terça-feira, 7 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (275)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

275 - Ritmo Alucinante (1975), de Marcelo França ***

Muito antes do cigarro ser banido e estampar em seus maços situações abjetas de doenças e tragédias, a indústria da tabacaria viveu momentos de glamour, com direito de propagação cult pelo cinema, publicidade moderna, e lugar garantido em variados eventos de massa - basta dar uma olhada na reprise atual da novela Vale Tudo (1988/1989 - Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères), em que os personagens soltam baforadas o tempo todo, para se ter uma idéia de sua aceitação em tempos atrás. E foi a Souza Cruz, do mítico Hollyood, que patrocinou o grande evento de rock no Brasil em 1975, com edições posteriores na década de 1980 e 90 - até que foi proibido por lei a difusão de eventos culturais patrocinados pela indústria. O Hollywood Rock, durante sua trajetória, apresentou em sua programação atrações nacionais e internacionais com desfiles de astros e bandas como Rita Lee, Erasmo Carlos, Rolling Stones, Pretenders e Supertramp. A primeira edição, pilotada por Nelson Motta e registrada nesse Ritmo Alucinante, de Marcelo França, reuniu apenas atrações nacionais: Rita Lee & Tutti-Frutti, Vimana, O Peso, Erasmo Carlos, Raul Seixas,Celly Campello e Tony Campello. O interesse maior dessa produção é pelo registro histórico: uma Rita Lee recém-saída de Os Mutantes; O Vímana de Lulu Santos, Lobão e Ritchie; o retorno de Celly Campello. Alguns anos depois, em 1980, Rita Lee bradava zombeteira e cáustica em Ôrra Meu - no disco-sensação Lança Perfume - que rockeiro brasileiro sempre teve cara de bandido. Aqui, quase todos são cabeludos - Lulu Santos, inclusive - muitos de barba, em linha direta com a estética hippie mais sexo, drogas e rock´n roll que paz e amor. Mas para lá dessa importância de registro, há momentos ótimos. Quais? Uma entrevista de Erasmo e Celly com Scarlet Moon, que indaga mais de uma vez se eles consideram brasileira a música que fazem - mesmo sendo pós-Tropicalismo não se pode esquecer que as searas MPB e rock ainda eram bem demarcadas; Celly Campelo, a rainha precursora do rock brasileiro, com seu figurino cândido entoando Estúpido Cupido - Celly - junto com o irmão Tony Campello - trouxe o rock para o país em 1958, explodiu com Estúpido Cupido em 59, mas abandonou a carreira em 62 para se casar; com essa apresentação no Hollywood Rock mais o sucesso da novela Estúpido Cupido (1976/77), de Mário Prata, ela tentou retomar a carreira, mas não conseguiu; Rita Lee e sua banda Tutti & Frutti interpretando Splish Splash, versão de Erasmo e sucesso de Robeto Carlos; e, sobretudo, apresentação acachapante de Raul Seixas, que, em plena ditadura, brada os mandamentos de sua - e de Paulo Coelho - Sociedade Alternativa, entoa seus versos contestadores e postura idem, em imagem mais genuinamente roqueira que todos. Ritmo Alucinante tem cenas curiosas, pois a câmera está quase sempre voltada para o palco e para a performance dos astros, mas sempre se ouve a ovação da platéia. No entanto, quando a câmera se vira para ela, vê-se jovens mais bem-comportados do que se espera, ainda que sintonizados com a época.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (160)



Jean Harlow.






Nu!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (274)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

