quinta-feira, 18 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (260)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

260 - A Terceira Margem do Rio (1993/94), de Nelson Pereira dos Santos *1/2

Maria Bethânia disse que tem carinho pela música sertaneja atual - gravou É o Amor, de Zezé di Camargo - mas que é a música caipira que a comove. E nos últimos anos vem dedicando trabalhos contínuos sobre o Brasil rural, chamado amiúde, já em quase clichê, de Brasil Profundo. E é esse Brasil Profundo a marca maior do GRANDE João Guimarães Rosa, que, muito apropriadamente, virou sinônimo singularíssimo desse universo na parte sertão que "lhe-nos" toca. Na prosa roseana, mais que os personagens, interessa ainda mais o mundo do sertão e o registro na epiderme e na alma desse mundo neles. Daí que nem sempre foi muito feliz quando abordado pelo cinema brasileiro, que às vezes prioriza as narrativas - a obra-prima A Hora e Vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos, é momento maior. Infelizmente, o encontro com Nelson Pereira dos Santos, autor de filmografia magistral, não deu certo, e com A Terceira Margem do Rio o cineasta realizou seu filme menor. Nelson sempre mirou a GRANDE literatura: foi sublime com Graciliano Ramos - Vidas Secas (1963) e Memórias do Cárcere (1984); imponente com Machado de Assis - Azyllo Muito Louco (1969/71) e A Missa do Galo (1982); deficiente com Jorge Amado - Tenda dos Milagres (1977) e Jubiabá (1985/87); além de feliz mergulho na dramaturgia de Nelson Rodrigues com Boca de Ouro (1963). Mas seu encontro com Rosa deu xabu. Exatamente por se interessar mais pelos personagens que pelo universo roseano, que o cineasta tomou caminho errado no roteiro que fez ao adaptar cinco contos do livro Primeiras Estórias, que o autor publicou em 1962 - A Terceira Margem do Rio, A Menina de Lá, Sequência, Fatalidade, e Os Irmãos Dagobé. Nelson misturou e condensou personagens e relatos em uma trama só, fazendo daí um rocambole que expulsou quase completamente as pulsações mais profundas do escritor. Dessa forma, o narrador do conto A Terceira Margem do Rio - que dá nome ao filme e que é que funciona um pouco melhor em relação aos outros - virou o pai de A Menina de Lá, o protagonista de Sequência e também de Fatalidade, além do cabra que enfrentou um d`Os Irmãos Dagobé. Vixe! Ao juntar tudo isso, ele diluiu as especificidades de cada um e desfigurou o diálogo conjunto. Na trama, Ilya São Paulo - Liojorge vive com a mãe Maria Ribeiro e a irmã Mariane Vicentini em uma casa na beira de um rio. Certo dia, ainda quando eram crianças, o pai deles sobe em uma canoa, adentra o rio e faz dela sua morada, sem jamais voltar para a terra firme, a não ser para pegar a comida que o filho lhe deixa todos os dias durante anos. Depois, Ilya se casa com Sonja Saurin e nasce a filha Bárbara Brandt - Nininha, que revela-se sensitiva e com poderes paranormais. Certo dia aparecem os terríveis Irmãos Dagobé, e um deles fica obcecado pela esposa de Ilya, que acaba fugindo com a família para Sobradinho, uma cidade-satélite de Brasília, para onde a irmã mudou-se com o marido Chico Diaz. E é lá que o destino de todos se cumprirá, com exceção de Ilya, que ainda prestará contas com o que deixou para trás. A Terceira Margem do Rio é uma co-produção Brasil/França - por isso a presença da atriz francesa Sonja Saurin - filmada em Paracatu-MG e em Sobradinho-DF. Durante os cinquenta minutos iniciais, a trama acontece em Paracatu, onde o melhor do filme acontece e a gente até pensa que a dobradinha Nelson-Guimarães funcionou. Mas depois, quando a ação vai para o DF, o rumo se perde e a adaptação - ainda que fiel às preocupações sociais do cineasta, mas distante das filosóficas e metafísicas do autor - revela toda a sua fragilidade. Destaque para a música de Milton Nascimento - sobretudo a canção-tema homônima, de Caetano Veloso e dele.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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