segunda-feira, 13 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (212)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

212 - O Bem Amado (2010), de Guel Arraes +

O Bem Amado, de Guel Arraes, é muito ruim! É uma pena, porque ainda que tenha detratores, o cineasta tem assinatura interessante e um estilo prontamente identificável - ainda que o calcanhar de aquiles possa estar aí, pois seja trajédia grega ou romana, a estética de cordel sempre impera. Só que aqui a receita desandou completamente, nesse filme que parece ter sido calculado na prancheta da Natasha Films para ser sucesso inquestionável - já passou dos 800 mil espectadores, mas os produtores almejam dois milhões e meio. Pobres de nós! Quando Arraes coloca o nome de Sucupira no mapa no lugar do Brasil, tudo o que se achou durante o tempo todo vira certeza: a necessidade de fazer espelho da cidade de Odorico Paraguaçu, Zeca Diabo e as Irmãs Cajazeiras com o país está longe de qualquer busca de sutileza - aferição que os telespectadores da novela sempre fizeram naturalmente . E daí, toma clipagem jornalística em ritmo MTV entre os fatos históricos brasileiros e os sucupirenses, com direito a desfile de políticos reais como Jãnio Quadros, João Goulart, Tancredo Neves e Lula. Afe! Há nas tramas de Dias Gomes - autor da peça - como também nas de Jorge Amado, um casamento perfeito entre política e gente de cor local. E por mais que em primeiro momento os personagens dos autores pareçam apenas arquetípicos, estabelece-se um pronto olhar amoroso e de reconhecimento, como se todos eles fossem nossos vizinhos de porta. Só que nada disso sobreviveu nessa adaptação desastrosa, em que nem o elenco de grandes atores se salva. Todos já sabem suficientemente do que é capaz gente como Marco Nanini - que também deu vida ao personagem no teatro, Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa - essa última está um pouco melhor. Por isso, o que eles mostram em cena só acentua o nosso desagrado. Para ficar em apenas em um exemplo, nem precisa ir ao cinema, basta lembrar-se de Beltrão no seriado A Grande Família ou na minissérie O Som e a Fúria para saber quão extraordinária atriz ela é. Daí cabe a pergunta: o que fizeram com ela aqui? E o que dizer do Zeca Diabo de José Wilker? Ou mesmo de Tonico Pereira, um GRANDE ator, mas aqui reduzido a uma cabeleira desgrenhada que chama mais atenção do que todo o resto que faz? Matheus Nachtergaele, com um Dirceu Borboleta diverso do de Eliliano Queiroz, é um dos poucos que se salva. Muito se falou na possível dificuldade de assimilação do filme, já que O Bem Amado da TV está enraizado no imaginário popular, assim como o Odorico de Paulo Gracindo e o Zeca Diabo de Lima Duarte. Bobagem. Grandes obras podem ser reinventadas, só que infelizmente aqui o pressentimento vingou, culpa tanto da direção como do roteiro equivocados. O Bem Amado deve ter uma ou duas tiradas engraçadas - e todas na boca de Edmilson Barros, como o coveiro bêbado Moleza. De resto, o de sempre nessas comédias de pretenso cunho popular - essa aqui com um orçamento nada popular de quase 10 milhões - como a trilha sonora com Caetano Veloso e releituras moderninhas para sucessos que muitos desavisados chamam de brega. Ah, a trama... Como todo mundo sabe, conta a história do prefeito corrupto Odorico Paraguaçu, que faz da construção do cemitério em Sucupira sua principal plataforma política. E para isso não poupa no orçamento, e também no caixa dois. Só que ninguém morre na cidade, a obra se torna um elefante branco, fato que vira prato cheio para a oposição. Há, ainda, toda uma fauna de personagens que circula em torno do político. Depois do interessantíssimo Romance (2007), que, infelizmente, pouca gente foi ver, Guel Arraes almejou muito com esse O Bem Amado, mas fez pouco. Principalmente levando em conta o tamanho do seu talento. Bola fora e caríssima.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. acho impossível chegar aos pés do original. pelo trailer eu já não gostei. achei caricato demais, a ponto de ficar amador.

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  2. Achei o filme uma lástima, Rita.
    Muito muito muito ruim.
    Bjs

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