quinta-feira, 29 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (102)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

102 - As Melhores Coisas do Mundo (2010), de Lais Bodanzky ****

Todos nós relembramos e proclamamos nossa infância quase sempre banhada em luz dourada no melhor estilo cartão-postal de novela das seis ou com ares daquelas composições solares - ou redação, para as gerações posteriores - que éramos obrigados a fazer sobre as férias nas voltas às aulas. O que é, lógico, uma falácia, pois sabemos intimamente que basta uma deitadinha em um divã qualquer para vermos o quanto de som e fúria está plantado e germinado ali. Só que com a adolescência a história é outra e a gente passa ao largo como se jamais tivéssemos sido um deles um dia também. E é um pouco revisitar essa fase de espantos, diversões, descobertas e dores profundas que o novo filme de Laís Bodanzky nos permite, pois se há um grande mérito é que ele dialoga intimamente com o público que retrata, e ao mesmo tempo desperta o interesse em quem já passou dessa fase. Com As Melhores Coisas do Mundo a cineasta fez um giro de 180 graus, porque se no filme anterior, o belo Chega de Saudade, ela focalizou a terceira idade, agora chegou a vez dos chamados aborrescentes. E sob a lente de Laís, esses garotos e garotas podem ser tanto camaradas como infinitamente cruéis uns com os outros e também com os adultos que os cercam. O filme conta a história de Mano e de personagens que giram à sua volta, pais, o irmão, a turma do colégio, a melhor amiga, a primeira paixão. Amor, preconceito, homossexualidade, intolerância, amizade e violência são alguns temas que estão lá, com ênfase no preconceito, ou conceito, à homossexualidade, já que um deles tem pai em relação gay. É acerto da diretora e do roteiro de Luis Bolognesi - inspirado nos livros sobre Mano de Heloisa Prieto e do jornalista Gilberto Dimenstein - não dourar a pílula do olhar que esses meninos reservam para o tema, pois a sessão de cinema lotada deles não nos deixa esquecer um minuto sequer, já que bastava a homossexualidade do pai do garoto vir à boca de cena para se ouvir expressões nítidas de asco, como a indectível "ai, que nojo!". No elenco, destaque para três jovens/adolescentes: Fiuk, que ganha ais da platéia em cada aparição ou quando mostra a barriga tanquinho - e nós mais velhos fazemos coro, não por ele, mas para as reminiscências do pai Fábio Jr, que era uma coisa dos deuses em época de juventude, antes de virar meio queijo-canastra atualmente; Gabriela Rocha, a amiga-cabeça e desencanada e alvo perfeito para incorporar versão feminina de Daniel na cova dos leões; e, sobretudo, Francisco Miguez, que faz de seu Mano personagem de carne e osso com talento e carisma, e que nos desperta estímulos secretos e inconfessáveis. Parte da crítica anda chiando pois acusa Laís de tranformar essa panela de pressão - adolescentes e os novos modelos de família -em frigideira em banho-maria de final feliz. Mas basta um olhar um pouco mais atento para perceber que todo aquele rolo compressor foi sequer empurrado para debaixo do tapete, e que no aparentemente feliz há apenas o que todos sabemos hoje e que aqueles adolescentes saberão logo a seguir: a vida continua e a felicidade não virá tão fácil. O pesadelo foi só adiado.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. Tem um pessoal que pegou pesado com o filme. Eles não entenderam nada. O filme é ótimo!
    Bela resenha, meu amigo.
    Um abraço.

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  2. Pois é meu amigo, também gostei muito do filme e não entendi tanto grito contra.
    Um abração

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  3. Tive a mesma impressão, meninos. O filme mostra o que é, a imbecilidade do meio, os escapismos, os diferentes. Ok, a dupla fica no final, mas todo o resto já tinha sido contado. Bjs

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  4. Andrea,
    Acho que há muita má vontade por aí, e vejo isso cada vez mais pelo cinema da Laís.
    A cada vez que digo que adoro o Chega de Saudade, por exemplo, sinto ares de deboche sussurrado.
    Um beijo

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