274 -Vereda da Salvação (1965), de Anselmo Duarte *****

Toda vez que se fala em história da teledramaturgia, nomes como Janete Clair, Ivani Ribeiro e Cassiano Gabus Mendes são sempre apontados como destaques - e com toda a razão. Mas dentre aqueles que foram muito além do folhetim - raiz primordial do gênero - é impossível não se lembrar de Dias Gomes, Walter George Durst e Jorge Andrade, talvez três dos autores mais representativos de apurado olhar crítico, político e social dentro desse universo. Não à toa, Gomes e Andrade são também dramaturgos de alta estirpe. E foi na dramaturgia de Jorge Andrade que Anselmo Duarte foi beber para fazer esse Vereda da Salvação, filme imediatamente posterior ao sucesso internacional O Pagador de Promessas (1962) - até hoje nossa única Palma de Ouro no Festival de Cannes. Mais de uma vez, Anselmo disse que a realização desse filme foi para provar para a turma do Cinema Novo que sabia fazer um filme complexo e de direção sofisticada, já que os cinemanovistas - provavelmente enciumados - apontavam o dedo em riste para a ingenuidade e o academicismo que viam em O Pagador. Quando a primeira montagem da peça estreou foi sucesso de crítica e não de público, mas o cineasta buscou o mesmo Raul Cortez do elenco dos palcos para o filme - para viver sua mãe, trocou Cleyde Yáconis por Lélia Abramo. Aqui, ele assinou o roteiro e contou com a presença de Andrade na adaptação e nos diálogos. Na trama, camponeses vivem acuados em terras cada vez mais demarcadas, sobrando para eles espaço exíguo para tirar o sustento de suas famílias. José Parisi é o líder, mas acaba perdendo terreno para Raul Cortez, que insurge como líder espiritual radical, que promete para todos um lugar seguro no céu, desde que se livrassem de seus pecados. Instala-se então uma histeria coletiva, com direito à violência para aqueles que não aderirem à nova ordem, além de assassinatos de crianças inocentes tomadas por demônios. Se Anselmo Duarte realmente queria mostrar que entendia do riscado - um exagero, pois já provara isso desde a estreia como diretor em Absolutamente Certo (1957) - ele realmente conseguiu. Vereda da Salvação é filme impactante com direção precisa e sofisticada - planos-sequências de tirar o fôlego, câmera focalizando personagens e cenas de ângulos criativos, e fotografia acachapante. Muitas vezes o mostrado é visto de cima, não só apequenando as misérias daquele povo, mas como também se Deus olhasse para aquilo tudo, não acreditasse no que visse e se retirasse. Daí, sobra ora para nós, ora para os fuzis apontados, testemunhar e aniquilar aqueles brados inúteis. Raul Cortez está soberbo em personagem que escamoteia a sexualidade reprimida - homossexualidade, edipianismo, rancor - e dá vazão a seu desatino em fanatismo religioso mortal, acreditando por fim ser ele o próprio Cristo. O elenco feminino é arrebatador, oferecendo nuances de postura e olhar para o que se desenrola, vivido por Lélia Abramo, Esther Mellinger, Maria Isabel de Lizandra, Aúrea Campos e Margarida Cardoso. O cineasta ainda se vale de figurantes completamente críveis, todos eles camponeses de verdade. Mais uma vez, Anselmo Duarte foi negligenciado em sua época, pois realizou fime arrebatador, mas fracasso de público. Fora do país, recebeu inúmeras críticas positivas e quase venceu o Festival de Berlim - perdeu para Jean-Luc Godard com Alphaville. Durante sua vida toda, ele disse que Vereda da Salvação foi incompreendido, mas que é seu melhor filme, a melhor coisa que fez em toda a sua vida. Assistindo uma, duas, três, ou quantas vezes for, fica realmente difícil não concordar com ele. Prêmios de Melhor Fotografia para Ricardo Aronovich e Menção Honrosa para Ester Mellinger e Raul Cortez na I Semana do Cinema Brasileiro de Brasília; Governador do Estado de São Paulo de Melhor Diretor e Melhor Música para Diogo Pacheco; Prêmio Cidade de São Paulo de Melhor Ator para José Parisi e Melhor Roteiro.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sábado, 4 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (273)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

273 - Positivas (2009), de Susanna Lira ****

Existem alguns títulos que são muito felizes, pois conseguem sintetizar toda a idéia que há por trás de um filme. Como é o caso desse Positivas, de Susanna Lira, que focaliza um grupo de sete mulheres soropositivas que vivem em locais diferentes no país. E não é so pela menção direta à Aids, mas também porque todas elas são completamente positivas frente à doença e à vida, militando para dizimar o preconceito que envolve os portadores do HIV e os doentes. Elas vivem em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, fazem parte do movimento Cidadãs Posithivas, e foram contaminadas pelos seus maridos, namorados e companheiros. Convivendo com o vírus há 8, 12, 15 anos, mostram que ainda que seja fatal, diagnóstico de Aids não é sinônimo de morte e que é possível levar uma vida com a dignidade resgatada em meio a tanto preconceito. Elas têm família, uma namorado, outra busca forças na fé e outras se divertem, cantam e dançam. E todas fazem de suas experiências militância, engajadas em campanhas de conscientização e de apoio, pronunciando palestras, fazendo corpo a corpo na rua para panfletar, e organizando ações do movimento. O documentário dá voz para que contem suas histórias, trazendo também para a cena familiares, amigos e companheiros, além de focalizar suas ações de conscientização. Ainda que os coquetéis prolongaram a vida dos infectados, todas deixam claro que seu uso não é um mar de rosas, pois há efeitos colaterais, além da exigência de uma discplina rigorosa no tratamento. Daí, alertam para o uso do preservativo, já que, inclusive, com os estimulantes sexuais, as relações também se prolongaram, com idosos também contaminando e sendo contaminados. E chamam a atenção para o principal motivo das mulheres se tornarem soropositivas: o tabu da exigência da camisinha em um casamento - "amor não imuniza", reforçam. Há relatos trágicos, como a de uma que se contaminou com o marido depois de 31 de casados; a de outra que foi se casar só aos 40 anos para se separar três meses depois e se decobrir contaminada pelo marido; e a da mãe que foi afastada dos netos pela filha. Só que o que poderia render relatos melodramáticos - e com toda a razão - jamais se resvala por essa chave, pois são guerreiras e, ainda que com dor e sofrimento, resolveram fazer do limão uma limonada. E, mais que isso, fazer de suas vidas uma postura política. Positivas é documentário que realmente tem o que dizer, e a direção de Susanna Lira é sempre respeitosa, sem jamais ser subserviente. Vencedor do Troféu Redentor de Melhor Documentário pelo Júri Popular no Festival do Rio, o filme vem ganhando o país e o mundo, com exibições em vários estados e em festivais na França, Colômbia, Argentina e Uruguai.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (91)


