quarta-feira, 22 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (220)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

220 - Pára, Pedro! (1969), de Pereira Dias **

Muito antes das FMs da vida nos enfiarem goela abaixo música segmentada, como MPB, rock ou mesmo evangélica, ou ainda, vez ou outra, atolarem em série o pé na jaca em um gênero só, como axé, pagode ou funk, havia uma diversificação muito maior em uma mesmo rádio. E isso era um reflexo fiel da música brasileira, que sempre foi múltipla e era produzida e difundida lado a lado em suas diferentes ramagens. Daí que na década de 1960 havia samba, Bossa Nova, música de protesto, Tropicália, iê-iê-iê, música popular, e tudo ao mesmo tempo agora. E é por isso que se ouvia em 1967, ao mesmo tempo agora, Chico Buarque cantando Roda Viva, Caetano Veloso cantando Alegria Alegria, Roberto Carlos cantando Como É Grande Meu Amor Por Você, Nelson Gonçalves cantando A Volta do Boêmio. E é por isso também que músicas populares como Pára, Pedro, gravada naquele ano em compacto simples, fez do gaúcho José Mendes - parceiro de José Portella Delavy na canção - sucesso nacional e internacional, com passagem direta para o imaginário brasileiro . Para quem foi criança nessa época, era impossível não cantarolar o refrão "Pára Pedro, Pedro Pára". Foi com essa música que o ídolo, falecido precocemente em acidente de carro aos quase 35 anos e no auge da fama, foi parar no cinema, e fazer do filme homônimo a primeira produção colorida do Rio Grande do Sul e uma das maiores bilheterias do cinema gaúcho. Afinal, também naquela época, tínhamos um cinema genuinamente popular. Foram três filmes originados de sucessos de José Mendes, todos eles dirigidos por Pereira Dias - que depois vai dirigir cinco produções para outro ídolo das massas, Teixeirinha. A trama de Pára, Pedro! é ralíssima: em uma festa, Pedro dá um soco no secretário de um candidato a deputado porque entende que o homem havia difamado sua namorada, dizendo que ela estava de cacho com o político. Como a vítima caiu e bateu a cabeça em uma pedra, todos pensam que Pedro o matou e o aconselham a fugir. Inconformada com o sumiço do seu amor, Rosário contrata um bando para caçar o fugitivo, que pensa que ela realmente está com o novo pretendente e que foi ele e o coronel da região que estão à sua procura. Ainda que a história seja primária e o elenco idem - há muitos não-atores locais sem cancha para a câmera - há, talvez por isso mesmo, um tom de ingenuidade tão verdadeiramente impresso em cada fotograma que nos faz acompanhar com interesse o mostrado - muito do mérito é também de Pereira Dias, que fará o mesmo com os filmes de Teixeirinha. Como em outros títulos que focalizam a cultura gaúcha, aqui há também muito chimarrão, churrasco e danças tipicas como o fandango. Mas há um registro que parece tão sincero daquele povo, daquela região e daquela época, que o filme se sustenta em sua duração de quase uma hora e meia.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Esse é filme de pesquisador mesmo. E, mais uma vez, parabéns pelo belíssimo trabalho prestado ao cinema brasileiro com suas buscas pelos mais obscuros filmes. Merece uma cadeira de professor de cinema brasileiro numa faculdade de cinema.

    ResponderExcluir
  2. Maurílio,
    Adoro encontrar esses filmes que nem eu sabia da existência deles.
    E adoro assisti-los e escrever sobre.
    É inacreditável quantos filmes brasileiros estão por aí praticamente invisíveis.
    Obrigado pelas palavras.
    Abs

    ResponderExcluir