sexta-feira, 5 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (249)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

249 - Reflexões de um Liquidificador (2010), de André Klotzel ****


Politicamente incorreto por natureza, o humor negro não é tão utilizado no cinema brasileiro como deveria. Daí que se deparar com esse Reflexões de um Liquidificador faz gáudio imediato na alma não só pelo uso inteligentíssimo do gênero, como também por trazer de volta às telas o cinema sempre talentoso do paulista André Klotzel. Como Suzana Amaral e seu A Hora da Estrela (1985), Klotzel também estreou em longas no mesmo ano e fazendo barulho com o igualmente inesquecível Marvada Carne. E como Amaral, ainda não realizou outro filme que nem, ainda que ambos desenvolveram trajetória de interesse sempre - dela: o terno Uma Vida em Segredo (2001) e o ótimo Hotel Atlântico (2009); dele: o bacana Capitalismo Selvagem (1993) e o assim assim Memórias Póstumas (2001). Com roteiro de José Antonio de Souza, Reflexões de um Liquidificador bota o cujo para narrar os estranhos acontecimentos na casa de uma família de classe média formada pelo casal de comerciantes Germano Haiut e Ana Lúcia Torre. Depois que eles têm que fechar a lanchonete em que trabalham, ele vira vigia e ela dona de casa que redescobre a arte de empalhar animais para fazer um troco ao quebrar a perna e ficar de molho. Certo dia ela escuta o velho liquidificador, que ficou de herança do antigo comércio, chamando por seu nome e, passado o susto, acabam se tornando confidentes. Até que o marido desaparece, ela dá queixa na polícia e o delegado Zecarlos Machado bota o controvertido investigador Aramis Trindade para cuidar do caso. Presença de destaque nos últimos filmes de Sérgio Bianchi, Ana Lúcia Torre tem aqui o papel de sua vida e não desperdiça esse grande momento em um fotograma sequer. Como Elvira ela está absolutamente genial trafegando na linha fina de uma trama que poderia cair facilmente no risível e no ridículo nas mãos de outra atriz sem tamanha verve e precisão. Klotzel é bam bam bam na escolha de elencos - o carteiro Marcos Cesa e a vizinha fogosa Fabiúla Nascimento são também provas disso - e aqui só errou talvez na escolha de Selton Mello para fazer o liquidificador. Como o ótimo ator tem voz inconfundível - e pode ter sido escolhido também por isso - talvez se fosse uma voz marcante, mas desconhecida, o inusitado personagem ganharia outro relevo - ainda que acreditemos piamente no liquidificador, nem sempre dá para esquecer que a voz que estamos ounvido é do ator. Mas isso é apenas um detalhe que incomada às vezes, ainda que não chegue a comprometer o resultado, Ao mostrar a absurda situação com tintas absolutamente realistas, possíveis e cotidianas, chave perfeita para que o melhor do humor negro se instale, Klotzel mostra que está em grande forma. Definitivamente é cineasta que não pode, e nem deve, ficar tanto tempo longe das telas.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. Adilson, achei que o filme tem alguns deslizes, sobretudo a perda do punch da piada principal, lá pelas tantas. Mas ainda assim é inegável o talento do Klotzel, que vem demorando quase uma década por longa-metragem. Beijos, querido

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  2. Pek,

    Concordo contigo. Klotzel não pode ficar tanto tempo sem nos brindar com um filme. Já ouvi e li críticas bem favoráveis a este filme. Inusitado um liquidificador ser o confidente de alguém. Vou ver na primeira oportunidade.

    Bjs

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  3. Andrea,
    É mais inacreditável ainda quando pensamos em um ou outro que está por aí a realizar tantos filmes e sem chegar aos pés do talento do Klotzel.
    Lamentável.
    Bjs

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  4. Noel,
    Não deixe de ver.
    É mesmo muito bacana.
    Bjs

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