sexta-feira, 24 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (222)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

222 - Cara a Cara (1968), de Julio Bressane ****

Em 2007, Ilana Feldman e Cléber Eduardo lançaram o curta Almas Passantes - um percurso com João do Rio e Charles Baudelaire. Além de ficcionar um encontro entre o escritor e o poeta na cidade maravilhosa, eles colocaram Helena Ignez como uma passante no centro no Rio de Janeiro. Nada mais adequado, pois basta uma olhada para a forma como a atriz caminha para que o encanto se faça. Como acontece com Jeane Moreau em Ascensor para o Cadafalso (1957), de Louis Malle, e em A Noite (1961), de Michelangelo Antonioni, quando Helena Ignez flana em seus filmes, a gente vai imediata e cegamente atrás. E flanar é o que ela mais faz nesse Cara a Cara, estreia em longas de Julio Bressane - que antes da explosão do Cinema Marginal e do rompimento, andava com a turma do Cinema Novo e tem, inclusive, a Difilm deles na distribuição de seu primeiro rebento. Cara a Cara é daqueles filmes em que aparentemente nada de muito relevante está acontecendo. Paulo Gracindo e seus comparsas conspiram e fazem politicagem; Antero Oliveira bate ponto no serviço público e vigia Helena Ignez atrás das arvores; e Helena anda para cá e para lá em pose de dondoca moderninha. Só que quando o filme explode virulento, e ao som de Maria Bethãnia, um atordoamento se instala com tal intensidade, que fica-se estático frente a natureza violentamente exposta. Bressane - que também assina o argumento e o roteiro - cria cenas esteticamente impactantes, como as reuniões dos políticos na laje em meio às espinhas de antenas de TV; o personagem de Antero de Oliveira quase sempre mostrado em plongé a lhe achatar em meio aos arquivos poeirentos, gavetas intermináveis e corredores labirinticos; Helena Ignez na aula de balé empestiando de solidão os movimentos sincronizados das alunas. Subvertendo o universo de Kafka, o personagem de Antero - que faz trabalho sem rosto e lava os pés da mãe doente - faz ecoar seu grito, ainda que, ilusoriamente, a quebra das amarras o prenderá ainda mais ao seu destino anunciado. Premiado no Festival de Brasilia - Menção Honrosa para Bressane e Melhor Fotografia para Afonso Beato - Cara a Cara é estréia cheia de promessas de um cineasta que se confirmaria um dos grandes da nossa cinematografia. Destaque também para a estreia do ator João Paulo Adour aos 23 aninhos e no auge da beleza.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. Deu muita vontade de ver o filme, Adilson.

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  2. Que bom, meu amigo.
    Pelo menos esses meus comentários estão servindo para alguma coisa rsrsrs
    brincadeirinha.
    Adoro ver e escrever sobre esses filmes brasileiros tão variados entre si.
    Abração

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  3. Pek,

    Sempre seus comentários aguçam minha curiosidade para conhecer os filmes nacionais que ainda não vi. Você sabe que não gosto dos filmes do Bressane, mas não sou destes que deixa de ver porque não gosta de um diretor. Queria conhecer este filme.

    Bjs.

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  4. Noel,
    Sei que não gosta do Bressane, mas acho que vai apreciar esse Cara a Cara.
    E como disse para o Ailton, fico feliz que meus comentários despertem interesse para que os filmes sejam vistos ou mesmo revistos.
    Bjs

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