Natalia do Valle.





Salve Salve!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (272)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

272 - Vida de Balconista (2009), de Cavi Borges e Pedro Monteiro **1/2

Sorria, você está sendo filmado! Esse aviso está em todo lugar: nas lojas, no supermercado, no elevador. E é sob essa câmera, que parece ver tudo e nos deixar um tanto acuados, que a trama desse Vida de Balconista se desenrola - com direito à angulação característica e seu protagonista falando diretamente para ela. O filme é produzido pela Cavídeo Produções, originada de uma locadora descolada no Rio de Janeiro - a Cavídeo - pilotada por Cavi Borges e que funciona como nos bons tempos dos cineclubes: é possível encontrar filmes raros, curtas, e sempre dicas de quem conhece e ama o ramo. E não fica só nisso não, Cavi é também produtor e cineasta, com vários curtas no currículo e o longa L.A.P.A - co-dirigido com Emílio Domingos - sobre o universo do Hip Hop. Aqui, Cavi realiza mais um longa, dessa vez uma ficção, e outra vez dividindo a direção, agora com Pedro Monteiro - os dois também assinam o roteiro. O ator Mateus Solano, que ficaria depois conhecido nacionalmente com o sucesso da minissérie Maysa (2009) e da novela Viver a Vida (2009/2010), ambas de Manoel Carlos, é o protagonista. Ele é balconista do título, que durante um dia de trabalho recebe clientes com os mais variados perfis: o cinéfilo que não quer que a namorada, fã de Van Damme, pegue filme-porrada na sua ficha; a gordinha carente que quer mais carinho e atenção do que qualquer filme; o pernóstico que quer assistir títulos de países como Iraque e Estônia e nunca leva nada; o fiscal que quer intimidar no grito; a senhora adepta de hidroginástica que quer filme violento para depois tomar calmante e sonhar com seus ídolos; e por aí vai. Filmado em uma única madrugada em 2008 e tendo como cenário a própria locadora, Vida de Balconista é filme divertido que se utiliza do universo pop para construir suas referências estéticas e simbólicas - Quentin Tarantino, que foi balconista de locadora antes de cineasta e que trouxe muito de seu universo fílmico dali, é citado mais de uma vez, claro que de forma não necessariamente para se levar a sério, mas levando. E algumas citações são ótimas, como a brincadeira com o Cheiro do Ralo (2006), de Heitor Dhalia, com Paula Braum - atriz do filme e esposa de Solano, aqui como sua namorada. Mateus Solano tem carisma suficiente para segurar a peteca e dar um prumo para o desfile de personagens que poderiam cair facilmente na caricatura. Mesmo porque está à vontade no papel que desempenhou na série original concebida para exibição no celular. Vida de Balconista é filme que se assiste com prazer, ainda que ao final fique a sensação de que faltou algo, talvez pela escolha do foco nas situações do que propriamente nos personagens - o que bem na verdade faz até sentido, pois como o roteiro é inspirado nas situações acontecidas na locadora, a alta rotatividade de clientes não possibilitaria, necesserariamente, mais que isso.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (271)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

