sábado, 26 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (143)


Longas brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)


143 - Bonequinha de Seda (1936), de Oduvaldo Vianna ****

Superprodução da Cinédia, Bonequinha de Seda é a estreia da cantora lírica, atriz e cineasta Gilda de Abreu no cinema. Os registros apontam que o papel foi feito para Carmen Miranda, que não pode fazer, e Gilda, sucesso nos palcos, foi escalada. E ela faz sua Marilda muito bem. Na trama, Gilda é filha de um alfaiate que procura Delorges Caminha, dono da casa em que mora com sua família, para expandir o prazo de pagamento de dívida de aluguel. Humilhada pelo proprietário, ela é ajudada por Conhchita de Morais e sua filha Déa Selva, passa por francesa rica, e desperta a paixão naquele que a humilhou. A partir daí, desfila pela corte e faz jogo de gato e rato com o fã apaixonado. Divertida comédia de situação, que se alonga um pouco indevidamente em um número musical em que se contrapõe a bonequinha de seda e a bonequinha de pano, o filme parece ter sido feito mesmo para Gilda. A atriz estreia muito bem e empresta graça zombeteira à sua personagem e não perde a mão nas passagens dramáticas. Com argumento e roteiro também assinados por Oduvaldo Vianna, um dos grandes méritos da história é que todos os personagens secundários são bem delineados e com função na trama. A história da filha de alfaiate que se passa por francesa famosa, e por isso aceita e admirada nos grandes salões, é uma crítica bem-humorada à colonização de nossa elite da época, para a qual a cultura francesa era o máximo de refinamento. E para falar de tudo isso, e também contar com o canto cristalino de Gilda, a direção utilizou a fotografia majestosa do GRANDE Edgar Brasil, que valoriza o cenário rico em moldes hollywoodianos - modelo em que a Cinédia se inspirou na sua pioneira empreitada de construir uma indústria cinematográfica brasileira. A vontade explícita em realizar uma comédia no molde americano descamba em resultado híbrido que, mais que incomodar, diverte os nossos sentidos, ainda mais vista hoje, mais de sete décadas depois. Um dos destaques é a bela cena em que Marilda aparece em frente a um espelho e em cada giro que faz mostra um figurino diferente e luxuoso. Bonequinha de Seda agradou em cheio o público que lotou os cinemas. A cópia restaurada é uma possibilidade maravilhosa de ver esse debut de Gilda nas telas e também uma das maiores musas da época, Déa Selva, revelada na obra-prima Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro, e que faria trajetória no cinema nacional até os anos 50. Mas Bonequinha de Seda é mesmo de Gilda de Abreu, que uma década depois voltaria novamente à Cinédia, mas dessa vez como diretora de um dos maiores sucessos não só do estúdio como do cinema brasileiro: O Ébrio (1946), com seu marido Vicente Celestino.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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