Finalmente estreou No Meu Lugar, o filmaço do cineasta e crítico Eduardo Valente.
Tenho um afeto genuíno por Eduardo Valente, e fiquei muito feliz ao assistir ao seu primeiro longa, pois aí tive a certeza que ele está ao lado de gente que faz o melhor cinema brasileiro atual, além de alguns veteranos - em que figuram nomes essenciais como Beto Brant, Karin Aiñouz, Tata Amaral, Eliane Caffé e Cláudio Assis.
A primeira vez que assisti No Meu Lugar foi no início do ano na Mostra de Tiradentes, e escrevi o artigo abaixo para o meu site, o Mulheres do Cinema Brasileiro.
E continua valendo, pois é um dos melhores filmes brasileiros do ano e tem interpretações gigantescas, como a do iluminado Márcio Vito e uma Dedina Bernardelli sempre ótima.
Corram pra ver.
O Lugar de Valente
“No Meu Lugar foi o filme mais esperado da 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes”. Isso porque o cineasta Eduardo Valente tem uma carreira importante no curta-metragem e o filme é sua estréia em longas. Outro fator de destaque sobre Valente é por ter sido premiado no Festival de Cannes em 2002 pelo curta “Um Sol Alaranjado”, o que lhe garantiu a exibição de “No Meu Lugar” em uma das mostras do Festival francês. E "No Meu Lugar" não decepcionou. Mais que isso, é um filmaço!
A pré-estréia de “No Meu Lugar” foi mesmo a primeira exibição para o público e nem os atores tinham visto ainda o resultado final. A equipe participou da sessão, inclusive dois dos três protagonistas, os atores Dedina Bernardelli e Márcio Vito, além do ator mirim João Pedro Celli, o roteirista Felipe Bragança, o montador Quito Ribeiro e a diretora de arte Tainá Xavier.
Dedina Bernardelli contou no debate da Mostra que é muito controladora e por isso ficava aflita porque durante os testes e a preparação de elenco não tinha encontrado o diretor. E mais, sabia que tinha mais dois núcleos de histórias, mas não fazia idéia de que histórias seriam essas. Eduardo Valente defendeu a função de preparador de elenco, a cargo de Pedro Freire, e disse que não quis participar das escolhas na hora do teste porque não queria contato direto, estava à procura dos personagens e não dos atores. E daí, via o material gravado e fazia as escolhas a partir dele. E a opção por não revelar para os atores as diferentes histórias foi porque não queria que eles atuassem em resposta aos personagens dos outros núcleos, já que todos, mesmo sem saber como, estavam interligados.
“No Meu Lugar” focaliza três núcleos de personagens que não se encontram na tela, todos eles marcados por um fato trágico. O filme impressiona, antes de qualquer coisa, pelo domínio narrativo e a direção segura. O roteiro em parceria com Felipe Bragança, de “A Fuga da Mulher Gorila” (e mais Gustavo Bragança e Marco Dutra no desenvolvimento de alguns personagens) e a montagem de Quito Ribeiro também dão sustentação a esse vigoroso filme que confirma o talento do cineasta.
Se a procura pelos atores deu trabalho, o resultado valeu a pena, a começar pelos protagonistas. Dedina Bernardelli, atriz de carreira cinematográfica desde a década de 80 e com momentos marcantes em filmes de Ivan Cardoso e Domingos Oliveira traz a carga dramática necessária para sua personagem. Em nenhum momento ela é melodramática, mas passa a intensidade interior da personagem em uma composição precisa e econômica. Raphael Sil consegue passar para o público as mudanças sofridas pelo seu personagem, entre o cotidiano duro como entregador de supermercado, o contexto da favela em que vive e a relação amorosa com doméstica da casa epicentro da trama – um belíssimo trabalho de Luciana Bezerra.
E por fim Márcio Vito como o tenente afastado pela polícia. Se a Mostra do ano passado teve no trabalho de Eucir de Souza em “Meu Mundo em Perigo”, de José Eduardo Belmonte, um dos pontos máximos, nessa 12ª edição foi a vez de Márcio Vito. Ator de teatro com pequenas participações em filmes de Lúcia Murat (“Quase Dois Irmãos”) e “A ostra e o Vento” (Walter Lima Jr), Márcio Vito encarna seu primeiro protagonista nas telas com fôlego e intensidade marcantes. É, com certeza, trabalho para muitos prêmios de Melhor Ator.
