sexta-feira, 28 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (125)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

125 - Floradas na Serra (1954), de Luciano Salce ****

O cinema registrou para sempre algumas de nossas Grandes Damas do Teatro, como Dulcina de Moraes em 24 Hora de Sonho (1941), de Chianca de Garcia, e Alda Garrido em Dona Xepa (1959), de Darcy Evangelista. E foi assim também com Cacilda Becker nesse Floradas na Serra, de Luciano Salce. Última e tumultuada produção da primeira fase da Vera Cruz, o filme é um melodrama dos melhores feitos por nosso cinema. A história é prato cheio para o gênero, com o amor acontecendo inesperadamente na vida de dois tuberculosos, Cacilda e Jardel Filho, e tendo como cenário uma pensão de luxo e um sanatório público na Campos do Jordão, cidade propícia para a cura da doença pelo verde abundante- e é bom frisar que na época a tuberculose era um mal sem tantos recursos de cura como temos hoje. Adaptado do belo, primeiro e premiado livro de Dinah Silveira de Queiróz, o filme tem roteiro assinado pelo roteirista e cineasta Fabio Carpi, um dos italianos que a Vera Cruz recrutou e que décadas depois dirigiria o comentado O Quarteto Basileus, já na volta à Itália. Tanto o roteiro de Carpi quanto a direção elegante de Salce fogem das tintas pesadas comumente presentes em muitos melodramas, a não ser aqui e acolá, como na personagem Belinha de Gilda Nery. Cacilda Becker tem a postura trágica que assenta como uma luva para a sua impulsiva e geniosa Lucilia. A trama gira em torno dela, uma mulher que ao visitar Campos do Jordão resolve ficar por lá para descansar e descobre quase sem querer que está tuberculosa. O que em princípio seria uma promessa de vida de paz em meio às floradas se revela, depois da doença, como prisão tediosa. As coisas mudam com a chegada de Jardel Filho, também doente, mas que por ser pobre se interna no sanatório público, enquanto ela, rica, fica retirada na pensão de Marina Freire. Lucília se agarra a Bruno como se agarrasse à própria vida, mas como todo bom melodrama, a consumação do amor pode ser dolorosa ou até não se concretizar - se não há engano, no livro o destino dos dois é ao contrário, não? Cacilda Becker se empenhou pessoalmente na conclusão de Floradas na Serra, cuja produção foi interrompida várias vezes, reflexo dos últimos momentos difíceis da Vera Cruz. Sua entrega é total e isso pode-se presenciar assistindo ao filme e constatando que é mesmo impossível desviarmos os olhos dela. Não só porque está presente de ponta a ponta, mas porque seu magnetismo é mesmo impressionante. Ainda que tenha ótimas presenças de Ilka Soares, Marina Freire, Jardel Filho e John Herbert, além de Gilda Nery e uma Célia Helena novinha e quase irreconhecível, nossos olhos só abandonam Cacilda quando a GRANDE Lola Brah surge com sua habitual elegância e altivez, aqui em delioso personagem, Olga, uma das pacientes e que adora tomar todas - não à toda recebeu alguns prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante, valendo os de Melhor Atriz para Cacilda e outros de coadjuvante para Gilda Ney. A direção de fotografia de Ray Sturgess e a câmera de Jack Lowin e Sidney Davies ajudaram Salce a contar de forma magistral essas história de amor entre sãos e doentes, o que para os últimos era quase que sinônimo de condenados na época, e fazer de Floradas na Serra um dos marcos do cinema nacional e despedida em grande estilo das produções da primeira fase da Vera Cruz.


Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Pek,

    Acho este filme maravilhoso! A primeira vez que o vi, em VHS, estava com pneumonia (rsrsrsrs).

    Bjs

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  2. Noel,
    Que belo estado para ver o filme, heim?
    Como a Lucilia, também estava debaixo das cobertas? rsrs
    Bjs

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