sábado, 8 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (111)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

111 - Stelinha (1990), de Miguel Faria Jr *****

Quando Ester Góes, logo no início do filme, pede ao garçom para lhe servir mais um copo de gim, já somos imediatamente fisgados pela personagem e a atriz mostra que o show só está começando. Sim, porque é um verdadeiro assombro o que Ester faz, de ponta a ponta do filme, com essa cantora do rádio decadente a um passo da cirrose e da total desestruturação emocional. Lançado em 1990, época em que o collorido só estava na canastrice do presidente-jet ski, já que o cinema nacional estava sendo salgado em terra arrasada, esse Stelinha faturou um montão de prêmios no Festival de Gramado - Filme do Júri, da Crítica e Popular; Direção, Roteiro; Atriz; Música Original; Som; Edição de Som; Figurino; Ator Coadjuvante (Emiliano Queiróz); Atriz Coajuvante (Stela Freitas) - mas teve lançamento pífio. Uma pena, pois seria abre alas em grande estilo da década, não fosse o desesperador contexto da época em que a produção de cinema brasileiro quase foi a zero. Miguel Faria Jr, diretor do inesquecível República dos Assassinos (1979), faz um mergulho lancinante no drama da personagem sustentado pelo notável roteiro de Rubem Fonseca. Stelinha foi, na Era do Rádio dos anos 50, a Rainha do Brasil. Mas se a Bossa Nova preparou o enterro dessa geração e o tropicalismo cobriu de terra, coube ao rock jogar a pá de cal em um gênero que revelou nomes absolutamente geniais como Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Linda e Dircinha Batista, só para ficarmos nas grandes damas e possíveis companheiras de época da ficcticia protagonista. E se em outros filmes, e, sobretudo, na televisão quase sempre focalizaram o glamour dessa Era de Ouro, esse Stelinha vai fundo na decadência, solidão, frustração e desespero artístico e existencial de quem teve que sair de cena para perambular quase anônimo pela geografia que antes era seu reinado. Em mais uma noite de bebedeira, Stelinha é socorrida da sarjeta por Eurico - Marcos Palmeira, vocalista de uma banda de rock em crise conjugal com a esposa Chris - Lília Cabral. Sugestionado por reminiscências familiares - sua mãe era fã da estrela - ele resolve trazer a cantora de volta à ribalta, ao mesmo tempo em que vai se envolvendo mais e mais com ela. Passados 20 anos de sua realização, Stelinha continua intacto em grandeza e retrato pungente de reis e rainhas que perderam o reinado. Para que essa geração fosse sucedida por outra não houve nenhuma passagem de bastão, mas muito ranger de dentes. E só aos poucos os devidos valores foram reassentados, porém sem nunca mais ocuparem lugar nem próximo ao que tinham, quando eram aplaudidos pela corte, recebidos por Presidentes, e idolatrados por fãs-clubes espalhados pelo país inteiro. E é raio x pungente que Estelinha faz desses deuses populares destronados, na pele de uma atriz que sempre foi grande, mas aqui especialmente em estado de graça. Adriana Calcanhoto, que ainda não era conhecida do grande público na época, interpreta as músicas que Ester dubla.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. ADORO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Me lembro quase de cada fala desse filme!! A dublagem da Adriana Calcanhoto.... Boa dica pra rever no final de semana!

    Abração!

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  2. Meu caro,
    Esse filme é ótima opção sempre.
    Um tesouro guardado no cinema nacional dos anos 90.
    Um abraço

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  3. Pek,

    Ester Goes é tudo neste filme!!!

    Bjs.

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  4. Também acho.
    É performance para prêmios nacionais e internacionais.
    Pena que o filme foi tão mal lançado naquela época tenebrosa.
    Bjs

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