Fui programador de cinema durante seis anos - e antes disso, assistente de programação em mais um tanto de anos.
Daí, sabia que programar filme com temática gay era garantia de público, pelo menos em BH onde ele comparecia em peso.
E isso porque realmente há poucos filmes com essa temática e os gays, como todo mundo, gostam de se ver nas telas e também que suas histórias sejam contadas - particularidade essencial do cinema, não é? a de nos refletir.
Ontem fui assistir Do Começo ao Fim, de Aluízio Abranches, e mais uma vez a urbe estava toda lá - além, claro, de chamar a atenção também dos heteros.
Como se sabe, o filme não fala apenas de uma relação homossexual, mas também incestuosa - e a polêmica explorada na internet fez dele um filme comentado e esperado.
O cinema de Aluízio Abranches, ainda que tenha uma "cara", pode resultar em filme de interesse como Um Copo de Cólera - que ousa em nu frontal masculino como só o cinema popular dos anos 70 sabia fazer, e vai além pois se dá direito à ereção;
( o cinema de hoje é capaz de fazer um filme todo em um quarto de motel, como Entre Lençois, e os atores, e a direção, ficarem escondendo paus e pererecas o tempo inteiro)
ou ao equivocado As Três Marias, filme que não saiu do roteiro e o que se vê na tela é uma trama atravancada e desperdício de talento.
E em Do Começo ao Fim, mais uma vez Abranches não chega lá.
Ainda que se assista ao filme com interesse, o problema crucial é o que está dito em todo canto: a ausência de conflito.
O diretor disse que quis contar uma história de amor e sem tornar pesado o tema.
Ok. Só que da forma que o roteiro foi construído, a ausência de conflito esvaziou por completo o sentido do filme.
E nem digo sobre o reles conflito entre os dois personagens, mas a compreensão em demasia de todos os personagens que cercam os dois belos moços. Principalmente o personagem de um dos pais, vivido por Fábio Assunção.
O cineasta disse também que é porque é uma família esclarecida.
Ora, por mais que a maioria de heteros ame seus amigos homos, pergunte para essa maioria se ela quer ter filhos gays? É claro que virão com a máxima de sempre: "não gostaria porque não quero que meu filho sofra". Hahaha, como se ser hetero, como eles, fosse garantia de não sofrimento. Para mim, sempre será apenas uma resposta, daquelas ensaidas com profundo sentimento... (ai, meus sais).
E no filme, ainda há o incesto, heim.
A direção acertou na personagem de Julia Lemmertz, que só com o olhar consegue passar todo o desconforto e o estar perdida frente à situação - ainda que pequena, é uma das melhores atuações da atriz no cinema, musa do cinema de Abranches.
Ora, por mais que a maioria de heteros ame seus amigos homos, pergunte para essa maioria se ela quer ter filhos gays? É claro que virão com a máxima de sempre: "não gostaria porque não quero que meu filho sofra". Hahaha, como se ser hetero, como eles, fosse garantia de não sofrimento. Para mim, sempre será apenas uma resposta, daquelas ensaidas com profundo sentimento... (ai, meus sais).
E no filme, ainda há o incesto, heim.
A direção acertou na personagem de Julia Lemmertz, que só com o olhar consegue passar todo o desconforto e o estar perdida frente à situação - ainda que pequena, é uma das melhores atuações da atriz no cinema, musa do cinema de Abranches.
Se em Quanto Dura o Amor?, de Roberto Moreira - onde há uma transsexual - o que incomoda é a fraqueza dos personagens - não das atrizes, que são ótimas - e que faz com que eles escapem da nossa memória, em Do Começo ao Fim incomoda mais ainda é o tom cor de rosa demais em que o filme mergulha seus personagens.
É uma pena, pois Do Começo ao Fim poderia realmente ser um bom filme.
O resultado ficou apenas um filminho bom de assistir, mas que incomoda pelo tom de artificialidade, principalmente depois que pensamos sobre ele.
Pois é, querido, eu gostei do filme. Além da beleza plástica dos rapazes, acho que ele inova, justamente por observar uma realidade inusitada. Também gostei de "Quanto Dura o Amor?", principalmente da personagem transexual e por localizar o filme em edifício conhecido de Sp. Achei que essa ambientação carinhosa, sem afetação ou disfarce, lembra o melhor cinema brasileiro.
ResponderExcluirAndrea querida, gosto da idéia ousada dos dois, mas ambos resultados me decepciona. O Quanto Dura o Amor é um filme que vai me escapando da memória, falta pujança naquela trama. E no Do Começo ao Fim acho que há idealização demais, tirando muito da verossimilhança.
ResponderExcluirBjs
Pek,
ResponderExcluirVoce foi feliz ao dizer que falta conflito no filme de Abranches. Coloquei minhas impressões sobre o filme em meu blog e não consegui esta palavra. Ela resume tudo. Plasticamente o filme é belo, mas é inverossímel em demasia. O mundo gay não é cor de rosa!
Bjs.
Pois é Noel, em que planeta aqueles personagens vivem, heim?
ResponderExcluirBjs
Querido Adilson,
ResponderExcluirJá tem um tempinho que não venho aqui mexer com você, mas era por causa da faculdade. Enfim acabei de chegar do Belas Artes onde assistir Do Começo ao Fim.Bom,não é o pior filme que já vi mas eu achei que faltava alguma coisa.Daí quando li o que você escreveu(e que escreveu muito bem, como sempre)achei você estava correto.Realmente,falta conflito,mas um conflito de verdade,não aquele conflitinho tosco.Mas fazer o que,né???
Beijos,
Até mais!
Carlinda,
ResponderExcluirBom vê-la aqui novamente.
Não acho o filme ruim, só que inverossímel.
Bj