segunda-feira, 26 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (170)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

170 - O Signo do Caos (2003), de Rogério Sganzerla ****

"Todo brasileiro devia ser proibido de existir". "Mas ele já é punido ao nascer e morre sem saber porque". "Vou abrir a barriga do Brasil e tirar tudo que tem dentro". "Não gosto de conhecer quem eu não conheço". "No Brasil todo mundo faz cinema, e todo mundo acha que está fazendo cinema". "Vamos tirar o cinema da sala de brinquedos". Essas e outras falas geniais estão no último petardo de Rogério Sganzerla, O Signo do Caos. Quem conhece sua obra sabe do fascínio de um dos nossos maiores e mais modernos cineastas pela passagem do mestre Orson Welles pelo Brasil para filmar o inacabado It´s All True e todas as complicações decorrentes. E como em outros filmes seus, Sganzerla mais uma vez revisitou o fato nesse seu último trabalho. Tanta fixação, para além da genialidade de Welles, é porque, certamente, o episódio fala, ainda que involuntariamente, muito do que é o cinema e, sobretudo, muito do que é o Brasil. Aqui, ele focaliza Dr. Amnésio, controlador da alfândega marítima e seu bando de funcionários/compasas, que se atiram com fúria e escárnio às latas de filmagens de It´s All True. O discurso oficial é de o que filme não presta - "nogento e pestilento", ele vocifera - por divulgar imagem negativa do Brasil no exterior em plena era da Política da Boa Vizinhança, mas na verdade o que impera é o gozo de poder rasteiro, tupiniquim e hipócrita. E enquanto esses censores exibem as imagens internamente, ele disparam pérolas de achaques e impropérios. Só Morel, Salvio do Prado - ater-ego de Rogério? - faz as defesas do filme, mas que se revelarão quase terrivelmente inúteis diante aos própositos da da urbe. Há, depois, uma comitiva aloprada de poder travestido idem que dá continuidade ao julgamento da obra de Welles, enquanto ela própria encena a visão de país que quer negar. O Signo do Caos é soberbo nessa primeira parte em preto-e-branco, com um Olávio Terceiro como Dr. Amnésio em estado de graça. Quando fica colorido e entra a segunda parte da comitiva ele cai um pouco, porém sem perder o fascínio. Durante grande parte do filme, sente-se a ausência de Helena Ignez, a grande musa, e mulher, do cineasta e de seu cinema. Mas quando ela aparece de vermelho e de piteira logo a gente reconhece o quanto o cinema sganzerliano e o moderno cinema brasileiro deve à essa deusa - a cena em que é filmada em plongée no pier com um mar de chumbo ao fundo é, por si só, obra de arte. O Signo do Caos coloca em cena mais três beldadades - Djin Sganzerla, a lolita lasciva; Giovanna Gold e Camila Pitanga, ambas líndissimas - mas é Helena que nossos olhos procuram. Tem ainda no elenco outro mito do Cinema Marginal, Guará Rodrigues, em um de seus últimos filmes.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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