terça-feira, 23 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (264)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

264 - O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil (1971), de Antonio Calmon *****

Se não tivesse todas as qualidades que o destaca como um dos cineastas brasileiros mais subestimados desse país - e o Insensatez não se cansa de apontar o dedo para uma certa crítica boçal que o ignora - Antonio Calmon já seria ímpar por uma única marca inquestionável de seu cinema: o casamento perfeito entre imagem e música nos seus filmes. Nessa seara a expressão não pode ser mesmo outra: o cara é foda! E aqui nesse O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil, seu longa de estreia, mais uma vez a trilha é arrasadora. Assinada por Nelson ângelo, é raro ver a música jovem dos anos 1960/70 como Os Mutantes, Jorge Benjor - ainda Ben, Roberto Carlos e Caetano Veloso ser utilizada de forma tão genial. Senão, qual adjetivo para qualificar a aparição estonteante de Norma Bengell de roupa negra transparente a revelar os seios e ao som de Ôba, Lá Vem Ela, de Ben? Ou então Suzana de Moraes na janela e depois em frente ao espelho e se contorcendo na cama nos braços de Claudio Marzo ao som de As Flores do Jardim de Nossa Casa, de Roberto? Com fortes tintas experimentais e em sedutor cinemascope, esse primeiro longa de Calmon se utiliza das magistrais fotografia e câmera de Affonso Beato, que desde os anos 60 já mostrava genialidade - e muito antes de ser incensado pelos modernos com os filmes acachapantes de Pedro Almodovar. Se o príncipio básico do cinema está na imagem e na forma de contar, O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil nada de braçada, pois há imagens completamente arrasadoras, como Bengell dançando e agitando a cabeleira; mais uma dança, dessa vez entre Hugo Carvana e Sergio Oliva; e o belíssimo travelling na casa em que Marzo, Bengell e Billy Davis, o chofer-amante, vivenciam cena-ópera. Egresso do Cinema Novo, em que foi assistente de muita gente, como Cacá, Glauber, Dhal e Jabor, Calmon não se furta a fazer citação avacalhada de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Rocha, colocando as musas Dina Sfat, Sonia Braga e Maria Gladys para se estrebucharem no mato, com a última debochando da cena em cima de um formigueiro - Gladys, aliás, sacaneia deliciosamente o próprio cineasta em cena de filmagem dentro do filme. Na trama, Claudio Marzo é um empresário poderoso que vive fustigando os sócios John Herbert, Roberto Maya e Paulo César Peréio, não se intimidando inclusive a papar as mulheres deles. Certa noite, cruza seu caminho Norma Bengell, estranha emissária de um certo Dr. Moura Brasil, que vem cobrar seu quinhão em acordo feito com ele, o vulgo Capitão Bandeira. A partir daí, Marzo entra em crise, joga tudo para o alto, vai parar em um sanatório, e depois, acompanhado do amigo Hugo Carvana, sai em busca de um possível caminho de redenção para sua vida, mesmo sem entender que a ameaça possa estar mesmo é dentro de si. O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil é filme desconcertante e inaugural no formato longa - antes, dirigiu o curta Infância (1965) - de uma das filmografias mais sensacionais e deliciosas do cinema nacional.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

Nenhum comentário:

Postar um comentário