segunda-feira, 22 de junho de 2009

terceiro dia na 4ª Cineop


Mais algumas ótimas atrações nesse domingo, terceiro dia na 4ª Cineop.

Foi realizado o segundo debate que mais queria assistir - ontem destaquei o primeiro, que dessa vez reuniu a atriz Neide Ribeiro, os cineastas Carlos Reichenbach e Guilherme de Almeida Prado e o crítico Inácio Araújo, com mediação do pesquisador e cineasta Luis Alberto Rocha Melo.

O debate Estratégias da Boca do Lixo já começou em grande estilo com a fala de Neide Ribeiro, musa amada da Boca, e que foi a primeira a falar dentre os convidados, com a declaração que fez cinema naquela época única e exclusivamente para ganhar dinheiro.

Em tom franco e divertido, Neide contou que queria mudar sua condição social, e daí trocou o trabalho de secretária pelo de modelo fotográfico e de telemoça do programa Silvio Santos. Que pensava no máximo em ser chacrete, e que não tinha a mínima idéia que seria atriz de cinema com tantos filmes no curriculo.

Que só pensava no dinheiro e daí usava a exposição do seu corpinho nos filmes. A platéia veio abaixo em risadas quando Inácio Araújo parabenizou a fala de Neide e disse que ele não tinha ido para a Boca por dinheiro, no que Guilherme de Almeida Prado emendou: "pelo corpinho é que não foi, não é?"

Neide disse que sua meta era sair do andar de cima do beliche da pensão vagabunda em que morava para comprar um apartamento nos Jardins, em São Paulo.

Disse que era jogo duro na cobrança dos cachês e que acabou conseguindo realmente comprar o sonhado apartamento. E de cobertura, acrescentou divertida.

Eu, claro, fiz uma entrevista com a deusa - em breve será publicada no meu site Mulheres do Cinema Brasileiro -, em que ela fala sobre esse começo, sobre os filmes, e sobre os diretores com os quais trabalhou.

Os ocupantes da mesa apresentaram suas considerações sobre o período da Boca do Lixo, mas a temperatura esquentou mesmo foi nas discussões sobre os sucessos do modelo atual da Globo Filmes, que Guilherme chama de Globochanchadas - mas sem deboche, e com respeito, como fez questão de frisar.

Guilherme saudou o sucesso das comédias de hoje, e disse que elas podem aquecer a indústria e fazer a cama para que o cinema brasileiro possa ter continuidade em suas outras formas de fazer cinema.

Inácio Araújo concordou em certa medida, dizendo que elas não podem ser ignoradas, mas Carlos Reichenbach se inflamou e chamou tudo aquilo de porcaria e que não vê serventia em nada disso para a história do cinema brasileiro.

Guilherme teve falas bonitas. Chamou a atenção também da crítica ao dizer que ela não está olhando para essa produção atual de forma equilibrada, mas com ranço de preconceito. E lamentou:

- vejo a crítica atual mais com farol de popa - ou seja, falando mais do passado, que de farol de proa.

E fez uma avaliação linda sobre a produção da Boca:

- Fizemos alguns filmes bons, muitos ruins, mas poucos medíocres.


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À noite, no Cine Vila Rica, uma das atrações foi o cine-concerto (foto Alexandre C. Mota) Le Rendez-Vouz du Sam´Di Soir, em que músicos da associação Double Cadence se apresentaram ao vivo acompanhando as exibições de três curtas franceses clássicos:

- La Petit Marchande D´Allumettes (1928) e Sur un Air de Charleston (1926) - ambos de Jean Renoir;
- e Entr´Acte (1924), de Rene Clair.

O concerto foi idealizado para a 4ª Cineop, já que a mostra faz parte do Ano da França no Brasil.
O público adorou e ovacionou a apresentação, e foi bacana mesmo - ainda que já estejamos habituados com que esse tipo de espetáculo, sobretudo nas experimentais apresentações de O Grivo, só que com acompanhamento experimental. O fato de ter sido no belo Cine Vila Rica deu, é claro, um charme todo especial.

Agora, o encanto arrebatador mesmo vem dos filmes, que permanecem deslumbrantes e modernos, mais de 80 anos depois.

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Ainda à noite no Cine Vila Rica, as exibições de dois filmes sobre o universo da Boca do Lixo:

- O média O Galante Rei da Boca, de Luis Rocha Melo e Alessandro Gamo;
- e o curta Minami em Close-Up - A Boca em Revista, de Thiago Mendonça.

Muito feliz a idéia da exibição em conjunto.

O média deMelo e Gamo é sobre o mítico Antonio Polo Galante, o GRANDE produtor da Boca, e o curta de Mendonça é sobre o editor da Revista Cinema em Close-Up, Minami Keizi, preciosa bíblia do cinema dos anos 70 - sou um dos felizardos que tem a coleção da revista, só que acho que incompleta.

Foi bonito ver a Boca na tela, já que os filmes são bons caminhos para quem não conhece ou quer descobrir novos viés para esse pólo fabuloso de produção.

E foi bonito ver também a Boca na platéia, já que a exibição contou com a presença de nomes da de lá como Carlão e Guilherme de Almeida Prado entre o público.

8 comentários:

  1. Oi Adilson! Se eu pudesse, teria ido aí pro Cineop. Muito legal a idéia de uma grande reavaliação desta parte "maldita" da nossa produção. A fala do Guilherme é sábia e muito verdadeira.
    Matheus Trunk
    www.violaosardinhaepao.blogspot.com

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  2. Pek,

    Tenho uma curiosidade e espero que ela seja satisfeita nas entrevistas para o Mulheres: o que fazem hoje as musas do Boca do Lixo?
    Você viu que nosso debate aqui em seu blog, em certa medida, foi reproduzido em Ouro Preto, conforme pude constatar nesta sua postagem.

    Bjs.

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  3. A melhor cobertura do Festival. Parabéns, Adilson!

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  4. Cobertura maravilhosa, Adilson. Cores vivas, tudo pulsando, dá a impressão de que nós estamos aí com vc em Ouro Preto. Beijos

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  5. Querida Andrea, muito obrigado.
    Você deveria estar aqui para falar sobre o público sobre esse tema que você conhece como poucos.
    Seria maravilhoso.
    Um beijo

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  6. Muito obrigado Sérgio.
    Bacana você estar gostando.
    Ainda mais vindo de você, já que a minha admiração é grande.
    Abs

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  7. Noel,
    Os debates por aqui foram o must da programação.
    Quando imaginaria que teria a oportunidade de estar ao lado, ouvir, e ainda entrevistar duas musas como Zilda Mayo e Neide Ribeiro?
    Quanto ao nosso debate sobre Globo Filmes, você adoraria estar aqui para ouvir a conversa entre Guilherme, Inácio e Carlão. Eu, inclusive, me lembrei muito de você e de nosso debate e até fiz novas reflexões sobre o tema.
    Quanto às atrizes, absurdamente não são chamadas mais para o cinema.
    Claro que falamos sobre isso nas entrevistas.
    Bjs

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  8. Grande Matheus,
    Você ia adorar isso aqui.
    Realmente, trazer a Boca para discussão foi um dos trunfos dessa 4ª Cineop.
    Enviei um email com um presente para você.
    Veja lá meu amigo.
    Abs

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