271 - O Poderoso Garanhão (1973), de Antonio B. Thomé *1/2

O Poderoso Garanhão não é o único filme de ficção com Waldick Soriano como ator - o anterior é Paixão de um Homem (1972), dirigido por Egídio Eccio; e nos últimos anos de vida, o cantor e compositor foi tema do documentário Waldick, Sempre no Meu Coração, que marcou a estreia da atriz Patricia Pillar como cineasta. Nascido no sertão da Bahia, Waldick debutou em discos em 1960, mas foi na década de 70 que atingiu o auge como um dos mais amados e controvertidos ídolos da música popular - seu maior sucesso é a canção Eu Não Sou Cachorro Não, lançada em 1972, que não só causou sensação nas rádios como também caiu na boca do povo e se tornou seu cartão de visitas. Além da música, Soriano tinha paixão também pelo cinema, e foi na figura do mítico Durango Kid que buscou inspiração para seu visual impactante de roupa preta e os indefectíveis óculos escuros. Nada mais apropriado para com essa pinta protagonizar filmes no gênero faroeste, como nesse O Poderoso Garanhão. Aqui ele é o hedeiro de uma fazenda, que volta para casa depois de 10 anos, após seu pai ser assassinado. O que ele não sabe é que o fazendeiro vizinho está de olho nas suas terras, e com sua inesperada chegada aposta todas as fichas na filha, que fora namoradinha dele na infância, para conseguir seu intento. Mas o confronto se dará mesmo é entre ele e o perigoso capataz do futuro cunhado, verdadeiro assassino de seu pai. Como no filme de Eccio, aqui também Soriano faz par romântico com Maria Vianna, que deixou de ser a lembrança infantil para personificar um bela mulher que adora tomar banho de cachoeira nua. Como a presença de mulheres despidas era fundamental no cinema da Boca, além dela há também a famosa zona da cidade, onde mais algumas outras mostram os peitinhos na cama ou mesmo na soleira da janela - mas tudo de forma muito pudica e bem distante dos decibéis de erotismo que as produções futuras iriam incorporar. O tipo machão de Soriano cai bem para o papel, ainda que seu personagem pedisse um ator mais jovem e ele já estava quarentão. O elenco coadjuvante conta com Adélia Coelho - a prostituta que sonha com o amor do herói - e com Heitor Gaiotti, parceiro habitual de Tony Vieira, e que nada de braçada no gênero. O Poderoso Garanhão - outro título apelativo e cheio de segundas intenções não confirmadas - faz referência ao faroeste americano e ao spaghetti italiano, com direito à gigantesca pedra ficanda em ampla planície e aos acordes de Ennio Morricone. Mas nem o argumento e roteiro de Luis Castellini e nem a direção de Antonio B. Thomé - e tampouco a atuação de Waldick - conseguem empolgar. Fica como curioso registro no cinema - além dos outros filmes citados - de um ídolo realmente popular.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (270)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

270 - Meninas (2006), de Sandra Werneck ***

A carioca Sandra Werneck é importante cineasta com trabalhos destacados já na década de 1970. Ou seja, muito antes do boom que comecaria a se delinear partir dos anos 80 e que chegaria ao auge na Retomada dos 90 para cá, quando muitas mulheres conquistaramm lugar merecido atrás das câmeras como diretoras - não só mais de curtas, mas também de longas. O começo foi como documentarista, mas é na ficção que vai ficar nacionalmente conhecida - Pequeno Dicionário Amoroso (1996); Amores Possíveis (2000); Cazuza - O Tempo Não Pára (2004 - co-dirigido com Walter Carvalho). Com esse Meninas ela retoma o documentário ao focar sua lente para quatro garotas que moram nos morros cariocas. Além da geografia, elas têm em comum o fato de estarem grávidas na adolescência - Evelin - 13 anos; Luana - 15; Edilene - 14; e Joice - 15. Com profundo respeito pelo seu objeto, o filme dá voz a essas meninas que ainda há pouco brincavam de bonecas e agora têm na barriga - e depois nas mãos - filhos que mudarão suas vidas e abreviarão, drasticamente, um estágio de suas trajetórias. Meninas acompanha momentos do dia-a-dia delas desde os primeiros meses de gravidez até o nascimento dos bebês, trazendo para a cena também namorados, pais e avós. O pai do filho de Evelin é ex-traficante; Luana diz que planejou o bebê porque queria ter um só seu, já que sempre cuidou da irmã mais nova; já Edilene e Joice esperam filhos do mês pai. O filme já começa acachapante com fila de adolescentes que farão teste de gravidez em posto público e que ao fazê-los colocam os copinhos de plástico com xixi do exame perfilados no balcão. Daí, acompanhamos as quatro focalizadas e o que elas pensam sobre a vida e como ela será com a responsabilidade precoce da maternidade. Adolescentes pobres e grávidas é uma realidade concreta não só nos morros, mas também em inúmeros bairros das periferias das grandes cidades. E não há campanha governamental ou não governamental ou grupos de discussões e de apoio que consigam dar conta dessa sangria - pois é lógico, o buraco é bem mais em baixo. Meninas, de Sandra Werneck, não aponta solução, apenas traz os sujeitos dessa história para a cena. São eles que simbolizam, em carne e sangue, todo um contingente alijado e vilipendiado socialmente. Como se fossem mesmo bucha de canhão para um destino miseravelmente anunciado. O filme faz esse recorte com elegância e sem firulas, olha as meninas e olha também quem e o quê estão ao redor delas sem fazer julgamento moral e que tais. Ali, pelo menos, elas deixam de ser apenas estatísticas - ainda que saibamos que estejam condenadas a própria sorte.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (159)


Carole Lombard.





Nu!