Ainda a destacar, mais outros belos trabalhos femininos: Nívea Magno como a filha do policial; Maria Salvadora como a mâe do Beto; e Leticia Tavares como Lili.
Quem acompanha os escritos de Eduardo Valente como crítico na revista Cinética pode até não gostar de seu olhar para o cinema – eu mesmo divirjo bastante, ainda que tenha interesse por sua escrita e muito mais pelo seu olhar mais evidenciado nos debates que nos textos. Já o cineasta é da mais alta linhagem.
A pré-estréia de “No Meu Lugar” foi mesmo a primeira exibição para o público e nem os atores tinham visto ainda o resultado final. A equipe participou da sessão, inclusive dois dos três protagonistas, os atores Dedina Bernardelli e Márcio Vito, além do ator mirim João Pedro Celli, o roteirista Felipe Bragança, o montador Quito Ribeiro e a diretora de arte Tainá Xavier.
Dedina Bernardelli contou no debate da Mostra que é muito controladora e por isso ficava aflita porque durante os testes e a preparação de elenco não tinha encontrado o diretor. E mais, sabia que tinha mais dois núcleos de histórias, mas não fazia idéia de que histórias seriam essas. Eduardo Valente defendeu a função de preparador de elenco, a cargo de Pedro Freire, e disse que não quis participar das escolhas na hora do teste porque não queria contato direto, estava à procura dos personagens e não dos atores. E daí, via o material gravado e fazia as escolhas a partir dele. E a opção por não revelar para os atores as diferentes histórias foi porque não queria que eles atuassem em resposta aos personagens dos outros núcleos, já que todos, mesmo sem saber como, estavam interligados.
“No Meu Lugar” focaliza três núcleos de personagens que não se encontram na tela, todos eles marcados por um fato trágico. O filme impressiona, antes de qualquer coisa, pelo domínio narrativo e a direção segura. O roteiro em parceria com Felipe Bragança, de “A Fuga da Mulher Gorila” (e mais Gustavo Bragança e Marco Dutra no desenvolvimento de alguns personagens) e a montagem de Quito Ribeiro também dão sustentação a esse vigoroso filme que confirma o talento do cineasta.
Se a procura pelos atores deu trabalho, o resultado valeu a pena, a começar pelos protagonistas. Dedina Bernardelli, atriz de carreira cinematográfica desde a década de 80 e com momentos marcantes em filmes de Ivan Cardoso e Domingos Oliveira traz a carga dramática necessária para sua personagem. Em nenhum momento ela é melodramática, mas passa a intensidade interior da personagem em uma composição precisa e econômica. Raphael Sil consegue passar para o público as mudanças sofridas pelo seu personagem, entre o cotidiano duro como entregador de supermercado, o contexto da favela em que vive e a relação amorosa com doméstica da casa epicentro da trama – um belíssimo trabalho de Luciana Bezerra.
E por fim Márcio Vito como o tenente afastado pela polícia. Se a Mostra do ano passado teve no trabalho de Eucir de Souza em “Meu Mundo em Perigo”, de José Eduardo Belmonte, um dos pontos máximos, nessa 12ª edição foi a vez de Márcio Vito. Ator de teatro com pequenas participações em filmes de Lúcia Murat (“Quase Dois Irmãos”) e “A ostra e o Vento” (Walter Lima Jr), Márcio Vito encarna seu primeiro protagonista nas telas com fôlego e intensidade marcantes. É, com certeza, trabalho para muitos prêmios de Melhor Ator.
Ainda a destacar, mais outros belos trabalhos femininos: Nívea Magno como a filha do policial; Maria Salvadora como a mâe do Beto; e Leticia Tavares como Lili.
Quem acompanha os escritos de Eduardo Valente como crítico na revista Cinética pode até não gostar de seu olhar para o cinema – eu mesmo divirjo bastante, ainda que tenha interesse por sua escrita e muito mais pelo seu olhar mais evidenciado nos debates que nos textos. Já o cineasta é da mais alta linhagem.
Belíssimo filme. E dirigido por uma figura para lá de carismática e dono de uma escrita muito refinada.
ResponderExcluirQue bom que gostou do filme, Maurilio.
ResponderExcluirComo disse, acho um fimaço!
Abs