sábado, 3 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (150)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

150 - As Cartas Psicografas por Chico Xavier (2010), de Cristiana Grumbach ***1/2

As Cartas Psicografadas por Chico Xavier tem direção de Cristiana Grumbach, cineasta que tem trajetória próxima à Eduardo Coutinho, de quem foi assistente de direção em muitos filmes - Babilônia 2000 (2000), Edifício Master ( (2002), Peões (2004), Jogo de Cena (2007). O documentário aborda nove famílias, sempre com o foco em pais que perderam filhos - mãe ou mãe e pai - e foram procurar respostas e conforto no médium Chico Xavier. Diz o senso comum que perder um filho é a dor capital, e o pranto dessas famílias mesmo 10, 20, 30 anos depois da perda parece referendar o dito. Cristina Grumbach, de certa forma e ainda que diferente, dá continuidade ao recorte de seu filme anterior, o belo Morro da Conceição (2006) - e As Cartas só não leva quatro estrelas porque Morro se destaca mais. Se nele dá-se a busca pela memória daquele local histórico do Rio de Janeiro a partir dos relatos e sentimento de nostalgia de moradores anciãos, aqui essa memória se instaura sobretudo pelo sentimento de dor e pela história de cada um. Lá o que o tempo de outrora deixou em cada um deles, aqui a lacuna e, ao mesmo tempo, eterna presença - sobretudo pelas cartas - daqueles que se foram para aqueles que ficaram. Em As Cartas Psicografadas por Chico Xavier a diretora fez um filme de proposta corajosa. Não há recursos melodramáticos, não há música grandiloqüente e nem abuso no uso de fotos dos mortos. Quase sempre a câmera está parada com foco nos entrevistados. Aparentemente, dar voz à dor daquelas pessoas parece ser o mais importante que qualquer investigação de linguagem cinematográfica. Mas é só aparente, pois em conversa com a cinesta, ela disse que essa estética está ali para mostrar a precariedade do cinema. A cada relato, a imagem de um sofá ou de uma cadeira desocupada fica congelada durante 30 segundos, o que seria, segundo ela, uma referência ao tempo de uma publicidade. É também uma aposta em silêncios em contraposição ao efeito espetáculo e à alta velocidade tão presente no cinema atual. Essa opção estética não estabelece um contato muito fácil para o público, já que o tema pode não ser tranquilo para todo mundo e nem a forma como ele é exposto. Porém, para quem se deixar seduzir, um olhar mais atento perceberá que ainda que os casos sejam parecidos, nenhuma dor é igual e cada luto é particular. Pode estar aí a grandeza do filme.

ADENDO
Cristiana Grumbach, carinhosamente, comenta sobre eu ter escrito que o filme não facilita o contato com o público e me pergunta "que público?", já que o filme foi mostrado até agora só na Cineop. Ela tem toda a razão, pois da forma como está no texto não ficou muito claro o que quis dizer. E quando digo que não facilita para o público é em função da ausência dos elementos manjados e facilitadores indicados um pouco acima: economia, ou mesmo ausência, de recursos apelativos - e que, infelizmente, parece-me - não há nenhuma certeza arrogante aí - grande parte do público aprecia visto alguns sucessos que rezam essa cartilha. É nesse sentido que quis dizer e não, necessariamente, dizer do público em si - mesmo porque o da Cineop não significa amostragem definitiva, nem para esse ou para qualquer outro filme exibido. A fala está mais como mérito que demérito, já que acredito não seja função do cinema facilitar a vida de ninguém.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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