domingo, 17 de janeiro de 2016

Longas Brasileiros assistidos em 2016 (016)

Permanência (2014)
Direção: Leonardo Lacca


Falar da importância do cinema de Pernambuco hoje é chover no molhado. Há muito, crítica e público voltam os olhos para o estado, sobretudo para Recife, polo de produção que se impôs para todo o país pela qualidade de seus realizadores e filmes. São muitos os nomes: Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Marcelo Gomes, Hilton Lacerda, Kleber Mendonça, Daniel Aragão, Gabriel Mascaro. E também, Leonardo Lacca. Diretor de vários curtas, como Interferência (2004), Ela morava na frente do cinema (2011), Décimo segundo (2007), e Ventilador (2015), Permanência (2014) é sua estreia em longa-metragem. O filme recebeu cinco prêmios no Cine PE, Festival de Recife: Melhor Filme, Atriz (Rita Carelli), Atriz Coadjuvante (Laila Pas), Ator Coadjuvante (Genézio de Barros) e Direção de Arte.


Em Permanência Irandhir Santos é um fotógrafo que sai do Recife para a abertura de sua primeira exposição individual em São Paulo. Daí, hospeda-se na casa de sua ex-namorada, Rita Carelli, agora casada com Sílvio Restiffe. Esse reencontro afetará os sentimentos de todos esses personagens. Em seu primeiro longa, Leonardo Lacca aposta muito mais no mundo interior de cada personagem do que em qualquer outro tipo de ação externa. Elas até acontecem, mas são miúdas. Só que de miúdas não tem nada as entrelinhas e os subtextos pelos quais a trama e aquelas pessoas trafegam. Em um primeiro momento poderia se pensar em sentimentos internos que estão submetidos apenas a acontecimentos pretéritos, mas aos poucos vamos percebendo que o externo também se impõe, principalmente pelo novo estado de coisas: há um novo casal e o protagonista está alijado dessa história; há o momento da primeira exposição, em metáfora paradoxal, já que o personagem não parece nem um pouco à vontade de se mostrar; há o relacionamento com o pai amoroso, Genézio de Barros, mas que não o assume para a família oficial; há o breve envolvimento com a bela assistente da galeria, Laila Pas; e há o deslocamento da Recife natal e a impessoalidade da megalópole São Paulo. Em determinado momento, a dona da galeria, Sabrina Greve, diz para o fotógrafo que “menos é mais”. E parece ser nisso que Lacca acredita, pelo menos para tecer a teia desse reencontro, que se revela mais pelo não dito e pelas informações negadas ao espectador por inteiro, ainda que sempre sugeridas ou deixadas aqui e acolá como pistas. Incomoda o fato da nudez das atrizes, inclusive frontal, enquanto o protagonista é poupado. Poderia até ser uma leitura para mais uma recusa paradoxal em relação ao fotógrafo que está para "se mostrar" em exposição para o público, mas o desconforto com essa opção estética se impõe. Só depois de assistir esse Permanência é que fui saber que ele é uma retomada da história e dos personagem do curta do cineasta, Décimo segundo - vale a pena assistir também ao curta para ver se o tal pretérito dos personagens será revelado ou se as tais mais informações continuarão "escondidas" pelo roteiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário