Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
288 - As Armas (1969) , de Astolfo Araújo ***
obs.: não consegui imagem do filme
O paulista Astolfo Araújo é mais um desses cineastas injustamente pouco comentados. Sócio de Rubem Biáfora na Data Cinematográfica, que produziu filmes de ambos, Astolfo foi casado com a atriz Joana Fomm, com quem fez As Gatinhas (1970) e Fora das Grades (1971). Esse As Armas é seu longa de estreia e foi produzido pelos papas da Boca Lixo Alfredo Palácios e Antonio Polo Galante. O argumento é dele e de Biáfora, já o roteiro assina sozinho. Na trama, Mário Benvenutti (foto) integra um grupo revolucionário como chofer do líder Cavagnole Neto, mas sempre descontente com sua função por ser mantido à margem das decisões e também por ser tratado como um simples funcionário, quado na verdade tem papel importante ao trasportar documentos sigilosos e perigosos. O grupo é formado ainda por Francisco Cúrcio, Pedro Stepanenko e Irene Stefãnia - essa última filha do chefe e noiva de Pedro, e por quem Benvenutti cresce o olho. Em angústia com seus mais de 35 anos e ainda sem casa para morar - não acredita nas promessas do BNH - ele está muito mais interessado nos seus desejos burgueses do que em qualquer luta por mudanças políticas no país. Esse desejo individual vai entrar em choque com o desejo coletivo - mesmo que esse também pareça ambíguo -, resultando em reviravoltas no seu destino e no dos integrantes da organização. Como em Fora das Grades, filme posterior, esse As Armas tem também estrutura seca, econômica, e sem delírios psicologizantes. E também como no anterior, a questão política está enraizada nos desatinos de seus personagens. Em alguns momentos, o César de Mário Benvenutti parece um pouco o Sérgio Hingst de O Quarto (1968), de seu parceiro Biáfora, ainda que a apatia de Hingst não encontre eco nas ações de Benevenutti - mas algumas semelhanças, como nos encontros com prostitutas nos dois filmes se fazem notar; lá, Hingst quer beijo na boca, aqui, Benevenutti exige, ainda que sem sucesso. Com bela fotografia p&b de Waldemar Lima, As Armas é produção corajosa, pois foi rodada durante a ditadura militar, valendo a Menção Honrosa para o cineasta no Prêmio Governador do Estado de São Paulo 1969. Como nos filmes de Walter Hugo Khouri, Mário Benvenutti é escalação acertada como protagonista, pois consegue encarnar uma certa virilidade claudicante aliada aos tormentos e angústia da alma - mesmo que esses tormentos e angústias se alojem em questões práticas, como é o caso de seu César aqui, um homem em busca de ascensão burguesa. Cúrcio e Neto, atores frequentes nas produções da Boca, dão veracidade aos seus personagens; já Irene Stefânia mais uma vez demonstra, com seu talento e sua beleza translúcida, porque foi uma das musas mais amadas de nosso cinema.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
288 - As Armas (1969) , de Astolfo Araújo ***
obs.: não consegui imagem do filme
O paulista Astolfo Araújo é mais um desses cineastas injustamente pouco comentados. Sócio de Rubem Biáfora na Data Cinematográfica, que produziu filmes de ambos, Astolfo foi casado com a atriz Joana Fomm, com quem fez As Gatinhas (1970) e Fora das Grades (1971). Esse As Armas é seu longa de estreia e foi produzido pelos papas da Boca Lixo Alfredo Palácios e Antonio Polo Galante. O argumento é dele e de Biáfora, já o roteiro assina sozinho. Na trama, Mário Benvenutti (foto) integra um grupo revolucionário como chofer do líder Cavagnole Neto, mas sempre descontente com sua função por ser mantido à margem das decisões e também por ser tratado como um simples funcionário, quado na verdade tem papel importante ao trasportar documentos sigilosos e perigosos. O grupo é formado ainda por Francisco Cúrcio, Pedro Stepanenko e Irene Stefãnia - essa última filha do chefe e noiva de Pedro, e por quem Benvenutti cresce o olho. Em angústia com seus mais de 35 anos e ainda sem casa para morar - não acredita nas promessas do BNH - ele está muito mais interessado nos seus desejos burgueses do que em qualquer luta por mudanças políticas no país. Esse desejo individual vai entrar em choque com o desejo coletivo - mesmo que esse também pareça ambíguo -, resultando em reviravoltas no seu destino e no dos integrantes da organização. Como em Fora das Grades, filme posterior, esse As Armas tem também estrutura seca, econômica, e sem delírios psicologizantes. E também como no anterior, a questão política está enraizada nos desatinos de seus personagens. Em alguns momentos, o César de Mário Benvenutti parece um pouco o Sérgio Hingst de O Quarto (1968), de seu parceiro Biáfora, ainda que a apatia de Hingst não encontre eco nas ações de Benevenutti - mas algumas semelhanças, como nos encontros com prostitutas nos dois filmes se fazem notar; lá, Hingst quer beijo na boca, aqui, Benevenutti exige, ainda que sem sucesso. Com bela fotografia p&b de Waldemar Lima, As Armas é produção corajosa, pois foi rodada durante a ditadura militar, valendo a Menção Honrosa para o cineasta no Prêmio Governador do Estado de São Paulo 1969. Como nos filmes de Walter Hugo Khouri, Mário Benvenutti é escalação acertada como protagonista, pois consegue encarnar uma certa virilidade claudicante aliada aos tormentos e angústia da alma - mesmo que esses tormentos e angústias se alojem em questões práticas, como é o caso de seu César aqui, um homem em busca de ascensão burguesa. Cúrcio e Neto, atores frequentes nas produções da Boca, dão veracidade aos seus personagens; já Irene Stefânia mais uma vez demonstra, com seu talento e sua beleza translúcida, porque foi uma das musas mais amadas de nosso cinema.
Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Nenhum comentário:
Postar um comentário