terça-feira, 17 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (188)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

188 - O Rei da Boca (1982), de Clery Cunha *****

Que cosmética da fome que nada! No cinema de Clery Cunha os bandidos suam, as putas suam e a polícia também sua. E não adianta estar de um ou do outro lado da lei, pois como já dizia o bordão da outra, não é brinquedo não. Como no Paraíba de Jece Valadão e Victor Lima - Paraíba, Vida e Morte de Um Bandido (1966) - aqui também acompanhamos um longo flashback a partir do momento crucial em que a polícia trancafia o bandidão do pedaço. Ele é Roberto Bonfim, que vai para o caburão enquanto Wilza Carla vibra com sua decaída. Daí, acompanhamos sua escalada desde o início como peão de fazenda, garimpeiro, e, por fim, Rei da Boca. Depois de achar e surrupiar pedra no garimpo que vai dar jeito na sua vida, ele é torturado barbaramente - e Clery mostra tudo, inclusive o pau encolhido de Bonfim de tanto levar choque e porrada. Depois de dar pernada a três por quatro vai parar em Sampa, mete-se em briga, vai para a cadeia, vai mais uma vez, e lá faz curso completo de malandragem. Quando sai, embarca no mundo do tráfico, na primeira vez com a maconha e na segunda com a cocaína, e se intitula rei, ainda que duvide quando Wilza, velha e calejada cafetina, avisa que assistirá sua derrota. Depois de dirigir o grande sucesso de público Joelma, 23. andar (1980), filme catástrofe baseado em tragédia real e de acento espírita, Cunha voltou ao mundo policial onde já realizara Os Desclassificados (1972), e O Outro Lado do Crime (1979), e fez seu melhor filme. Aqui, conta com Roberto Bonfim, antes da fase atual em que anda fazendo caras e bocas e quando era um dos mais interessantes atores do cinema nacional, como o protagonista Pedrão, em elenco sensacional. Pois O Rei da Boca junta, de uma vez só, três deusas em ótimas atuações, Zilda Mayo, Claudette Joubert e Zaira Bueno, cada uma dando veracidade às putas do baixo meretrício como são na real e como são também no cinema sem truques de Cunha. E tem ainda a bela Tania Gomide, diretamente da grife Aluga-se Moças de Deni Cavalcanti, como refém literalmente chave de cadeia. É incrível como Clery Cunha tem pleno domínio, tanto na direção de cena quanto na direção de atoes. Em O Rei da Boca há pulsão de vida e morte incrustada em cada fotograma, mas não aquela para a qual o paraíso está ali há dois passos. Aqui, o buraco é quente e bem mais embaixo, e Clery sabe bem disso. Não à tôa já começa os créditos agradecendo aos rufiões, trombadinhas, trombadões, prostitutas e afins, toda uma fauna da Boca do Lixo onde filmou e que, com certeza, contribuiu e muito para a verdade que exala da tela.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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