terça-feira, 28 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (226)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

226 - A Casa das Tentações (1975), de Rubem Biáfora **

Importante e controvertido crítico de cinema, o paulista Rubem Biáfora dirigiu três filmes: Ravina (1959); O Quarto (1968); e esse A Casa das Tentações. Alguns detratores acusam seus filmes de artificiais, como se o controle absoluto de cena praticado pelo cineasta tirasse toda naturalidade necessária para que seus personagens e seus dramas se tornem críveis. Quanto a O Quarto é uma injustiça tremenda, pois o rigor ali está intrinsicamente orgânico na história de Sérgio Hingst, o funcionário público mergulhado em solidão urbana; já aqui, de certa forma, o cineasta ofereceu, mesmo que involuntariamente, munição para os desafetos. Há em A Casa das Tentações um tom que emperra bastante a nossa relação com tudo aquilo que é mostrado, como se instalasse uma barreira que nos impossibilita de desenvolver interesse por aquela gente toda e os acontecimentos narrados, ainda que fascine em alguns momentos. Na trama, Flávio Portho, jovem andarilho com dramas existenciais - pensa que pode morrer aos 33 como Cristo - retorna ao casarão da família com a namorada Elizabeth Gasper, e a encontra detonada e decadente. Lá vive Aurea Campos, a bá, preocupada com os amigos do irmão dele, Francisco Cúrcio, que com o consentimento desse último querem fazer da moradia um bordel disfarçado de boate. Portho passa a rememorar o passado vivido na casa, ao mesmo tempo em que assiste impotente tudo ruir à sua volta. A direção de Biáfora - que também assina o argumento e o roteiro - adota uma estética quase teatral, com tomadas sem profundidade e os atores interpretando seus personagens em registro de planitude, ainda que seus dramas possam ser profundos. Efeito que a cenografia de Rocco Biaggi e a fotografia e a câmera de Cláudio Portioli potencializam - os tons coloridos, como o quarto vermelho, são destaques. Elizabeth Gasper, eternamente moderna, é presença marcante como a cantora sem direito à ribalta, já que Betina Viany - outra ótima presença - é a mulher que lhe retira o lugar real e no imaginário da casa. Mas quem rouba a cena em suas participações é Marilena Ansaldi em belos números de dança, e, sobretudo, Paulo Hesse como um auto-denominado diretor de teatro de vanguarda, que faz de Cavagnole Neto um Netuno hilariantemente ultrajado. Fora que em determinado momento tudo pára no filme para a entrada hipnotizante de Selma Egrei com sua beleza translúcida - no elenco feminino, fora papel de destaque para Arassary de Oliveira como a interesseira e neurótica Isabel, ainda tem Marlene França e Leina Krespi fazendo participações especiais. Pedro Stepanenko recebeu o APCA de Melhor Ator Coadjuvante como o escroque Voronoff, nessa que foi a despedida de Rubem Biáfora como cineasta.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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