terça-feira, 10 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (183)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

183 - A Culpa (1971), de Domingos Oliveira *****

Escrita por Lauro César Muniz e exibida na Rede Globo entre 1979 e 1980, a novela Os Gigantes não fez muito sucesso, mas era um deleite doído assistir toda noite a sua charmosa e melancólica abertura em close na protagonista Dina Sfat, ao som da bela canção Horizonte Aberto com Sérgio Mendes e Gracinha Leporace. Muito daquela aura enigmática dessa estupenda atriz, ainda que em registro diverso, pode ser visto em maravilhosa cena crepuscular em frente ao espelho desse surpreendente A Culpa - é momento inesquecível. No filme, Dina Sfat e o irmão Paulo José - casados na vida real na época - matam o pai, com a ajuda também de Nelson Xavier, o noivo. Daí herdam a fortuna do construtor e se mudam para o Reduto, casarão de campo onde passaram a infância. Ainda que a polícia tenha, aparentemente, engolido a possibilidade de desaparecimento do empresário, não será muito fácil para eles desviarem de seu incômodo assédio. Principalmente quando uma série de acontecimentos perturbadores e inquietante têm início e Nelson Xavier passa a ser assolado por dores de cabeça intensas. Ainda que em Todas as Mulheres do Mundo (1967) e em Edu, Coração de Ouro (1968) vê-se pitadas de melancolia, eles são, sobretudo, filmes solares. Daí a surpresa com esse A Culpa, todo ele pra dentro, soturno, introspectivo. No prólogo, Domingos Oliveira, que assina o argumento e divide o roteiro com Joaquim de Assis, decanta teoria de Freud, em que na origem seríamos herdeiros de uma consciência criminosa, e portanto culposa, já que o pai primeiro foi assassinado pelo filhos que nos geraram. E arremata, dizendo que mesmo que tenhamos participado ou não daquele crime somos todos culpados em essência, pois a culpa é a expressão do embate entre os instintos do amor e da morte. Altamente sofisticado, todo o filme é construído a partir dessa premissa, com esse sentimento que, em teoria mais simplória mas altamente corrosiva como a culpa católica, também faz seus estragos em todos nós de geração à geração. Dina Sfat, Paulo José e Nelson Xavier estão soberbos - e eles são sempre - mas o que mais salta ao olhos é a fotografia acachapante. Ela é mesmo quase um personagem dentro do filme, já que é a partir da atmosfera criada por ela que nos embebedamos em mel e fel desse breve e intenso retrato trágico da existência. Não à toa Rogério Noel papou todos os prêmios da categoria na época - Festival de Brasília, Governador do Estado de São Paulo, Coruja de Ouro, APCA. Dina Sfat faturou o Air France, e Domingos Oliveira o Coruja de Ouro. Mais um belíssimo filme de um cineasta singular do cinema nacional, A Culpa merece ser mais conhecido.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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