial com Márcia Rodrigues, para a bruta falta de perspectivas - "tudo em volta está deserto, tudo certo como dois e dois são cinco". Vida de Artista mira seu foco aí, nos jovens e adultos de um momento histórico que lhe dá morte e medo no lugar de esperança e vida. Haroldo Marinho Barbosa - com argumento e roteiro seu, fotografia de João Carlos Horta e música de Jota e Sidney Miller - mira seu foco para esse estado de perplexão e faz um filme nunca fácil e doloroso sem arroubos, com dor nas entrelinhas. Lá não deve ter sido um filme para muitos, e aqui continua não sendo, mesmo passado quase 40 anos. Porém, quem deixar se seduzir, vai constatar o surgimento em longas de um cineasta talentoso e que faria filmes sempre com muito o que dizer, como Ovelha Negra - Uma Despedida de Solteiro (1974), Engraçadinha (1981), e Baixo Gávea (1986), todos eles retratos duros de uma juventude em momentos históricos diversos, mas sempre olhados com ternura em suas danações, desvarios, letargias e perplexidades.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
237 - Vida de Artista (1972), de Haroldo Marinho Barbosa ***
obs.: não consegui imagem do filme
Com exceção de Julio Bressane com seu cinema anti-narrativo, são muito poucas as gentes do cinema atual que apostam nessa arriscada estética com propriedade. Daí que quando surge um Adágio Sostenuto (2008), de Pompeu Aguiar, ainda que o resultado não seja uma brastemp, a ousadia é mais que bem-vinda. Tudo muito diferente do múltiplo cinema dos anos 1970, em que além do libertário Cinema Marginal, cineastas de linhagens diversas também quebravam estruturas formais rígidas e realizavam filmes desconcertantes. Como esse Vida de Artista, que marcou a estreia em longas de ficção do carioca Haroldo Marinho Barbosa (foto), um dos cineastas mais subestimados desse país. Ainda que o tema seja espinhoso - os descompassos existenciais e a falta de rumo de uma juventude em um país mergulhado na ditadura militar - o que se vê é um filme-poema - como diria Jairo Ferreira "filme rimbaudiano/godardiano, com belos travellings nos túneis cariocas". Já no início, Pedro Bira escuta passivo o amigo discorrer sobre os caminhos da ciência versus metafísica. Daí, larga tudo, tenta mudar de vida e vai para o campo, onde encontra Tetê Medina, a Miguelona - atriz personalíssima e com timbre precioso e inconfundível, Tetê já conquista na primeira imagem com a cabeleira desgrenhada. Com ela caminha pelo mato, fala em poesia e filosofia, pensa ter encontrado o repouso do guerreiro, mas acaba voltando para o asfalto. Para a cidade do Parque Lage, do suicida anunciado Tite de Lemos em trajetória urbana existencial com Márcia Rodrigues, para a bruta falta de perspectivas - "tudo em volta está deserto, tudo certo como dois e dois são cinco". Vida de Artista mira seu foco aí, nos jovens e adultos de um momento histórico que lhe dá morte e medo no lugar de esperança e vida. Haroldo Marinho Barbosa - com argumento e roteiro seu, fotografia de João Carlos Horta e música de Jota e Sidney Miller - mira seu foco para esse estado de perplexão e faz um filme nunca fácil e doloroso sem arroubos, com dor nas entrelinhas. Lá não deve ter sido um filme para muitos, e aqui continua não sendo, mesmo passado quase 40 anos. Porém, quem deixar se seduzir, vai constatar o surgimento em longas de um cineasta talentoso e que faria filmes sempre com muito o que dizer, como Ovelha Negra - Uma Despedida de Solteiro (1974), Engraçadinha (1981), e Baixo Gávea (1986), todos eles retratos duros de uma juventude em momentos históricos diversos, mas sempre olhados com ternura em suas danações, desvarios, letargias e perplexidades.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Pek,
ResponderExcluirVocê está seguindo o especial do Canal Brasil chamado Ver e Ser Visto, às terças-feiras meia noite? Vi o segundo episódiio ontem. É sobre o homossexualismo no cinema brasileiro. O episódio da próxima terça será sobre as pornochanchadas da década de setenta.
bjs.
Estou vendo sim, Noel.
ResponderExcluirAinda que ande achando meio vago, estou acompanhando com interesse.
Bjs